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quinta-feira, novembro 04, 2010

EUA/OBAMA [In:] ''NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA..."

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OBAMA SE DIZ HUMILHADO APÓS DERROTA HISTÓRICA

Surra humilhante nas urnas


Autor(es): Fernando Eichenberg
O Globo - 04/11/2010

Cabisbaixo e multo abatido, o presidente Barack Obama assumiu a responsabilidade pela frustração dos eleitores, que lhe impuseram uma devastadora derrota diante dos republicanos nas eleições legislativas. "Algumas noites de eleição são estimulantes, outras são humilhantes", disse Obama, com desconcertante sinceridade para um presidente que foi eleito embalado em ventos de mudança, com confortável maioria no Congresso. No que ele qualificou de surra, os democratas perderam ao menos 61 cadeiras na Câmara e mantiveram o Senado, mas com margem bem reduzida..


Abatido, presidente assume responsabilidade por derrota democrata e pede conciliação

Solitário, semblante abatido, olhar cabisbaixo, a voz mansa e deferente.

Foi desta forma que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apareceu na Casa Branca, diante da imprensa, no dia seguinte à arrasadora derrota que lhe foi imposta pelo Partido Republicano nas eleições legislativas da metade de seu mandato.

A oposição castigou sem perdão o governo nas urnas: assumiu o controle da Câmara de Representantes ao arrebatar pelo menos 61 cadeiras de posse democrata. A nova composição alterou o equilíbrio de forças políticas no Congresso.

No placar final: republicanos 239 x 185 democratas (contra 178 x 255, antes do pleito de anteontem). É a maior conquista de um partido na Câmara desde 1948, quando os democratas abocanharam 75 vagas de uma só vez na reeleição do presidente Harry Truman.

Diferentemente do tom altivo, inflamado e entusiasta característico de sua eleição à Casa Branca, há dois anos, Obama acusou o golpe com lacônico desalento. O Obama de 2008, eleito com ampla maioria parlamentar e elevado índice de popularidade, esbanjava autoconfiança e otimismo. O Obama de ontem, abatido nas urnas, surpreendeu por uma desconcertante sinceridade: — Foi uma longa noite para mim.

Posso dizer que algumas noites de eleição são mais divertidas que outras.

Algumas são estimulantes, outras são humilhantes.

Contrito, Obama definiu o resultado como “uma surra” e disse que as soluções pedidas pelos americanos são difíceis de ser encontradas. Apesar de ter perdido seis cadeiras no Senado, o governo conseguiu salvar uma escassa maioria parlamentar — 52 a 46, com uma cadeira independente e apuração incompleta em uma outra — e manter seu líder, Harry Reid. As dificuldades, no entanto, só aumentaram: antes do pleito, mesmo com uma vantagem maior, a Casa Branca já enfrentava resistências para emplacar sua agenda política.

Os costumeiros ataques verbais do presidente aos adversários republicanos foram ontem substituídos por uma inabitual postura conciliatória com a oposição.

— Nenhum partido sozinho será capaz de impor o rumo a tomar a partir desse momento. Por isso, devemos encontrar um consenso.

Estou ansioso por me sentar com membros dos dois partidos para planejar como podemos avançar juntos — afirmou.

Obama estendeu à mão aos republicanos, e disse que, se a nova maioria na Câmara apresentar “boas soluções” para a criação de empregos no país, estará disposto a considerá-las.

— Não será nada fácil, mas poderemos construir pontes. É a razão de termos dois partidos — notou, sem deixar de sublinhar a existência de discordâncias entre as duas siglas.

Republicanos: hora de mudar a agenda

O presidente contou ter telefonado para os republicanos John Boehner — que deverá ser confirmado como o novo presidente da Câmara — e Mitch McConnell — líder da oposição no Senado —, e disse esperar “encontrar pontos em comum, para fazer o país avançar e alcançar conquistas para os americanos”.

O severo veredicto das urnas foi atribuído por ele às dificuldades econômicas e ao lento e tímido crescimento do país: — Nos últimos meses, viajei pelo país. A eleição confirmou o que eu ouvi: as pessoas estão frustradas com o ritmo da recuperação.

Obama acenou com novas possibilidades de diálogo com empresários e admitiu, ainda, ter aprendido lições nestes dois anos.

— Fizemos progressos, mas nem todo mundo sentiu. Eu assumo a responsabilidade por isso — disse, para depois acrescentar: — Tenho refletido muito. Acho que há áreas na política em que teremos que fazer um trabalho melhor.

Com a imagem debilitada em casa, ele inicia amanhã uma viagem à Ásia. Analistas acreditam que agora o presidente vai enfrentar uma pressão maior para adotar uma política externa mais agressiva.

O sóbrio ambiente na Casa Branca contrastou com o festivo clima dos vencedores. Ovacionado no discurso de vitória na véspera, John Boehner embargou a voz e marejou os olhos ao citar sua busca pelo “sonho americano”. Antes, seu primeiro agradecimento foi simbolicamente dirigido ao movimento ultraconservador Tea Party.

— Eu nunca vou deixá-los na mão — prometeu.

Com as cartas na mão, os republicanos poderão controlar o grau desejável de negociação com a Casa Branca. Entre suas prioridades estão uma drástica redução dos gastos públicos, a continuidade dos cortes de impostos aplicados durante o governo de George W. Bush e a rejeição da reforma da saúde, definida por Boehner como “uma monstruosidade”.

O novo cenário político deixa o governo na dependência da oposição para a aprovação de novos pacotes de estímulo à economia. Ontem, Obama sinalizou que espera contar com os republicanos para continuar com suas políticas de energia limpa e de controle de emissões de gás carbono.

Mas os interesses dos republicanos parecem diferir: — Desde muito tempo, Washington tem feito o que é melhor para Washington, e não para o povo americano.

Foi uma autorização para que continuemos nossa luta por um governo menor, com menos gastos. Esta noite, isso começa a mudar — disse Boehner, relembrando o Obama de 2008 clamando por mudança.

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