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terça-feira, junho 19, 2012
MAL DE ALZHEIMER
‘Não vou estar confortável no mesmo palanque que Maluf’, diz Erundina
Em entrevista ao ‘Estado’, deputada diz não saber se o tempo de TV a mais compensa o custo político da aliança
16 de junho de 2012 | 21h 28'Pensava que teria pesadelos com Kassab, imagine com Maluf', diz Marta
Chapa com Erundina desperta nostalgia
"Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim, não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf", afirmou numa referência ao deputado e ex-prefeito, que foi um dos seus maiores adversários políticos na capital. Leia a seguir a íntegra da entrevista.
Mudamos os dois. Eu nunca me afastei daquilo pelo que eu ajudei a construir no PT, a militar, a construir as tarefas políticas que o PT me atribuiu durante todo aquele tempo. A partir daí é que mudei de partido. Não foi uma decisão fácil. Foi traumática para mim. Mas naquele momento minha experiência no PT havia se esgotado.
Por que?Eu entendia que minha visão político-partidária, minha prática política, minha relação com o partido durante o governo foi uma relação difícil, as experiências de campanha também foram muito difíceis. Os processos se esgotam e a gente tem que ter coragem para não... Em um determinado momento me coloquei a seguinte hipótese: ou eu saio da política, embora filiada ao PT, mas se militância, ou para continuar a fazer política com o nível de engajamento, de participação e militância era melhor eu ir para outro espaço.
Mas por que o realinhamento com o PT?
Nem fui eu. Foi uma decisão partidária. Lógico que como liderança partidária isso passa por mim. Eu sou ouvida. A direção me consultou e nós fizemos uma discussão política mais aprofundada. Avaliamos que no interesse maior do projeto que estamos construindo no País desde a primeira vitória de Lula, a vitória da Dilma, tem sido num alinhamento estratégico com o PT.
Eu era uma candidata potencial naquele momento. Havia condições objetivas para que eu pudesse disputar o cargo de prefeita. No segundo turno fui de cabeça e procurei dar a minha contribuição.
Isso foi uma das dificuldades, a relação do governo com o governo e com o partido no município. Quem era o presidente na época era o Rui Falcão. Nós tivemos muita dificuldade. Ele reconhece hoje, não publicamente, mas, particularmente, faz má autocrítica de que o partido poderia ter ajudado o governo e não ter criado tanta tensão como ocorreu naquele momento.
Não tenho detalhes sobre o que aconteceu entre a Marta e o partido dela. Mas conheço muito a Marta. Ela é muito franca, inteira, fala exatamente aquilo que acha, sente. É uma pessoa que não tem meio-termo. Isso é um mérito e um valor dela. O governo dela deixou uma herança.
Não faço esse julgamento político, sobretudo porque tenho a expectativa de que ela vai entender a necessidade de vir ajudar. Falar isso é julgá-la mais ainda.
Um partido de esquerda, com vocação socialista, que era o que eu entendia do PT quando estava no partido, quando chega ao poder tem dificuldade de conviver com os limites que existem nesse Estado. Ter que governar com outras forças políticas é mais complicado, mais difícil. O PT não é mais aquele de 30 anos atrás, com certeza, até pelo fato de participar da luta institucional nos marcos da política que existe hoje no País. Se explica que o PT, mesmo com o corte ideológico dos nossos partidos, tenha que fazer inflexões para sobreviver como governo.
Com certeza. Muito mais pragmático. Com o presidencialismo e uma minoria no Congresso você tem muito mais dificuldade de governar. Eu vivi isso na cidade de São Paulo. Governei quatro anos com minoria na Câmara dos Vereadores. Para ter maioria, teria que ter feito concessões. Eu preferi não ter maioria, não ter conseguido aprovar certas iniciativas de lei do que ter feito concessões. Mas aquilo pensado numa cidade talvez tenha sido menos difícil de administrar do que no âmbito do País.
Fez muitas concessões. Não diria de forma absoluta que perdeu a coerência. O programa partidário, por essas injunções da política institucional, da correlação de forças, teve que ser mudado. Até porque o partido faz suas análises a partir das suas experiências de governo. Tudo isso envolve tantas variáveis... É fácil julgar estando de fora dizendo que tal política é incoerente. Mas você não está dentro do espaço de decisão. Prefiro não julgar um partido em que não estou mais. Agora, com todas as críticas que a gente pode fazer aos governos do Lula e da Dilma, eles foram governos voltados para o interesse da maioria. Mesmo que isso tenha exigido certas concessões ao outro polo da sociedade. A política é real. Não é algo que se dá no plano do ideal, da abstração, da vontade política só.
É bem real. Quando penso num processo desses, a aliança maior que me mobiliza é a aliança com o povo. Os nossos governos federais, desde o primeiro governo Lula, teriam menos força no Congresso se houvesse uma aliança mais estratégica, orgânica e permanente com a sociedade civil organizada. Espero dar a minha contribuição chegando lá com o Haddad.
Foi uma decisão dos partidos que não passou nem passaria por mim. Provavelmente teria dificuldade de aceitar essa decisão. Meu partido deve ter sido consultado sobre isso. As responsabilidades de alianças são da direção nacional.
Faria minhas ponderações. Não vou estar confortável no mesmo palanque com o Maluf. Com certeza não. Até acho que ele nem vai enfrentar a reação da massa, que é o nosso povo, com quem a gente vai ganhar as eleições e governar a cidade. Com esse povo a gente consegue manter a coerência.
Fui, quando o jornalista me mostrou uma mensagem eletrônica. Agora eu entendo o pragmatismo de ter uns minutos a mais numa disputa acirrada, esses minutos, segundos, devem fazer diferença. Agora não sei se o custo político compensa a vantagem do tempo de televisão. Mas acho que a campanha não sou eu e nem Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo, complexo, plural. Isso se dilui, a meu ver. Claro que não é confortável. Pra mim não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf. Não que eu tenha nada contra a pessoa dele. Inclusive a gente convive no Congresso numa boa. Ele sabe o que eu penso, eu sei o que ele pensa. A gente convive no mesmo espaço e tem que saber distinguir a pessoa daquilo que ela pensa e faz na política.
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