O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-SP), diz que fará, na próxima terça-feira (19), no plenário, a leitura do requerimento de constituição da CPI Mista dos Cartões. Depois disso, basta que os partidos indiquem os seus representantes na comissão –11 deputados e 11 senadores— para que a investigação comece.
A promessa de Garibaldi deu à novela dos cartões uma aparência de normalidade. Depois de um vaivém marcado pela
suspeita de que tucanos e governistas estariam tramando a “blindagem” de Lula e FHC, o Congresso estaria pronto para passar ao segundo capítulo. Não é bem assim. Não há, por ora, nem mesmo certeza quanto à instalação da CPI. Os operadores políticos de Lula deram um nó na oposição. Antecipando-se à leitura de Garibaldi, o consórcio de partidos que gravita em torno do Planalto indicou os dois comandantes da CPI: para presidente, Neuto de Conto (PMDB-SC); para relator, Luiz Sérgio (PT-RJ). Trata-se de um recuo em relação ao que Romero Jucá (PMDB-RR) prometera à oposição. O líder de Lula no Senado comprometera-se a advogar no governo a tese de que o comando da CPI deveria ser compartilhado. Estrategicamente, Jucá não deu as caras no Congresso nesta quinta-feira (14). Tomou chá de sumiço. “É provocação”, opina José Agripino Maia (RN), líder do DEM. Para ele, a oposição deve quebrar lanças. Ou o governo cede uma vaga na direção da CPI ou os oposicionistas se esquivariam de participar da comissão. Em represália, coletariam assinaturas para abrir uma outra CPI, exclusiva do Senado. Uma Casa em que o assento de um oposicionista na mesa é certo. O problema é que a direção do PSDB pensa de outro modo. Arthur
Virgílio, o líder tucano, não exclui a hipótese de uma CPI só de senadores. Acha, porém, que, antes disso, é preciso vencer a etapa da comissão mista, ainda que sua direção seja “chapa branca”. Em posição compartilhada com o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), autor do pedido de CPI mista,
Virgílio defende o seguinte: inaugurada a comissão, os oposicionistas levariam à mesa um lote de requerimentos envenenados: convocação de ministros pilhados no abuso dos cartões, quebras de sigilos bancários e telefônicos e abertura dos extratos secretos da presidência da República. “Aí nós vamos saber se querem mesmo investigar ou se estão de brincadeira”, diz Virgílio. Só na hipótese de uma rejeição dos pedidos é que, na opinião do líder da bancada tucana, a oposição partiria para o “Plano B”, que passaria pela formalização de um pedido de CPI no Senado. Os governistas aproveitam a divisão para espicaçar os rivais.
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento), aquele que chamara a comissão de “CPI da Tapioca”, aconselha a abertura de uma investigação dos cartões da gestão tucana de José Serra. Na Assembléia de São Paulo, diz ele, o PSDB é majoritário. Pode ocupar a presidência e a relatoria da CPI. No Congresso, ecoa Ricardo Berzoini (SP), presidente do PT, o regimento do Congresso prevê que cabe aos donos das maiores bancadas a indicação dos mandachuvas da CPI. À oposição, resta espernear. Valdir Raupp (RO), líder do PMDB no Senado, diz que não admite que a isenção de seu indicado, Neuto de Conto, seja posta em dúvida antes mesmo do início da investigação. Valendo-se de um argumento erigido pelo próprio Arthur Virgílio, Raupp lembra que, na CPI dos Correios, a oposição recebera com um pé atrás a indicação de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o posto de relator. Ao final da investigação, Serraglio foi carregado nos braços da oposição. PSDB e DEM marcaram para o início da próxima semana uma reunião para tentar afinar as respectivas violas. Até lá, tentarão fazer contato com o sumido Romero Jucá. Em privado, Jucá diz que não manda nos partidos. Continua a dizer que prefere a composição. Mas alega que depende da boa vontade dos partidos governistas.
PS.: Ilustração via blog do Guto Cassiano. Escrito por Josias de Souza, Folha Online, 1502.
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