Governo teme a "volta" do mensalão com julgamento de Dirceu
BRASÍLIA - O governo e o antigo Campo Majoritário do PT, corrente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no partido, estão preocupados com a volta da agenda negativa do mensalão, que deve ser ressuscitada no julgamento do ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu. Mais: tanto o Planalto como o grupo de Lula no PT acreditam que o veredicto do Supremo Tribunal Federal (STF), corte encarregada de avaliar se aceita a denúncia do mensalão, vai contaminar o 3.º Congresso do partido, nos dias 31 deste mês, 1 e 2 de setembro, acirrando a disputa entre as tendências petistas e expondo o governo. No momento em que o mapa da correlação de forças no PT indica que o antigo Campo Majoritário recuperou fôlego depois da crise - elegendo 51% dos 936 delegados para o Congresso do partido -, o julgamento dos 40 acusados de envolvimento no mensalão, nesse período, causa constrangimento na seara petista. Apesar da tentativa de Dirceu de exibir apoios de peso para pressionar o STF a absolvê-lo, o governo avalia que sua situação é bastante difícil e quer se descolar dessa agenda de crise. O STF reservou três sessões seguidas, nos próximos dias 22, 23 e 24, para analisar a denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que acusou Dirceu de ser o chefe de uma "organização criminosa" instalada no coração do governo para desviar recursos públicos. Mas no próprio STF ministros já admitem que a leitura do relatório de Joaquim Barbosa, com 380 páginas, pode consumir mais tempo. "É evidente que esse julgamento, na mesma época do Congresso do PT, causará impacto e tende a contaminar o debate sobre os rumos do partido", afirmou ontem Francisco Campos, integrante da comissão organizadora do Congresso, após reunião da Executiva Nacional petista. "Esperamos que facções do PT não se aproveitem disso para fazer a luta interna, até porque a defesa do partido também pressupõe a defesa de nossas principais lideranças." O recado, na prática, é para o grupo capitaneado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, por integrantes da Democracia Socialista e dirigentes do antigo Campo, que ainda pedem comissão de ética para os acusados nos sucessivos escândalos, além da criação de uma corregedoria interna no partido. Representado pela chapa Mensagem ao Partido, o grupo ficou menor do que a expectativa - conquistando 13,78% das cadeiras do Congresso do PT -, mas promete fazer barulho para se contrapor à corrente de Dirceu."A reconstrução do PT é uma necessidade", tem dito Tarso, que, num recuo tático, trocou o termo "refundação" por "reconstrução". "O PT terá de discutir a leveza com que tratou a questão da ética nos últimos anos e mudar o seu estilo de direção." Não será a primeira vez que um fato político externo, com potencial destrutivo, atinge em cheio o partido às vésperas de uma reunião importante. Em 2004, o PT viveu momentos de muito mal-estar quando, na comemoração de seus 24 anos, estourou o escândalo envolvendo Waldomiro Diniz, homem da confiança de Dirceu, com a máfia do jogo do bicho. Vera Rosa, Estadão, Brasília.
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(*) Casa [Lulu Santos]. "(...) Que eu tô voltando pra casade vez/
Que eu tô voltando pra casa/ Outra vez/ Às vezes a tormenta/ Fosse uma navegação/
Pode ser que o barco vire/ Também pode ser que não/ Já dei meia volta ao mundo (...)".
http://www.vagalume.com.br/
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