Para Lula, ‘destino do Renan só depende do Renan’.Poucos políticos têm mais interesse em preservar Renan Calheiros (PMDB-AL) do que Lula. O presidente do Congresso é, hoje, um dos mais valiosos e úteis aliados do Planalto. A despeito disso, o presidente da República afirma, em privado, que a capacidade do governo de socorrer o amigo é limitada. Nesta terça-feira (29), em conversa com um auxiliar, Lula disse: “O destino do Renan só depende do Renan”. De acordo com o raciocínio de Lula, não há articulação capaz de socorrer o senador se ele próprio não for capaz de contrapor às acusações que permeiam o noticiário um lote de explicações convincentes. Lula afirma, em tom de lamento, que vigora na política brasileira o fenômeno da inversão da prova. Na Justiça, compara, cabe ao acusador provar a desonestidade do acusado. Na política, é o acusado quem tem de provar que é inocente. “É injusto”, diz o presidente, “mas é assim”. Lula disse que fará o que estiver ao seu alcance para ajudar Renan. Em público, já declarou que considera o senador inocente, até prova em contrário. Mas afirma que qualquer esforço será vão se Renan não for capaz de se autodefender. A posição do presidente é compartilhada pela cúpula do PMDB. A direção do partido de Renan concluiu que, do ponto de vista institucional, não há o que fazer para acudir o presidente do Congresso. Por ora, a única articulação em curso é patrocinada isoladamente pela bancada de senadores do PMDB. O movimento é comandado por Roseana Sarney (MA), líder do governo no Congresso, e por Romero Jucá (RR), líder de Lula no Senado. Arma-se para esta quarta-feira (30) uma reunião na casa de Roseana, para prestar solidariedade a Renan e tentar esboçar um plano de apoio a ele. Entre os líderes partidários no Senado, governistas e oposicionistas, há enorme boa vontade com Renan. Mas há também uma avaliação quase unânime de que o discurso que ele leu no plenário, na segunda (28), foi capenga. Deixou sem explicação a origem do dinheiro repassado a Mônica Veloso antes de dezembro de 2005, quando Renan reconheceu formalmente a paternidade da filha que teve com a jornalista. A situação do presidente do Congresso tornou-se mais delicada depois que o PSOL protocolou contra ele uma representação no Conselho de Ética do Senado. Avalia-se que Renan talvez não consiga se livrar do constrangimento de ter que depor diante do conselho nas próximas semanas. Nesta terça, o próprio Renan reconheceu a um grupo de jornalistas que não tem como provar todas as transferências feitas a Mônica Veloso. Depois, em reunião com um grupo de líderes, informou que seus advogados preparam explicações adicionais. Acha que estarão prontas para divulgação até esta quinta-feira (31). Alguns dos líderes deixaram o gabinete de Renan ruminando o receio de que as novas justificativas não serão suficientes para aplacar o cerco da imprensa. “Se as provas existissem, o Renan as teria exibido no discurso”, disse um dos líderes ao blog. Para complicar, os problemas de Renan não se limitam aos meandros financeiros de sua relação extraconjugal. Há o contencioso da Operação Navalha. Mesmo amigos do senador consideram que têm sido pífias as reações dele à acusação de que estaria vinculado aos interesses da quadrilha das obras públicas. Acham que ele teria de desqualificar publicamente Zuleido Veras, o dono da investigada Gautama. Algo que talvez não tenha condições de fazer sem arrostar o risco de uma retaliação. “O Renan faz, nos dois casos, a defesa possível”, disse ao blog um grão-peemedebista. “O discurso do Senado foi curto, estudado. O problema é que a imprensa cobra dele bem mais do que o possível”. No Congresso e no Planalto, pronuncia-se uma expressão sintomática: “Fato novo”. Há um temor coletivo e reverencial de que, afora toda a encrenca que já assedia Renan Calheiros, surjam novas revelações que comprometam irremediavelmente o seu mandato. Escrito por Josias de Souza, Folha Online. Foto Antônio Cruz, ABr.
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