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sexta-feira, maio 15, 2009
"PIRATAS DO CARIBE" et all.
Autor(es): Frei Betto |
Correio Braziliense - 15/05/2009 |
São estarrecedoras as notícias sobre piratas nas costas da Somália. Para mim, é quase como encontrar, hoje, dinossauros em plena Amazônia. Piratas eram, até agora, lendários personagens de minha infância. No carnaval, fantasiados ou não de piratas (lenço de seda vermelho na cabeça, tapa-olho preto e espada de pau), cantávamos alegres a famosa marchinha de 1947: “Eu sou o pirata da perna de pau / do olho de vidro / da cara de mau...” Os marujos foragidos da desumana marinha de suas majestades tornaram-se piratas e criaram, diante disso, uma “outra marinha possível”: aboliram a tortura, passaram a escolher seus comandantes por eleição, partilhavam entre si os butins. Enquanto eles assaltavam navios, a marinha europeia saqueava países — na Ásia, na África e na América Latina. A história de nosso continente que o diga. Segundo Rediker, os piratas, que acolhiam a bordo escravos africanos para libertá-los, implantaram “um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18”. A Somália entrou em colapso em 1991 e, desde então, seus 9 milhões de habitantes vivem em situação de miséria. O litoral do país é utilizado pelas nações metropolitanas como lixeira da sucata nuclear. Junto ao lixo atômico, outros tipos de dejetos têm sido jogados no mar da Somália, causando enfermidades na população, como erupções de pele, náuseas e bebês malformados. Após o tsunami de 2005, muitos apresentaram sintomas de radiação. Morreram cerca de 300 pessoas. E inúmeros navios europeus pilham a pesca do litoral da Somália. Por ano, carregam dali toneladas de atum, camarão e lagosta. Assim, os piratas somalianos — que se autonomeiam Guarda Costeira Voluntária da Somália — são pescadores afetados em seus direitos e em busca de alguma compensação frente ao saque e à contaminação de suas águas por nações europeias. Em entrevista ao jornal The Independent, Sugule Ali, um dos líderes dos piratas, declarou: “Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam o nosso peixe”. Johann Hari, colunista do jornal inglês, se pergunta: “Por que os europeus supõem que os somalis deveriam deixar-se morrer de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistirem passivamente aos pesqueiros europeus (entre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passam 20% do petróleo do mundo, imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra”. No século 4 a.C., um pirata foi levado preso à presença de Alexandre, o Grande, que indagou se ele pretendia tornar-se senhor dos mares. O homem respondeu qual era a sua intenção: “O mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador”. E hoje, quem é o principal ladrão? |
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