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sexta-feira, março 12, 2010

GOVERNO LULA [In:] O tamanho do PIB. (e/ou ''nem tudo que reluz é ouro'' ou ainda ''o Rei está nú".

PIB é o pior desde o governo Collor

Saldo da marolinha


Autor(es): Vicente Nunes
Correio Braziliense - 12/03/2010

Resultado da crise econômica internacional, Produto Interno Bruto brasileiro cai 0,2% em 2009. Indústria foi o setor que mais perdeu


O estrago da crise mundial na economia brasileira foi gritante.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, registrou queda de 0,2% em 2009, o primeiro recuo em 17 anos — em 1992, quando Fernando Collor de Mello perdeu o mandato de presidente da República, a retração chegou a 0,5%.

Com esse resultado, o IBGE enterrou de vez o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o impacto do estouro da bolha imobiliária americana no Brasil havia sido apenas uma “marolinha”. Na média, o crescimento anual do país no governo Lula caiu de 4,20%, até 2008, para 3,57%, ainda superior à expansão de 2,30% registrada nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso.

Os números do IBGE trouxeram, porém, boas notícias. No quatro trimestre de 2009, o PIB apontou aumento de 2% em relação aos três meses imediatamente anteriores e de 4,3% ante o mesmo período de 2008, indicando que a economia entrou este ano com o pé no acelerador. Nas contas do economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o Brasil já está com crescimento mínimo garantido de 2,7%. É o que os analistas classificam de carry-over, ou carregamento estatístico. “Temos, portanto, um crescimento contratado neste ano, que deve variar entre 5% e 6%”, ressaltou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. “2010 será um ano excelente para o país”, emendou.

Na avaliação de Rebeca Palis, gerente de contas trimestrais do IBGE, o que se viu em 2009 foi o “PIB da crise”. “Foi um ano atípico”, disse. Ao detalhar os números, ela assinalou que a queda de 0,2% poderia ter sido pior, não fosse a disposição das famílias em consumir. Esse indicador, que fechou o ano com expansão de 4,1%, contribuiu com 2,4 pontos percentuais a favor do PIB. Juntos, os lares do país desembolsaram R$ 1,972 trilhão. O problema, acrescentou Rebeca, foi que os investimentos (formação bruta de capital fixo), com um tombo de 9,9%, tiraram 1,9 ponto do Produto. “Esses foram os dois pontos extremos do lado da demanda”, destacou. No meio desses extremos, houve a ajuda do governo, cujo consumo deu um salto de 3,7% no ano, sobretudo por causa da contratação de servidores e dos elevados reajustes de salários do funcionalismo. A contribuição para o PIB foi de 0,7 ponto percentual.

Encolhimento
Do lado da oferta, a grande decepção veio da indústria, que encolheu 5,5%, o pior resultado desde 1996, início da série histórica revisada pelo IBGE. “Felizmente, os dois primeiros meses de 2010 mostram um cenário totalmente diferente. Tudo indica que teremos um avanço considerável da produção industrial”, afirmou o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia. “Nem mesmo o aumento dos juros e o fim dos estímulos fiscais dados pelo governo vão inibir o crescimento do PIB”, sentenciou. Nos cálculos do economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto, a indústria deverá encerrar 2010 com um salto entre 5% e 7%.

No ano passado, a indústria sofreu golpes de todos os lados. Foi pega com estoques elevadíssimos porque acreditava na continuidade do aumento do consumo. As fábricas viram as exportações recuarem drasticamente, porque as economias mais ricas do planeta entraram em recessão. “Mas isso é passado. A confiança voltou”, ressaltou Ingo Plöger, presidente da IP Desenvolvimento.

Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, muito do bom desempenho esperado pela indústria virá da construção, que, em 2009, tombou 6,3%. Mas ele questionou esse dado. “A metodologia do IBGE não reflete a realidade do setor, pois leva em consideração apenas a variação de estoques. Não contabiliza a agregação de valor”, assinalou. A agricultura também empurrou o PIB para baixo, com retração de 5,2%. “Do lado da oferta, vimos um bom desempenho apenas do setor de serviços, que cresceu 2,6% e está ganhando cada vez mais peso no cálculo do PIB”, disse Rebeca Palis, do IBGE.

Entre os melhores
Apesar da queda do PIB em 2009, a economia brasileira ainda conseguiu se destacar. Levantamento do Bradesco mostra que, entre 31 países que já divulgaram resultados, o Brasil ficou na 10ª posição. É superado, de longe, pela China, com avanço de 8,7%, e pela Índia, com 6,5%. Também ficou distante de três países da América do Sul: Peru (+1,3%), Argentina (+1,2%) e Colômbia (+0,2%). Nos cálculos da Economista Intelligence Unit (EIU), ligada à revista The Economist, o Brasil continuou sendo a 9ª maior economia do mundo quando se considera a Paridade do Poder de Compra (PPP). O PIB passou de US$ 1,9 trilhão para US$ 2 trilhões. Se o indicador considerado for o PIB nominal (sem descontar a inflação), que caiu de US$ 1,6 trilhão para US$ 1,5 trilhão, o Brasil firmou-se como a 8ª economia. (VN)

Salário mínimo sem ganho real

Vânia Cristino


O presidente Lula, que tem alardeado a forte recomposição do poder de compra do salário mínimo, não terá uma boa notícia a dar aos trabalhadores e aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em seu último ano de governo. Se prevalecer o acordo firmado com as centrais sindicais, de que o reajuste do mínimo deve levar em consideração a variação do PIB de dois anos anteriores mais a inflação do ano anterior, o mínimo a ser definido no Orçamento de 2011 não terá ganho real. Ou seja, só será reajustado pela inflação (estimada em 5%), já que o PIB de 2009 caiu 0,2%. Será a primeira vez, em cinco anos, que o piso salarial partirá de uma base negativa.

Segundo o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a entidade não pressionará o governo para mudar as regras no meio do jogo. “Acordo é acordo”, disse. A área técnica do governo também defende a manutenção do que foi acordado com as centrais.

Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, politicamente, a correção do salário mínimo somente pela inflação não será uma boa notícia nem para Lula nem para o próximo presidente. “Mas, para aqueles que fazem a política monetária, será uma ótima notícia, pois, o consumo tenderá a desaquecer um pouco, tirando pressões sobre a inflação”, frisou.

O acordo entre o governo e as centrais foi fechado em 2006. Na época, os sindicalistas gostaram da ideia, porque o PIB só vinha subindo. A regra também foi boa para o governo, pois além de evitar o desgaste de todo ano com o índice de reajuste, trouxe previsibilidade para as contas públicas, especialmente para a Previdência Social.O acordo vem sendo honrado desde 2007, quando o salário mínimo passou para R$ 380, com reajuste de 8,57% em relação ao piso que vigorava no ano anterior, de R$ 350. A situação se repetiu em 2008, quando o mínimo foi para R$ 415,00 (+9,21%), em 2009, para R$ 465 (+12,04%) e, em 2010, para R$ 510 (+9,67%).

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