INTERPOL AUTENTICA DOCUMENTOSS DA 'FARC'
A Colômbia não adulterou os documentos encontrados nos computadores do líder das Farc Raúl Reyes, segundo perícia da Interpol (polícia internacional) divulgada ontem em Bogotá. Os documentos expõem fortes vínculos entre a guerrilha colombiana e os governos venezuelano e equatoriano e o informe deve estremecer ainda mais as relações diplomáticas entre os três países, cujos presidentes se encontrarão hoje, durante a cúpula de Lima." A equipe de especialistas forenses não descobriu indícios de modificação, alteração, adição ou subtração dos arquivos em nenhum dos três computadores portáteis, em nenhuma das três unidades de memória USV e em nenhum dos dois discos externos apreendidos durante uma operação antinarcóticos e antiterrorista em acampamento das Farc em 1º de março de 2008", disse o secretário-geral da Interpol, o americano Ronald Noble, durante a apresentação do relatório. Acompanhado de várias autoridades colombianas, Noble ressaltou que a análise se ateve apenas à autenticidade dos documentos, sem avaliar seu conteúdo. O secretário-geral fez elogios à polícia colombiana e ao DAS (serviço de inteligência) e usou vários termos adotados pelo governo Uribe para descrever as Farc, como classificar o grupo como "terrorista". Noble disse não ter dúvidas de que os computadores pertenciam a Reyes.
Mil anos para ler
De acordo com a perícia, o material apreendido no acampamento de Reyes corresponde a 600 gigas e inclui documentos inscritos, imagens e planilhas. Foram empregados 64 funcionários de 16 países, num total de 5.000 horas de trabalho desde 4 de março. "Este volume corresponderia a 39,5 milhões de páginas em Microsoft Word", disse Noble. "Levaria mais de mil anos para ler todos os dados se uma pessoa lesse cem páginas por dia", comparou. Questionado se, durante o trabalho de análise, foram encontrados documentos vinculando as Farc ao governo e a organizações brasileiros, Noble disse que sim, mas que não mencionaria nomes. A guerrilha tem alguns contatos conhecidos no Brasil, como o vereador de Guarulhos Edson Albertão (PSUV), amigo de Reyes. A Interpol reúne 186 países, entre os quais a Venezuela e o Equador. Noble disse que havia se colocado à disposição dos dois governos para esclarecimentos, mas que nenhum deles demonstrou interesse. O governo colombiano alega ter encontrado os computadores durante ataque ao acampamento de Reyes, em território equatoriano. A morte do número dois das Farc e outras 24 pessoas na operação provocou o rompimento das relações diplomáticas do Equador e da Venezuela com a Colômbia. Dias depois, durante a cúpula do Grupo do Rio, na República Dominicana, Chávez reatou as relações diplomáticas com o governo de Álvaro Uribe, mas o presidente Rafael Correa manteve sua decisão.
Fim da trégua
A trégua diplomática entre Venezuela e Colômbia durou até o último domingo, quando Chávez, irritado com a divulgação, pela imprensa, de mais documentos vinculando o seu governo às Farc, voltou a atacar Uribe, acusando-o de gerar um clima de guerra entre os países. Segundo informações atribuídas aos computadores de Reyes, o governo Chávez mantinha contatos regulares com representantes da guerrilha e havia se comprometido a fazer um empréstimo de US$ 250 milhões a US$ 300 milhões para as Farc, além de ajuda com equipamentos militares, entre fuzis e bazucas. Com relação ao Equador, os supostos documentos mostram contatos com altos funcionários do governo Correa e acordos para melhorar a segurança da zona fronteiriça. O governo colombiano não deixou claro se tomará medidas judiciais e diplomáticas contra a Venezuela e o Equador. Em março, Uribe chegou a anunciar que denunciaria Chávez ao Tribunal Penal Internacional (TPI), por "financiamento de genocídio", mas recuou em Santo Domingo. Ontem, a única reação do Equador foi a da chanceler María Isabel Salvador, que afirmou que os dados dos computadores não têm "validez jurídica" "nem moral". O informe da Interpol deve ser um dos principais temas da 5ª Cúpula América Latina-Caribe e União Européia. Os três presidentes estarão no encontro.
Fabiano Maisonnave, de Caracas. Folha Online. 1605.
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