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sexta-feira, fevereiro 19, 2010

BRAS-ILHA/PAULO OCTÁVIO [In:] ''SE É PARA O BEM DO TODOS ... DIGA AO POVO QUE FICO"

ELE JUROU SAIR...DESISTIU E FICOU.ATÉ QUANDO?

Sem renúncia. Por enquanto

Autor(es): ANA MARIA CAMPOS e
HELENA MADER
Correio Braziliense - 19/02/2010

Paulo Octávio anunciou a aliados e a parte da imprensa que deixaria o cargo, mas voltou atrás minutos depois e, em pronunciamento, disse que aguardaria mais alguns dias.

  • Monique Renne/CB/D.A Press
    Paulo Octávio: “Tomei a iniciativa de renunciar para ser um facilitador, mas decidi esperar um pouco mais”
    Quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010. Data em que ninguém sabia ao certo quem estaria no comando do Distrito Federal no fim do dia. Com o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) preso e o interino, Paulo Octávio, em dúvida sobre permanecer ou não no Executivo, o presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), acreditou que assumiria o controle da capital do país. Não à toa. Paulo Octávio convocou uma solenidade para anunciar sua renúncia ao cargo, com a presença de todos os secretários que restaram no governo. Mas, na última hora, o governador recuou e anunciou que ficaria no cargo. Pelo menos por enquanto.

    No discurso, que pegou jornalistas e todo o meio político de surpresa, Paulo Octávio comunicou que decidiu continuar no cargo por insistência de aliados e da população. Ele havia sido aconselhado a renunciar pelo líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), com quem sempre contou como parceiro nos embates partidários. O senador chegou a anunciar no Twitter que deu o conselho ao correligionário. Paulo Octávio telefonou ao secretário de Transportes, Alberto Fraga, para garantir que iria embora e entregou uma carta de renúncia à deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM). Ele também disse ao Correio que comunicara de manhã ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a impossibilidade de manter a governabilidade e que deixaria o Buriti. Mas não foi isso o que aconteceu.

    Em um púlpito montado no saguão do Palácio do Buriti, Paulo Octávio demonstrou que se apegou ao desejo de sua equipe para continuar nos cargos e em seu antigo sonho de comandar a capital do país, mesmo no momento da maior crise institucional da história. “Ouvi apelos de muitos partidos políticos, ouvi apelos de todos os secretários do governo, de uma imensa maioria da população brasileira, preocupada com o momento em que vivemos”, afirmou. Lá fora, uma manifestação de populares pedia a saída de Paulo Octávio, um dos investigados pelo Ministério Público Federal no inquérito da Operação Caixa de Pandora. “Mentira!”, gritou uma mulher, quando ele disse que atendia ao desejo da população.

    Autor do pedido de prisão preventiva de Arruda e de intervenção federal no DF, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não gostou das incertezas provocadas pelo vaivém de Paulo Octávio. Logo após saber que ele cogitara renúncia e voltara atrás, Gurgel afirmou que a indecisão reforça a tese da intervenção. Paulo Octávio chegou a tratar da entrega do cargo com Lula, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ainda pela manhã. “Apesar de já ter carta de renúncia pronta, aguardo mais alguns dias, como recomendou Lula, para que possamos ter o quadro de decisões que a Justiça deverá apresentar na próxima semana” disse Paulo Octávio no pronunciamento.

    A declaração irritou o Palácio do Planalto, que negou categoricamente qualquer conselho do presidente Lula ao governador interino do DF (leia texto na página 27). Por conta da repercussão negativa, logo após o evento público, o Governo do Distrito Federal teve de divulgar uma nota para explicar a confusão. Na verdade, Paulo Octávio teria cometido um erro ao tratar do assunto de improviso.

    Dia tenso
    A expectativa em torno de um pronunciamento de Paulo Octávio começou cedo. Ele saiu da audiência com Lula e seguiu direto para o Palácio do Buriti. No Salão Branco, dezenas de jornalistas o aguardavam para uma coletiva. Após três horas de espera, quem subiu ao microfone para falar à imprensa foi o assessor de imprensa do GDF, André Duda.

    Ele anunciou que não haveria entrevista e disse que Paulo Octávio divulgaria apenas uma nota sobre a sua conversa com o presidente Lula. Questionado pelos jornalistas, Duda negou a possibilidade de um afastamento. “Não tem carta, não tem renúncia”, afirmou o assessor de imprensa. “Ele (Paulo Octávio) está despachando no 11º andar do Buriti, está trabalhando”, acrescentou. Passadas mais três horas, toda a imprensa voltou a se reunir para aguardar o pronunciamento, que começou às 17h05.

    Na Câmara Legislativa, os deputados esperavam com interesse o discurso de Paulo Octávio. Muitos distritais assistiram a tudo pela TV. Desde a véspera, Wilson Lima já considerava certa a sua posse no Palácio do Buriti. Arruda ainda é governador, mas os deputados não acreditam na volta do chefe do Executivo, preso há uma semana na Superintendência da Polícia Federal (PF).

    No Buriti, Paulo Octávio disse que fica no GDF, ao menos por enquanto. O recuo de Paulo Octávio também repercutiu na Câmara Legislativa. No fim da tarde, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) se reuniu extraordinariamente e decidiu aceitar três pedidos de impeachment contra Paulo Octávio, que agora vão tramitar com outros três contra o governador afastado José Roberto Arruda. Assim como o governador afastado tentou, o interino busca estratégias para permanecer na função no ano do cinquentenário da capital. “Estou fazendo tudo por Brasília, sem nenhuma vaidade. Tomei a iniciativa de renunciar para ser um facilitador, mas decidi esperar um pouco mais”, afirmou Paulo Octávio ontem ao Correio, às 22h45.
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