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segunda-feira, maio 19, 2008

MEIO AMBIENTE/AMAZÔNIA: MINC & EXÉRCITO (quem diria?)

Minc pede ajuda militar contra o desmatamento na Amazônia

O ministro indicado para o Meio Ambiente, Carlos Minc, que se reúne hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que a primeira das dez propostas que fará é a participação das Forças Armadas na defesa dos parques nacionais e das reservas extrativistas da Amazônia. "É um replique do que fizemos com os bombeiros nas unidades de conservação do Rio", afirmou, ao desembarcar no Aeroporto Tom Jobim.
"Vou propor isso ao Exército, que se criem destacamentos, que se aloquem alguns regimentos das Forças Armadas para funcionar dentro dos parques nacionais, cuidando também do entorno deles e das reservas extrativistas." Num primeiro momento, Minc afirmou que apresentaria "dez condições". Questionado sobre quantas seriam necessárias Lula acatar para aceitar o cargo, o secretário de Estado do Ambiente do Rio mudou o tom, disse que seria "indelicado" impor condições e passou a chamá-las de "propostas".

Para Minc, que estava em Paris quando recebeu o convite para substituir Marina Silva no ministério, a saída dela, no dia 13, deixou na opinião pública internacional a impressão de que "a Amazônia está entregue". Ele reafirmou que a floresta "não vai virar carvão" porque irá manter a política ambiental e os principais quadros técnicos da gestão de Marina, com quem tem encontro marcado em Brasília, antes da reunião com Lula. Trouxe de presente de viagem para ela uma blusa de seda verde e elogios rasgados: "Mesmo que eu fique dez anos no governo, não vou conhecer metade da Amazônia como ela conhece".

Sobre o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, cuja atribuição de executar o Plano da Amazônia Sustentável (PAS) teria sido a gota d?água para a saída de Marina, Minc vai sugerir a Lula que ele analise o projeto "para o futuro, globalmente" e coloque um coordenador-executivo que seja um gestor local. "Eu sei como é isso, a pessoa tem que ficar lá gerindo a cada momento a questão da grilagem, do desmatamento, das alternativas, não criminalizar toda atividade econômica." Sugeriu o ex-governador do Acre Jorge Viana para a função - "que tem mais competência e trânsito político do que eu" -, mas disse já saber que ele não aceitará.

Minc afirmou não ter se abalado com as críticas dos ruralistas, de que não teria conhecimento da Amazônia por ser um "ecologista de Copacabana". "Se eu fosse elogiado pelos ruralistas, ficaria um pouco preocupado." Para ele, que disse ter aceitado o cargo por "pequenas pressões, principalmente do governador Sérgio Cabral", Lula ficou impressionado com a desburocratização do licenciamento ambiental no Estado. Mas alertou: "Acho que isso encheu os olhos do presidente. Mas talvez ele não saiba o resto da história: para fazer isso tudo tem que ter autonomia, poder e dinheiro".

A seguir, os principais trechos da entrevista.

PRIMEIRA ENTREVISTA

"A idéia de arrogância (na entrevista em Paris) veio do fato de eu ter colocado condições de trabalho, mas na verdade são muito mais do que as que foram colocadas. Arrogância seria imaginar que eu pudesse desempenhar uma missão para a qual eu tenho dúvidas se estou à altura, sem ter condições de trabalho."

DESAFIOS

"Do ponto de vista do planeta, da opinião pública internacional e do trauma que ocasionou a saída da Marina, sem dúvida nenhuma a Amazônia está no centro das questões. Não sou um grande conhecedor, embora minha tese de doutorado seja sobre a Amazônia, mas vou me cercar dos melhores especialistas, muitos deles da equipe da Marina. Por isso segunda-feira (hoje), antes de conversar com o presidente Lula, vou conversar com Marina e equipe. Mas quero colocar outros pontos também como prioridade. Na Amazônia moram 25 milhões de pessoas que precisam de condições dignas de sobreviver sem destruir a floresta. Também pretendo colocar na pauta a questão urbana e industrial. A questão de tecnologia limpa, padrões de emissão, plano de saneamento, transformar lixo em energia."

EXÉRCITO

"A primeira das dez coisas que eu vou propor é um replique do que fizemos com os bombeiros nas unidades de conservação do Rio. Tínhamos unidades de conservação que, comparadas às da Amazônia, são ridículas, que eram cuidadas por dois funcionários do Instituto Estadual de Florestas. Convencemos o Sérgio Cabral a criar os guardas-parques, que é um destacamento dos bombeiros lotados dentro das unidades de conservação."

LICENCIAMENTOS

"O que mais agradou ao camarada Lula foi a questão da agilidade do licenciamento ambiental.Tínhamos uma pilha de 15 mil licenças. Onde tem uma pilha dessas, tem burocracia e corrupção. O primeiro passo foi descentralizar. Não é porque um licenciamento demora três anos que isso é garantia de que ele será um instrumento de defesa da vida e dos ecobiomas."

REPERCUSSÃO

"Como eu sou um ambientalista e vou ser duro nessa área, não espero ser aplaudido de pé pelos grandes desmatadores. O fato de alguém que sinta a pressão do controle ambiental não vibrar com a minha escolha é normal. O cara (Blairo Maggi) é o próprio governador, manda na polícia, mas todos têm que ter limites. Mas para contentar um pouco o pessoal do agribusiness eu poderia dizer o seguinte: nós, os ecochatos de plantão, também temos que ter bom senso. Se fôssemos muito fortes há 80 anos, provavelmente não haveria Pão de Açúcar e Corcovado."

DESMATAMENTO ZERO

"Sou favorável à adoção de metas para o desmatamento zero em sete anos. Mas acho que isso deve ser um produto do desenvolvimento de atividades econômicas alternativas. Cabe ao governo e à comunidade científica organizarem alternativas e recursos para um fundo internacional. Marina, pelo seu prestígio internacional, seria a pessoa ideal para capitalizar esse fundo de créditos."

RIGOR

"Quando é não, é não. Teve uma grande usina elétrica que quis se instalar em Itaguaí. Disse: ?Infelizmente, governador, nessa área não pode ser, vai se transformar numa nova Cubatão?. A regra vai ser dura, mas vamos chamar para discutir."

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