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terça-feira, outubro 16, 2007

COPOM & INFLAÇÃO DE DEMANDA: TEORIA = PRÁTICA

Debate sobre demanda esquenta Copom

O risco de inflação por conta de um suposto superaquecimento da economia brasileira será o fator crucial para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a nova taxa básica da economia (Selic), hoje em 11,25% ao ano. O Copom reúne-se hoje e amanhã, para definir a nova Selic. Apesar dos alertas do BC e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, a possibilidade de o Brasil enfrentar essa inflação de demanda nem de longe produz unanimidade entre economistas ouvidos pelo Estado.
O professor da USP, Carlos Eduardo Soares Gonçalves, é um dos que identificam indícios de inflação de demanda. Segundo ele, indicadores como o nível de utilização da capacidade instalada - que bateu recorde - e as vendas no varejo sinalizam procura excessiva por bens. "Os indicadores de demanda estão fortes", diz, explicando que o Brasil pode crescer até 4,5% sem acelerar a inflação. Ele reconhece, no entanto, que a elevação dos preços nos últimos meses também esteve relacionada a choques de oferta. "Acredito que a verdade esteja no meio do caminho. Mas não é verdade que não há pressão de demanda, que é tudo preço de alimentos e commodities e que vai ser revertido. Por outro lado, seria falso afirmar que tudo o que está aí é pressão de demanda", resume. Gonçalves acredita que o BC vai parar de cortar os juros nesta reunião, embora avalie que ainda há espaço para reduções, por conta do juro real ainda elevado. "Acho que ainda há margem para os juros continuarem em queda sem risco de a inflação desandar no ano que vem." O professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Cláudio Haddad, também vê sinais de inflação de demanda. "Certamente existem indícios, uma vez que a política fiscal continua expansiva, os preços de commodities estão elevados (demanda externa), a renda e o emprego crescem, o consumo e a produção industrial batem recordes." Como o BC, ele vê os investimentos em expansão, mas a um ritmo mais baixo, fato que seria comprovado pela elevação nos níveis de utilização da capacidade instalada. "A preocupação do BC, portanto, é legítima."Os economistas que não identificam sinais de inflação de demanda tiveram essa percepção reforçada com o IPCA baixo em setembro - o índice foi de 0,18%. É a visão majoritária no Ministério da Fazenda, onde as apostas são de mais dois cortes na Selic. O professor da UFRJ, Carlos Thadeu Filho, avalia que o forte aumento no consumo tem sido bem atendido pelas importações e pela expansão da oferta interna. "Não vejo impacto da demanda na inflação. A inflação é de custo e de choque de oferta", diz, referindo-se ao repasse da alta do petróleo para produtos como plásticos e à alta nos preços de alimentos. Para ele, é natural o BC manifestar preocupação com a demanda, mas isso não quer dizer fim dos cortes de juros. "A mensagem é que os próximos cortes dependerão muito mais dos dados que ainda vão sair." Ele prevê corte de 0,25 ponto porcentual nesta reunião. Para o economista da LCA Consultores, Raphael Castro, "não há qualquer indício de inflação de demanda". Para ele, a aceleração recente nos preços foi provocada essencialmente pelos alimentos. Embora veja um dos riscos para 2008 o aumento da inércia inflacionária (parcela da inflação herdada do ano anterior), Castro diz que as importações e a alta dos investimentos e da produtividade do trabalho atenderão à demanda. Sobre os investimentos, o economista acredita que em alguns meses eles reduzirão o nível de utilização da capacidade instalada, hoje apontado como indicador maior de demanda excessiva. Além desses fatores, ele pondera que o câmbio valorizado tem minimizado o impacto da alta nos preços de commodities. Para Castro, o BC não cortará os juros nesta reunião, retomando os cortes em dezembro, quando perceber que a aceleração dos preços foi de fato temporária e que não há pressão de demanda. "Embora avalie que há espaço para reduzir a Selic nesta reunião, não acredito que isso vai acontecer."
Fabio Graner, Estadão; 1610.

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