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quarta-feira, maio 23, 2007

SILAS RONDEAU: "RODOU!"

Investigado na máfia das obras, Rondeau pede demissão.

SÃO PAULO - O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, não resistiu às pressões e entregou seu cargo nesta terça-feira, 22, três dias depois de ser apontado pela Polícia Federal como suspeito de haver recebido, dentro do próprio ministério, R$ 100 mil de propina da Construtora Gautama - a maior beneficiada pelo esquema de desvio de recursos público por meio de fraudes em licitações. Na carta em que pediu demissão, Rondeau diz que deixou o cargo para se defender e que ficará à disposição do presidente.
Por meio de nota, Rondeau destacou que tomou esta decisão "para impedir que o setor energético, fundamental para o desenvolvimento do País, seja prejudicado e que a imagem do governo seja de algum modo afetada". O ministro reafirma "completa e absoluta inocência" em relação às denúncias contra ele. "Na certeza de que tudo será esclarecido, provando a injustiça e a crueldade das mentiras e insinuações divulgadas a meu respeito, que atingiram minha honra".
Rondeau também afirma que "cada segundo que dedicou ao exercício de suas funções foi pautado por valores, éticos, morais e cristão". "Nunca, em momento algum, jamais pratiquei qualquer ato que não fosse orientado pelos princípios essenciais, que sempre nortearam a minha vida, com absoluta honestidade e compostura." Ele também diz, na nota, que sua vida de técnico, "trabalhador, de vida modesta, respeitado no setor elétrico, que escolhi por profissão e ao qual me dediquei inteiramente, tem sido marcada pela lisura e honradez". Em outro ponto da nota, o ministro diz que tudo fez para servir ao governo do presidente Lula e agradece a Deus a oportunidade de tê-lo conhecido (Lula) de perto e com ele trabalhado pela grandeza do Brasil. "É com gratidão que a ele, Lula, dirijo, lamentando profundamente a ocorrência desses fatos."
Antes de reunir-se com Rondeau durante a tarde, ocasião em que discutiu as suspeitas e recebeu a carta de demissão do ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o senador José Sarney (PMDB-AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - padrinhos da indicação de Rondeau para o cargo. O desfecho para o caso já era esperado e eles discutiram, portanto, um sucessor para o ministro Rondeau. Ao saber que o PT está de olho no Ministério de Minas e Energia, Sarney apresentou como candidatos à sucessão de Rondeau os nomes de José Antonio Muniz, ex-presidente da Eletronorte, hoje na iniciativa privada, e de Astrogildo Quental, atual diretor Econômico e Financeiro da empresa. Apesar de não haver confirmação oficial sobre o sucessor de Rondeau no Ministério de Minas e Energia, ao menos interinamente o cargo deverá ser ocupado pelo atual secretário executivo do ministério, Nelson Hubner. Ele é engenheiro, a exemplo de Rondeau, e foi chefe de gabinete de Dilma Rousseff quando ela exerceu o cargo de ministra de Minas e Energia, antes de ir para o ministério da Casa Civil. Sarney já havia pressionado Rondeau. Assim que ele desembarcou em Brasília, na noite de segunda-feira, depois de dois dias de viagem com o presidente Lula pelo Paraguai e Foz de Iguaçu, foi se reunir com o senador, na casa deste, no Lago Sul. O encontro entrou pela madrugada. De acordo com uma testemunha, Rondeau jurou a Sarney que é inocente. E mais: que foi ele mesmo quem forneceu à Polícia Federal a fita com o registro da entrada no prédio do Ministério de Fátima Palmeira, representante da Gautama, que se encontrou com Ivo Almeida Costa, assessor especial do ministro. Nesse encontro, Fátima teria entregue os R$ 100 mil.
Rondeau disse a Sarney que acha a situação absurda, visto que a Polícia Federal está usando contra ele material que o próprio repassou à corporação, a pedido desta. O assessor Ivo Costa, que recebeu Fátima na entrada privativa do ministro, foi preso pela Operação Navalha, da Polícia Federal, que desbaratou um esquema acusado de desvio de dinheiro público e de fraudes em licitações públicas. O assessor especial depôs ontem no Superior Tribunal de Justiça (STJ) - foi solto ao final do depoimento. Ao dar posse ao engenheiro eletricista Silas Rondeau Cavalcante Silva como ministro de Minas e Energia, em julho de 2005, o presidente Lula afirmava: “O Silas tem 30 anos de experiência no setor elétrico. Foi chamado não por minha amizade, ou pela do (José) Sarney ou do Renan (Calheiros), mas por sua competência.” Havia motivos para essa explicação. Aos 54 anos, esse maranhense de Barra do Corda, pai de dois filhos e flamenguista desde criancinha é, além de grande conhecedor de sua área, um curinga importante nos movimentos de Sarney - e, mais recentemente, também de Renan. Por três décadas, desde que se formou pela Universidade Federal de Pernambuco, ele foi subindo de cargos médios para o topo em órgãos como a Companhia de Eletricidade do Maranhão, a Manaus Energia e a Eletronorte. Presidiu a Eletrobrás de 2004 a 2005, quando sucedeu Dilma Rousseff no ministério. Sua fidelidade ao clã Sarney o levou ao Maranhão, na campanha de 2006, para inaugurar um projeto do Luz para Todos. Repetiu a dose no Amapá, onde a vitória de Sarney parecia ameaçada. Sua escolha foi, ela própria, uma clara recompensa a Sarney: na ocasião, o ex-presidente não havia conseguido emplacar no ministério, como prometido, a ex-governadora Roseana Sarney. Estadão.

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