Numa troca de telefonemas que entrou pela madrugada,
a cúpula do DEM agendou para esta quarta-feira (27) uma reunião com o vice-presidente do Conselho de Ética do Senado. Vem a ser Adelmir Santana (DF), ele próprio um filiado do ex-PFL. Assumiu interinamente a condução do processo contra Renan Calheiros a partir da renúncia de Siba Machado (PT-AC) à presidência do conselho. O plano do DEM é instar Adelmir a convocar para hoje mesmo uma sessão do Conselho de Ética para a escolha de um novo presidente. “Para nós, interessa que a eleição se dê imediatamente”, disse ao blog o senador José Agripino Maia (RN), líder do DEM.
Tenta-se impedir que a renúncia de Sibá, insinuada na véspera e
confirmada na noite desta terça,
se converta numa manobra para travar ainda mais o processo por quebra do decoro parlamentar contra o presidente do Senado. Adelmir Santana (o senador da foto acima, ao lado do réu) encontrava-se em São Paulo quando soube que Sibá pedira o boné. Alcançado pelo celular, foi orientado a voar para Brasília o quanto antes. Espera-se que esteja no Senado já na manhã desta quarta, para a reunião com seus pares do DEM. Os democratas analisavam na noite desta terça a hipótese de
Adelmir tomar algumas providências antes de repassar o comando do Conselho de Ética ao novo presidente, a ser eleito.
Uma das medidas seria a assinatura de um despacho solicitando à Polícia Federal que complemente a perícia nos documentos que compõem a defesa de Renan Calheiros. Argumenta-se que a decisão de aprofundar a análise do papelório já havia sido aprovada pelo conselho, sob Sibá, na sessão de quarta-feira (20) da semana passada. Sibá chegou mesmo a anunciar a formação de um grupo de seis senadores para definir os próximos passos da investigação. Uma das atribuições do grupo seria a de definir as perguntas que seriam formuladas aos peritos da PF.
Resta saber se Adelmir Santana se disporá a assinar tais providências. A exemplo de Sibá, Adelmir é suplente. Assumiu a vaga de Paulo Octávio (DEM-DF), eleito vice-governador do Distrito Federal. Numa fase em que ainda sonhava com a aprovação do relatório de Epitácio Cafeteira (PTB-MA), aquele que propunha o sepultamento do processo sem nenhum tipo de investigação, Renan pediu ajuda a Paulo Octávio para cabalar o voto de Adelmir Santana. O suplente balançou. Mas foi emparedado pela direção do DEM. E parece ter dado meia-volta. Sua posição ainda não foi, porém, submetida a teste. Sibá Machado decidiu renunciar à presidência do conselho depois de constatar que arrostaria sozinho o desgaste de levar à cova um processo pendente de investigação. Antes, tentou forçar o PMDB a indicar um novo relator para o caso. Diante da recusa, reuniu-se duas vezes com a bancada do seu partido, o PT. Verificou que nem o petismo parecia disposto a sair em socorro de Renan. E resolveu pular da canoa antes que a água, que já lhe encobria os sapatos, chegasse aos joelhos.
Dono da maior bancada do Senado, cabe ao PMDB indicar o presidente do Conselho de Ética. Sibá foi alçado ao posto porque os peemedebistas abriram mão, graciosamente, em seu favor. Uma vez eleito, o novo presidente terá de indicar um terceiro relator para o processo. Se esse relator insistir na idéia de levar a voto o relatório Cafeteira, submeterá Renan a uma acachapante derrota. Neste caso, o conselho teria de votar um dos três votos apresentados pela oposição. Aprovando-se um deles, o autor –Demóstenes Torres (DEM-GO), Jefferson Peres (PDT-AM) ou
Marconi Perilo (PSDB-GO)—viraria automaticamente relator. Entre os três, Perilo é o que desfruta de menor taxa de aversão da tropa de choque de Renan. Os aliados do presidente do Senado enxergam no PSDB uma oposição amistosa. Até o final da noite desta terça-feira (26), desinformado acerca da movimentação do DEM, o PMDB tramava aproveitar a renúncia de Sibá para travar o processo que rói o prestígio de Renan Calheiros. Antes de renunciar, Sibá marcara para o final da tarde desta quarta (27) uma nova sessão do Conselho de Ética. Se Adelmir Santana comprar a idéia de manter a reunião, que serviria agora para a eleição de um novo presidente, o grupo de Renan tem dois caminhos: ou tenta eleger um presidente aliado ou nega quorum ao encontro.
Escrito por Josias de Souza, Folha Online, Adelmir Santana na foto matéria, Fábio Pozzebom/ABr.
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