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quinta-feira, junho 14, 2012
QUEM NÃO DEVE, NÃO TREME.
AGNELO ABRE SIGILOS E PASSA NO TESTE DA CPI
AGNELO LEVA PERILLO A QUEBRAR OS SIGILOS |
Autor(es): GABRIEL MASCARENHAS e JOÃO VALADARES |
Correio Braziliense - 14/06/2012 |
Logo no início, o governador do DF pôs a oposição numa sinuca ao anunciar que autorizava a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico. No dia anterior, Marconi Perillo, de Goiás, se recusara a fazer o mesmo. Diante da decisão do petista Agnelo Queiroz, o tucano recuou e ligou para a CPI abrindo mão desses segredos. No depoimento de quase 10 horas, Agnelo voltou a negar qualquer ligação com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Pelo contrário, disse: “A organização tramou a minha derrubada”. Oposicionistas também lançaram suspeitas sobre a compra da casa onde hoje vive o governador, que declarou já ter provado a lisura do negócio à Receita. A Procuradoria Geral da República pediu ao STJ a abertura de inquéritos contra Agnelo e Perillo.
Em depoimento à CPI do Cachoeira, governador do Distrito Federal autoriza a análise dos seus dados fiscais, bancários e telefônicos, e força o tucano a tomar a mesma decisão
Em um depoimento longo, com quase 10 horas de duração, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT-DF), apresentou logo nos primeiros minutos a sua estratégia na CPI do Cachoeira. Utilizando o velho ditado popular de "quem não deve não teme", informou à comissão que autorizava a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico. A iniciativa deixou a oposição numa sinuca de bico. Pressionado pelo gesto de Agnelo, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), ligou para o líder do partido na Câmara, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), comunicando que faria o mesmo.
Na última terça-feira, durante depoimento na CPI, Perillo havia se negado a abrir mão dos sigilos quando questionado pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). O político goiano salientou que a decisão não caberia a ele, mas, sim, aos integrantes da comissão.
"Sei que não é usual uma testemunha fazer o que peço. Mas ofereço dar a CPI todos os meus sigilos", afirmou Agnelo. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ressaltou que apenas a palavra do governador não valia. Pressionou para que ele assinasse um documento abrindo mão do sigilo. Agnelo aceitou a sugestão e assinou. Hoje, durante reunião administrativa da CPI, as duas quebras de sigilo vão ser oficializadas.
Bruno Araújo comentou que a atitude de Agnelo era "jogo de cena" porque ele já tinha disponibilizado a quebra do sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Não havia nem necessidade porque a CPI poderia solicitar o compartilhamento das informações. Ele autorizou um sigilo que já foi quebrado", salientou o deputado. O governador utilizou grande parte do tempo para dizer que sofreu um forte ataque da organização criminosa chefiada pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, justamente porque a quadrilha não teria encontrado facilidades na sua gestão.
"A organização tramou a minha derrubada. E não agiu sozinha. Valeu-se das falsas acusações plantadas no noticiário. Tudo com o objetivo de desgastar e me retirar do Governo do Distrito Federal. Não conseguiram. Hoje, entendo por que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) pediu meu impeachment na tribuna", afirmou o governador.
Para comprovar o que estava dizendo, Agnelo leu um trecho de uma conversa interceptada pela Polícia Federal em que o sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, reclama do tratamento dado pelo governo e afirma que, na gestão do governador, a quadrilha não conseguiu emplacar nem a nomeação de um gari.
Limpeza urbana
O governador deixou sem respostas perguntas sobre a compra de sua casa, por R$ 400 mil. Questionado sobre a forma de pagamento, com cheque ou transferência bancária, limitou-se a dizer que havia entregue à CPI declaração de Imposto de Renda. O deputado Carlos Sampaio afirmou que a quebra de sigilos oferecida à CPI abrangia as movimentações feitas pelo governador entre junho deste ano e junho de 2007 e, por isso, não alcançaria a compra do imóvel, que teria ocorrido em março de 2007.
Os oposicionistas questionaram a evolução patrimonial, que teria sido de 12 vezes desde 2008. O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) lembrou que ele havia processado um jornalista por ter publicado uma matéria em que dizia que Agnelo não teria lastro econômico para comprar a casa. De acordo com o deputado, por não ter justificado como havia adquirido o imóvel, a Justiça não deu ganho de causa ao governador. "Fui vítima de ataques violentos. Eu já provei na Receita Federal, uma das instituições mais sérias deste país, que tinha lastro, sim. Encaminhei ao jornalista meus dados bancários e minha declaração de Imposto de Renda. No entanto, utilizando de má-fé, ele não somou os meus rendimentos com o da minha mulher, que é uma ginecologista aposentada."
Em relação à Delta, empresa pivô do esquema de Cachoeira, Agnelo disse que a companhia tem contrato para limpeza urbana no Distrito Federal, assinado em 9 de dezembro de 2010, quando ainda não tinha assumido o poder. Ele ressaltou que, logo no primeiro mês de gestão, autorizou a realização de auditoria. O governador comunicou que não pediu prorrogação dos contratos da Delta. O compromisso será rompido em 10 dias porque a Delta teria utilizado um documento irregular no processo de licitação. Agnelo informou ainda que não tem nenhuma relação e nunca esteve com o dono da Delta, Fernando Cavendish, e também com o ex-diretor da construtora no Centro-Oeste Cláudio Abreu.
Sobre Cachoeira, o petista afirmou que se encontrou uma única vez com o bicheiro, em uma visita que fez como diretor da Anvisa ao laboratório Vitapan, de propriedade do contraventor. Nesse momento, o deputado Carlos Sampaio perguntou quem o convidou para a visita. Agnelo respondeu que foi a empresa.
"A organização tramou a minha derrubada. E não agiu sozinha. Valeu-se das falsas acusações plantadas no noticiário. Tudo com o objetivo de desgastar e me retirar do Governo do Distrito Federal"
Agnelo Queiroz, governador do DF
Com a sala da CPI lotada, depoimento foi transmitido em um telão
Dois intervalos
O depoimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), começou às 10h26 e terminou às 20h25. Ao longo das 10 horas de depoimento, que teve apenas dois pequenos intervalos, ambos de menos de cinco minutos, quase todos os parlamentares presentes pediram a palavra, diferentemente do que vinha ocorrendo na maior parte das outras sessões. Como de costume, oposição e base aliada gastaram mais tempo com ataques partidários do que com perguntas que tinham como objetivo a pura e simples apuração dos fatos.
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