Dilma não gostou de ausência de Lula no almoço para Obama, e vai marcar diferenças
O núcleo político do Palácio do Planalto avalia que a presidente Dilma Rousseff tirou de letra a saia justa provocada pelo fato de o ex-presidente Lula ter rejeitado seu convite para o almoço oferecido ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sábado, no Itamaraty. Apesar dos agrados que ela continuará fazendo a Lula, interlocutores do governo disseram ontem que Dilma vai procurar cada vez mais imprimir uma marca pessoal a seu governo, e não vai pautar suas ações e decisões de olho no que pode melindrar ou não o antecessor. Ontem mesmo, o governo Dilma, via Itamaraty, soltou nota defendendo o cessar-fogo na Líbia, enquanto Lula era homenageado por muçulmanos no Clube Monte Líbano, em São Paulo.
Pessoas próximas a Lula e Dilma procuraram minimizar o desconforto provocado pela ausência de Lula no almoço para Obama, e o fato de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter sido posto em lugar de destaque na mesa do Itamaraty. Mas não negam que houve mal-estar. Durante toda a semana que antecedeu a visita, Dilma trocou informações com Lula. E, além do convite do cerimonial do Itamaraty, ela teve chance de fazê-lo pessoalmente.
- Dilma não passou recibo. Deu um tapa com luva de pelica ao elogiar o presidente Lula duas vezes durante seus discursos - disse uma fonte do governo.
Lula: "embaixador" para a África
Sobre a festa para Obama, que em várias ocasiões entrou em confronto direto com Lula - principalmente no caso da tentativa fracassada de acordo com o Irã - , e o brinde feito por Dilma com Fernando Henrique, interlocutores do Planalto disseram que, apesar do cuidado para manter os canais de comunicação e a relação próxima com Lula, ela não pauta suas ações pensando no antecessor.
- A presidente Dilma não age ou pauta suas ações pensando se vai ou não melindrar o ex-presidente Lula. Mas ninguém pense que isso significa que ela está se afastando dele ou rompendo a relação próxima que mantém. Tanto é que deve criar nos próximos meses o cargo de embaixador extraordinário para assuntos de África para Lula, e vai a Portugal prestigiar a entrega do título de doutor honoris causa que ele receberá na Universidade de Coimbra - disse a fonte.
Dentro do governo, a certeza é que essa não foi a primeira nem será a última vez em que Lula "fará bico" para ações e comportamento de Dilma. Nas decisões importantes, porém, Lula não deixa de pensar política e estrategicamente no interesse do coletivo petista. O senador Jorge Viana (PT-AC), que conversa com frequência com Lula e esteve com ele na quinta-feira, diz que Lula repete sempre que não há hipótese de não dar certo sua relação com a presidente:
- Ouso dizer que Lula tem estimulado que Dilma crie sua própria identidade no governo. Ou seja, ela pode até tomar decisões que vão se chocar com as dele, que não está co-governando. Dilma tem demonstrado personalidade no seu governo.
Segundo Jorge Viana, Lula e Dilma se reúnem pelo menos duas vezes por mês. Também para o deputado cassado José Dirceu, próximo de Lula, não existe possibilidade de atritos entre Lula e Dilma. E justifica a ausência de Lula no almoço de Obama:
- Se ela (Dilma) elogiou Lula durante o evento com Obama é porque considera natural a não ida dele por razões óbvias: está em quarentena e não é um ex como FH, Itamar e Collor. Sarney estaria lá como presidente do Congresso . É preciso respeitar a decisão de Lula. Ele demonstra apreço pela liturgia de um ex-presidente que deixou o cargo há 40 dias.
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