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terça-feira, abril 27, 2010

ELEIÇÕES 2010/CIRO GOMES [In:] PRETÉRITO IMPERFEITO

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Uma jogada eleitoral muito difícil de entender

Valor Econômico - 27/04/2010

A candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) acabou antes mesmo de existir oficialmente, com um script que seguiu um padrão mantido na vida política do parlamentar: o de rompimento radical, que não poupa adversários ou aliados e deixa poucas pedras sobre as pedras antes existentes. Ciro, que foi um leal aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, moveu toda a sua capacidade ofensiva - que não é pequena - nos últimos meses contra governo, o PT e seu próprio partido.

O Partido Socialista Brasileiro, embora dependa fundamentalmente de coligações estaduais com o PT não apenas para eleger governadores, mas para fazer bancadas na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas, abriu espaço para a postulação de Ciro. Se o PSB tem que pagar por algum pecado, talvez pague por este: deu expectativas demais ao deputado do Ceará de que seria candidato a presidente da República e uma autonomia de voo de quem desconhece a capacidade ilimitada do parlamentar de arrumar confusão. Quando os interesses do PSB e do seu quase candidato conflitaram - e naturalmente eles tendiam ao conflito -, o partido tornou-se o centro dos ataques de Ciro. Ao final, do momento em que decidiu ser candidato a presidente até o abortamento de sua candidatura pela direção do PSB, o deputado havia desferido acusações e ofensas, democraticamente, a todos que estavam à sua volta: ao presidente Lula; à candidata Dilma Rousseff (PT); ao PMDB, principal aliado do governo; ao presidente do PSB, Eduardo Campos, e ao vice-presidente Roberto Amaral.

A ação camicase e errática do deputado Ciro Gomes é quase uma marca de sua carreira. Ele começou a fazer política no PDS, partido do governo militar, em 1982, e por essa foi deputado estadual; em 1983, foi para o PMDB; em 1988, para o PSDB, onde se elegeu prefeito de Fortaleza e depois governador do Ceará. Foi ministro de Itamar Franco em 1994. Em 1996, com discordâncias inconciliáveis com o PSDB paulista, migrou para o PPS. Em 2003, com divergências insanáveis com o PPS, foi para o PSB. Os decibéis acima mantidos em artigo contra a direção nacional de seu atual partido, no dia 15, podem indicar que o parlamentar caminha para um desacordo também insuperável com o PSB. No espectro da esquerda, por onde caminhou lentamente desde que saiu do partido de direita, o PDS, seu primeiro abrigo na política, escassearam as opções do líder cearense, depois de tantos desacordos - se, ao final dessa briga, Ciro decidir novamente sair do partido. O ex-governador aventa a possibilidade de deixar a política. Não será apenas por desencanto, se isso ocorrer, mas porque o cearense manteve, em 30 anos de política, o hábito de andar e destruir as pontes atrás de si. Sobram poucas possibilidades de volta.

No último round de sua acidentada carreira política, Ciro, consciente ou inconscientemente, atingiu a todos. Os comuns mortais jamais conseguirão entender onde quis chegar. Noves fora o elogio recente ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra (SP) - que considerou mais capaz do que Dilma para enfrentar o que será, segundo ele, uma inevitável futura crise cambial -, fez do tucanato, especialmente o paulista, o alvo de pesadas críticas desde que saiu do partido, com especial atenção ao próprio Serra e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos últimos meses, ofendeu o PT e o PMDB. Nas últimas semanas, olhou para mais perto e atacou a fundo o PSB.

Hoje, Ciro Gomes tem uma posição controversa na política. De sã consciência, não há conforto em ser seu amigo, nem em ser seu inimigo. O deputado tem deixado, cada vez mais, de ser uma promessa política para ser um problema. O hábito de jogar no ataque de um jogo sempre pesado acaba abafando as qualidades do ex-quase-candidato. Eram claras e justas suas críticas à forma como se concretiza a aliança parlamentar com o PMDB. Se tivesse mostrado equilíbrio e controle, Ciro poderia ter desempenhado um papel importante de questionamento das políticas tradicionais de formação de alianças parlamentares, com grandes ganhos para o país. Ao iniciar o tiroteio contra qualquer alvo que se move, Ciro perdeu adeptos, razão e mais um partido.

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