A perspectiva de êxito que se alimenta no PMDB, hoje, a partir da aliança com o PT para eleição de Dilma Rousseff a presidente, é muito forte, mais do que viveu o partido em campanhas eleitorais anteriores. Alguns ousam registrar que, desde a Nova República, o PMDB não tem condições tão perfeitas, como agora, de exercer na plenitude e em abrangência o poder político.
Este PMDB fortíssimo, que se candidata a ter a Vice-Presidência (já houve cientista político levantando a hipótese de a situação levar ao vice-presidencialismo) e, com ela, por óbvio, boa parte do governo, caso seja eleita a candidata da aliança, ainda não admite que seja necessário ter mais do que teve no governo Lula.
O partido veio aderindo a sucessivos governos, o que lhe permitiu manter-se na crista política em governos estaduais, em prefeituras, fazer grandes bancadas e, numa espécie de retroalimentação, ser desejado para alianças no governo federal que o fizeram crescer mais, sucessivamente, e se fortalecer.
Não houve necessidade, para chegar a este ponto, que o partido se unisse internamente. Percorreu seus caminhos dividido, distribuindo nacos de poder entre facções diversas. Hoje, estaria mais unido do que sempre esteve, dizem os da direção, mesmo antes de estarem definidas as alianças estaduais que garantirão a formalização da aliança nacional. Contam com uma dissidência menor do que sempre.
Nos anos mais recentes, de três ministérios no governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, saltou para seis no governo Lula, depois de ter participado como vice da chapa do adversário de Lula, José Serra. Um fenômeno de partido.
Essa perfomance deveria sugerir que serão mais apurados seus desejos em um governo do qual será sócio já a partir das eleições. Crê o partido que, realmente, é mais forte a aliança que começa na luta eleitoral do que aquela firmada em adesão ao governo já em curso, vencedor.
O discurso que se arma, porém, é de uma discrição a toda prova. Inicia-se a reflexão sobre a divisão do poder futuro pela caracterização dos momentos. A eleição tem duas etapas, argumentam políticos do comando. Uma, política, vivida agora, dedicada a conversas, ordenamento do quadro de alianças, preparação das demandas. Outra, a eleitoral, da propaganda, do discurso, em que a política não entra mais.
O PMDB acha que está vivendo intensamente seu momento político, com cautela, para não deixar que nada estrague o que vem mais adiante. Assim, não explicita o que quer do governo Dilma.
As indicações contidas no seu programa de governo, porém, são eloquentes.
Gaba-se o partido de ter dado sempre, em todos os governos, uma contribuição forte em diferentes setores. Atribui-se, por exemplo, a criação da Secretaria do Tesouro, que viria a modernizar a contabilidade e a administração pública. Estão no portfólio apresentado pelo partido iniciativas como "a gênese dos programas sociais", a "relatoria do plano real", e nesse resgate recente até "a luta contra a ditadura".
"Queremos agora uma unidade interna igual ou maior do que à época de Tancredo Neves, em que praticamente todas as correntes se juntaram", diz integrante da cúpula. Mas os pés ainda estão no chão, e o discurso é que, o fato de ter a vice, não vai levar o partido a querer ser dono do governo.
"Nossa participação vai depender das políticas públicas que vierem a ser definidas, principalmente das que consideramos fundamentais no nosso programa", assinala um dos principais interlocutores da aliança, definindo: "Vamos procurar ter uma presença contributiva". Este é o novo nome para a divisão do poder no comando do governo. Nesta presença, o PMDB destaca políticas voltadas para o desenvolvimento urbano. Portanto, não haverá surpresa se levar o Ministério das Cidades.
"O grande problema que o país vive se dá nas grandes cidades, não temos dúvida em afirmar que os problemas de emprego, renda, serviços públicos na grandes cidades penalizam mais a população pobre que os ricos", diz um político da cúpula. "A questão fundiária urbana é gravíssima".
A educação, questão que mereceu destaque no programa do partido, tem evidência na conversa de perspectiva de poder para o PMDB. O partido quer prioridade para o ensino fundamental, criou programas que possam assegurar a presença das crianças na escola, como a instituição de uma poupança por aluno, a ser resgatada quando ele concluir o curso, ou um Prouni - bolsa de estudo em instituição particular - também para o ensino fundamental. Estar no comando do Ministério da Educação é uma postulação que, se ainda não verbalizada, o será no momento em que o canudo estiver mais perto de lhes ser entregue.
O PMDB imagina ter atribuído uma importância inédita aos bancos públicos em seu programa de governo, e acredita que o BNDES tem de pensar mais no médio empresariado do que no grande, como ocorre atualmente.
Não será surpresa se o PMDB assumir, na divisão de poder com o aliado, o desejo de comandar a Previdência. A proposta de aumento da idade para aposentadoria, feita pela candidata da aliança, Dilma Rousseff, há dois dias, não assustou o partido. Ao contrário, isto estava no seu programa de governo, mas à última hora não passou pelo crivo político o trecho que discutia a necessidade de mover para cima o limite tendo em vista o aumento da expectativa de vida do brasileiro. "Estamos vivendo mais e melhor, e as mulheres estão vivendo mais que os homens", justificou-se, dentro no partido, com a ressalva que isto seria só para os "novos entrantes" no sistema.
Uma supressão eleitoralmente preventiva, porém, não significa abandono da tese. Dessa discussão participaram técnicos, acadêmicos e políticos do partido, desde o exótico Mangabeira Unger até Delfim Netto e Bernardo Appy. Enquanto durou a ilusão da vice, Henrique Meirelles também participou ativamente.
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