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quarta-feira, março 26, 2008

RIO DE JANEIRO/DENGUE: EPIDEMIA CONFIRMADA

Forças Armadas prometem ajudar no combate à dengue

RIO DE JANEIRO – Durante o feriadão de Páscoa, o avanço da epidemia de dengue no Rio de Janeiro atingiu a tenebrosa marca de uma ocorrência da doença registrada por minuto. Na Semana Santa, as mortes de uma menina de 14 anos e de um bebê de sete meses elevaram para 49 o número de vítimas fatais no estado este ano, sendo 25 crianças. Diante desse quadro desolador, antes tarde do que nunca, as autoridades públicas parecem ter despertado para a necessidade de combater urgentemente o mosquito transmissor e prestar atendimento à população carioca de baixa renda, que sofre por falta de atendimento nos hospitais públicos. Após alguns dias de um constrangedor empurra-empurra entre os poderes municipal, estadual e federal, o Ministério da Defesa anunciou na sexta-feira (21) que as Forças Armadas montarão, a partir da semana que vem, hospitais de campanha para ajudar os hospitais da rede pública do Rio no atendimento às vítimas do Aedes aegypti. A situação é grave, pois a dengue já ocorre em todas as regiões da cidade do Rio de Janeiro e em diversos municípios do interior fluminense. Na capital, já foram registrados 23.555 casos da doença em 2008 e, levando-se em conta todo o estado, o número de casos registrados sobe para 32.615. A ajuda das Forças Armadas no combate à dengue no Rio de Janeiro foi confirmada pelo ministro Nélson Jobim, que se encontra em visita oficial aos Estados Unidos: “Estamos preparados para ajudar, pois esse problema está sério lá no Rio”, disse. Para definir os detalhes da participação militar, Jobim tem uma reunião agendada para terça-feira (25) com o chefe do Estado-Maior de Defesa, almirante Marcos Martins Torres, e com os comandantes Enzo Peri (Exército), Júlio Moura Neto (Marinha) e Juniti Saito (Aeronáutica). Após a definição com o comando militar, o ministro se reunirá com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Ministério da Saúde, por sua vez, anunciou que vai montar no Rio um gabinete de crise que contará com as participações do comando das Forças Armadas e das autoridades públicas estaduais. As primeiras tarefas do gabinete, segundo o ministério, serão a realização de um levantamento, em todo o estado, da necessidade de contratação de pessoal para trabalhar em caráter emergencial e também um mapeamento das populações com maior risco de contato com o mosquito transmissor. O pedido de ajuda federal havia sido feito no dia 17 de março pelo secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, durante uma reunião com o secretário nacional de Vigilância e Saúde, Gérson Penna, e com representantes das Forças Armadas. Curiosamente, Côrtes afirmou ter sido pego de surpresa pelo anúncio do envio de militares ao estado: “Não me comunicaram nada, mas, em todo caso, a ajuda é extremamente bem-vinda. A maior necessidade é material humano para fazer o atendimento aos doentes e também intensificar o combate aos focos do mosquito”, disse o secretário.
Empurra-empurra
A falta de sintonia entre os três níveis de poder público é mais clara do que as águas onde o Aedes costuma depositar seus ovos. Após ter anunciado inicialmente que “não tomaria medidas específicas em relação à dengue no Rio”, o Ministério da Saúde voltou atrás e decidiu instalar o gabinete de crise, mas não deixou de apontar a Prefeitura do Rio como principal responsável pelo combate à doença: “Consideramos que um dos problemas enfrentados no Rio é a baixa implementação das equipes de saúde da família e a desestruturação da atenção básica. Atualmente, as equipes de saúde da família cobrem apenas 8% da população do município”, afirma uma nota divulgada pelo ministério. Em outro trecho da nota, o Ministério da Saúde lembra que, em outubro do ano passado, alertou o governo estadual e a prefeitura da capital sobre a possibilidade de ocorrência de uma epidemia de dengue durante o verão: “No mês seguinte, um levantamento da infestação dos mosquitos transmissores na cidade mostrou que ações mais objetivas deveriam ser realizadas pelo gestor local, pois o quadro era alarmante”, diz o documento. O prefeito Cesar Maia, no entanto, prefere negar que esteja ocorrendo uma epidemia de dengue no Rio: “Já houve uma epidemia, mas o momento atual é de declínio”, garante, dizendo embasar sua afirmação nas correções por amostra feitas pela Secretaria Municipal de Saúde: “Sabemos que o pico da doença ocorreu entre o fim de janeiro e o início de fevereiro. Nesse momento, estamos em curva declinante, mas só poderemos confirmar isso dentro de alguns dias”, disse. Quando o assunto é assumir responsabilidades pelo avanço da doença, Cesar opta por jogar a batata quente em outras mãos: “A maior parte dos óbitos ocorreu em hospitais da rede estadual”.
OMS aponta epidemia
A postura da Prefeitura é criticada pelo epidemiologista Roberto Medronho, que tem especialização no estudo da dengue e é professor do Núcleo de Saúde Coletiva da UFRJ. Segundo Medronho, a Secretaria Municipal de Saúde está equivocada ao considerar que, para ser classificada como epidemia, a incidência da dengue deva ser ao menos de 470 para cada cem mil habitantes. O especialista afirma que o governo municipal utiliza como parâmetro para seus cálculos o ano de 2002, quando foram registrados 138.027 casos de dengue no Rio: “Isso contraria uma determinação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirma que o cálculo deve ser feito com base numa série histórica, excluindo os anos em que ocorreram epidemias”. Medronho afirma que, de acordo com os parâmetros de cálculo estabelecidos pela OMS, o máximo de casos esperados para janeiro no Rio seria de 23,3 por cada cem mil habitantes quando, na realidade, foi de 144,5 por cem mil. Em fevereiro, o máximo esperado era de 42,95 casos por cada cem mil habitantes, mas ocorreram 158,2 casos para cada cem mil. Em março, a taxa de infecção esperada é de 75 habitantes para cada cem mil, mas atingiu a marca de 43,3 para cada cem mil apenas nas primeiras duas semanas do mês. Maurício Thuswohl - Carta Maior, 2603.

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