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sexta-feira, maio 15, 2009

EDMAR MOREIRA/SÉRGIO MORAES: UM TIRO NA BOTINA [?]

''A botina do ACM Neto bate dentro do Congresso''


Autor(es): Ricardo Brandt
O Estado de S. Paulo - 15/05/2009
Um dia depois de perder a relatoria do processo de cassação do deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), dono de um castelo em Minas, o gaúcho Sérgio Moraes (PTB-RS) voltou para sua base eleitoral, a pequena Santa Cruz do Sul. Foi buscar acolhida entre os que não se escandalizaram com a afirmação de que ele se lixava para a opinião pública.

No escritório político, acompanhado pelo advogado e por uma filha, Moraes recebeu jornalistas e soltou o verbo. "Agora eu posso falar." Segundo ele, sua destituição é resultado de uma articulação do deputado ACM Neto (DEM-BA), que teria interesse na punição de Edmar Moreira e estaria agindo de forma autoritária. "A botina do ACM Neto bate dentro do Congresso", criticou. A seguir, trechos da entrevista:

O sr. acredita que conseguirá voltar a ser relator?

Fui bater à porta de onde se faça Justiça. Não existe nenhum dispositivo legal, nem no regimento interno da Casa nem no regimento do Conselho de Ética, que nem sequer possa dar uma sugestão de me tirar.

O sr. pediu anulação do ato à Mesa. O que esperar da Câmara?

O (Michel) Temer vai ter de se pronunciar. Se a decisão dele não for boa, vou recorrer ao plenário. Qualquer decisão tomada durante a ordem do dia tem de ser anulada. É a primeira vez que a ditadura se impõe de uma forma violenta. A botina pisou dentro da Casa. Primeiro quando eles anunciaram que eu estava proibido de me manifestar. Tudo o que eu disse foi que o castelo não estava em discussão. E não está mesmo, não existe nenhuma representação quanto ao castelo. Ele nem aparece, a única coisa é que, no Imposto de Renda desde 93, o castelo desaparece do dele e passa no nome dos filhos. Ao dizer isso foi entendido que eu estaria protegendo, criando uma autodefesa. A única representação que tem é contra verba indenizatória, só. Ali se instalou o caos. Disseram que eu ia arquivar, mas eu tinha convocado oito testemunhas, como eu iria arquivar?

Mas o que aconteceu?

Agora que não sou mais o relator, eu posso falar. Vamos fazer uma análise. O Edmar Moreira foi contra o partido dele, concorreu por fora (à primeira-vice-presidência) e se elegeu com 288 votos, se eu não me engano. Dias depois, a imprensa detona ele por causa do castelo. Não tinha nada que ver, plantaram uma notícia de que o castelo teria sido dinheiro desviado pela Câmara. A opinião pública do Brasil inteiro acha que ele roubou da Câmara para fazer o castelo. O povo pensa isso, mas não é verdade. Se ele roubou, não foi da Câmara. Num passo seguinte, na pressão, um homem de 70 anos renuncia. Teve uma votação, quem entrou? ACM Neto. Que entra e pega a chave das contas de todo mundo. Aí ele foi lá e pegou só o Edmar Moreira e atirou para a imprensa. Logo se instalou a confusão por causa da verba indenizatória. Aí ele (ACM Neto) monta uma comissão, com três, e leva o Edmar para o Conselho de Ética. Lá, surge meu nome como relator, que eu não pedi para ser.

O sr. quer dizer que foi vítima de uma manobra?

Como posso me conformar com o fato de que tenham me tirado sem perguntar? Quando viram as minhas declarações de que o castelo não estava em julgamento, o que fizeram: "Ó, esse cara pode ajudar o Edmar, temos de tirar esse cara. Como a gente faz? Já sei!" O presidente do conselho, que foi presidente da companhia de telefonia lá na Bahia, na época dos ACMs no governo, o José Carlos Araújo, era como um secretário dele lá, ou seja devia muitas obrigações. Tanto que, no dia da posse do Araújo, o ACM Neto sentou lá e os dois se derramaram em elogios. Eu até saí da sessão, quase que me deu vontade de apagar as luzes, porque eu pensei que aquele negócio ia acabar em beijos.

O sr. acha que Araújo tomou a decisão de afastá-lo induzido por ACM Neto?

Não, eu não acho. Eu tenho a absoluta certeza disso. Tanto é que o DEM pediu e ele obedeceu. E eu temo que o próximo alvo do ACM seja eu.

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