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segunda-feira, maio 18, 2009
ÉTICA: NÃO EXISTE MEIA-ÉTICA
Autor(es): Luiz Eduardo Rocha Paiva (General da reserva) |
Correio Braziliense - 18/05/2009 |
O respeito a um código tácito de valores morais e éticos é um dos alicerces da grandeza das nações. Riqueza, desenvolvimento e poder político, isoladamente, não lhes conferem coesão, bem-estar e autorespeito, nem lhes sustentam em desafios extremos. O código é a lei moral (consuetudinária), amálgama da união dos cidadãos entre si e entre a nação e sua liderança. O triunfo das forças de cidadãos-soldados gregos sobre as de mercenários e escravos da poderosa Pérsia, na antiguidade, é um exemplo emblemático. O mundo é um tabuleiro de xadrez, um teatro de constante disputa entre nações. Como no jogo, uma boa estratégia abre oportunidades para a vitória, mas não é o suficiente. Assim foi, também, na guerra fria. A URSS mascarou, com a ideologia comunista, o propósito expansionista herdado da Rússia Imperial, numa inteligente estratégia de projeção de poder, capaz de ocultar o real objetivo do estado soviético. Um equívoco fatal, porém, foi descartar a liberdade de seu código de valores, condenando-se ao atraso, exceto nos campos militar e científico-tecnológico. Nações com vocação de grandeza cultuam pátria, liberdade, história, dever, justiça, vida, família e disciplina, entre outros valores, como sínteses de princípios morais e éticos inspiradores de nobres ideais. Ao criar referenciais de excelência, enaltecendo seus feitos históricos e heróis, uma nação estimula a busca da perfeição, o que torna seu povo altivo, disciplinado, empreendedor e unido, ou seja, a base de sua grandeza. A liberdade, que permeia e sustenta o código, é o diferencial cuja ausência fez ruir tantos impérios. Ao suprimi-la, a URSS distorceu valores fundamentais e, assim, a lei moral. O Partido Comunista estava acima de nação, vida e família, e tinha a justiça como serva, história e tradições foram deturpadas pela ideologia, disciplina e dever eram impostos por ameaças. Em síntese, um estado déspota de nações escravas. No entanto, liberdade não é passe livre para o cidadão fazer o que quer, restringindo direitos de outros. Cidadania também é disciplina e respeito ao próximo. Até nas democracias, a liberdade para progredir, individual e coletivamente, fica cerceada quando as instituições não impõem o império da justiça e as lideranças usam poder, riqueza e cargos para se apoderarem de bens por direito pertencentes à sociedade. A nação perde a esperança, a coesão, a confiança em seus dirigentes e o respeito internacional. O Brasil desponta outra vez como potência emergente, com projeção político-econômica mundial, indicadores positivos de desenvolvimento, crescimento da classe média, melhor distribuição de renda e participação destacada no comércio internacional. basta. Mas isso não basta. O país padece de grave enfermidade moral na sociedade e em sua liderança, com prejuízo da coesão nacional necessária para enfrentar os desafios que virão, exatamente por sua inserção no cenário dos conflitos — o tabuleiro de xadrez. A liderança é patrimonialista, amplamente corrompida nos Poderes da República e em outros setores da vida nacional e se apodera dos bens públicos como se fossem sua propriedade. Apoia-se em sua impunidade e na omissão de uma sociedade sem esperança na justiça, ela própria assumindo a falta de ética e valores. Sociedade carente de exemplos, que perdeu os referenciais e, anestesiada, contenta-se com a satisfação das necessidades básicas e a falsa noção de liberdade, que usa sem responsabilidade e disciplina, tornando-a um bem ilusório. Agoniza a lei moral, condição de grandeza. A cura desse mal não virá dos desacreditados partidos políticos, nem do processo eleitoral incapaz de, por si só, aperfeiçoar a democracia, como alguns se iludem. A mídia é um setor importante para limitar a capacidade da liderança de praticar abusos, se for capaz de resistir às ameaças de mordaça política, financeira e ideológica e permanecer livre, imparcial, vigilante e corajosa. No entanto, um choque de valores terá de vir da sociedade, ser aplicado nela própria, assimilado pelas famílias e por um sistema educacional moral e profissionalmente recuperado, capaz de gerar cidadãos íntegros, cientes de que liberdade sem disciplina esgarça o sistema social; e onde professores sejam verdadeiros mestres e não “tios ou companheiros” — status irreais que deformam a convivência saudável em temerária intimidade. Gerações e lideranças bem formadas, não deformadas, vão revigorar a lei moral e, então, a grandeza nacional. |
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