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segunda-feira, julho 30, 2012

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As marcas do mensalão





Autor(es): JOSIE JERONIMO
Correio Braziliense - 30/07/2012

Personagens que ganharam fama durante as investigações policiais e os trabalhos da CPI dos Correios serão obrigados a reviver os fatos que escandalizaram a sociedade há sete anos
Sete anos se passaram desde que as transmissões ao vivo da TV Câmara e da TV Senado transformaram as sessões da CPI dos Correios em um dos programas de maior audiência do país. No início do segundo semestre de 2005, estatísticas das emissoras do Congresso mostravam que o número de telespectadores havia saltado de 1,3 mil para 14 mil durante os depoimentos da CPI. E, com exceção de políticos que já eram famosos à época, o sucesso televisivo transformou outros personagens do mensalão em figuras conhecidas pelo grande público. No intervalo entre os trabalhos da comissão e o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que se inicia na quinta-feira, todos tentaram retomar a vida, mas não conseguiram se livrar dos efeitos do escândalo.
O ex-assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva e a ex-secretária Fernanda Karina Sommaggio, por exemplo, trocaram a vida em grandes cidades pelo interior. Conhecido como o "homem do dinheiro na cueca", José Adalberto foi flagrado em 9 de julho de 2005 com US$ 100 mil escondidos nas roupas íntimas. À época, ele era assessor do deputado José Guimarães (PT-CE), irmão do ex-deputado e assessor especial do Ministério da Defesa José Genoino. José Adalberto atualmente mora em Aracati (a 150 quilômetros de Fortaleza), responde a processo por improbidade administrativa e até mesmo seu veículo de passeio, modelo Corsa, está preso à decisão de indisponibilidade de bens determinada pelo Ministério Público.
Ex-secretária do empresário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, Fernanda Karina até tentou pegar carona na popularidade da CPI, anunciando à época que aceitaria fazer fotos para uma revista masculina, fazendo as vezes de musa da CPI — semelhante ao papel que a mulher do contraventor Carlinhos Cachoeira, Andressa Mendonça, assumiu na CPI do Cachoeira este ano. Em 2006, Fernanda Karina disputou cadeira de deputada pelo PMDB, mas a empreitada não deu certo. De acordo com familiares dela ouvidos pelo Correio, a ex-secretária se mudou para uma chácara em São Roque (SP) e tem atuado como militante de causas ecológicas. Sua família ainda reside em Varginha (MG).
Quem ainda tenta se recuperar é Carlos Rodrigues. Recursos da ordem de R$ 150 mil para pagar dívidas de campanha acabaram com a vida política do ex-deputado, levaram-no a perder o título de bispo da Universal e ainda a amargar um longo período afastado da igreja e do grupo de comunicação comandado pela organização religiosa. Ainda sem ser chamado de bispo, Rodrigues, aos poucos, retoma as atividades religiosas, realizando palestras e orações. Mesmo sem mandato, ele ainda consta na lista de filiados do PR e comanda a rádio Nova AM, no Rio de Janeiro.
Acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro na denúncia do mensalão, o ex-deputado Romeu Queiroz afirma que desistiu da vida pública e agora comanda a empresa Elus Consultoria, em Belo Horizonte. Também é dono de uma concessionária de veículos em Patrocínio (MG). Apesar de dizer que não quer mais saber de cargos públicos, Queiroz lutou para assumir a vaga de suplente na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, quando o deputado estadual Wander Borges (PSB) assumiu uma secretaria no governo do estado. Queiroz afirma que foi julgado e absolvido pela Câmara dos Deputados e que não há provas contra ele. "Nunca renunciei. Na Câmara, fui julgado e absolvido. Não foi encontrado nada de mensalão. Mas desisti (da vida pública). O mensalão acabou trazendo um desgaste enorme para todos."
Líder do governo na Câmara à época do escândalo, o ex-deputado petista Professor Luizinho deu um tempo na vida política e ingressou no negócio das árvores de eucalipto. Hoje, ele tem uma empresa de reflorestamento em Vitória da Conquista (BA). Luizinho é um dos 38 réus do mensalão acusado de receber recursos do esquema.
Constrangimento
Colega de bancada do líder do governo em 2005, a ex-deputada Angela Guadagnin permanece na vida pública, mas teve que trocar o Congresso pela Câmara Municipal de São José dos Campos (SP) depois de ter a imagem chamuscada ao encenar uma comemoração que ganhou o nome de "dança da pizza". Durante votação do processo de cassação do ex-deputado João Magno (PT-MG), em março de 2006, a ex-parlamentar não se conteve e comemorou quando o placar anunciou a absolvição do colega de partido.
A dança em plenário foi considerada uma afronta à sociedade e a Câmara federal chegou a analisar pedido de afastamento de Angela dos quadros do Conselho de Ética da Casa, órgão do qual fazia parte. Entre os 38 réus do processo do mensalão, apenas os deputados João Paulo Cunha (PT), Valdemar da Costa Neto (PR) e Pedro Henry (PP-MT) conseguiram se manter como representantes do Congresso após o escândalo.
Nunca renunciei. Na Câmara, fui julgado e absolvido. Não foi encontrado nada de mensalão. Mas desisti (da vida pública). O mensalão acabou trazendo um desgaste enorme para todos", Romeu Queiroz, ex-deputado pelo PTB.
Sem previsão de alta para Jefferson
Após passar por uma cirurgia para a retirada de um tumor no pâncreas, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, 59 anos, passa bem e o estado de saúde "evolui satisfatoriamente", de acordo com boletim médico divulgado ontem pelo Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde o ex-deputado federal realizou o procedimento. Ainda segundo a instituição, Jefferson respira sem a ajuda de aparelhos, está lúcido, alimenta-se por meio de uma sonda e recebe a visita de familiares.
Réu no processo do mensalão — ele foi o delator do suposto esquema de compra de apoio parlamentar, em 2005 —, Roberto Jefferson só deve acompanhar o julgamento do caso no Supremo Tribunal Federal pela televisão, uma vez que não há previsão de alta.
O procedimento cirúrgico durou cerca de oito horas e foi realizado pelos médicos Alexandre Prado de Resende, Áureo Ludovico de Paula e José de Ribamar Saboia de Azevedo. De acordo com o hospital, a operação teve uma complexidade acima do comum, devido a uma cirurgia bariátrica prévia. Parte do pâncreas do ex-deputado foi retirada para biópsia. Análises preliminares indicam que o tumor é benigno, mas o resultado definitivo será informado nos próximos dias.
Na semana passada, Jefferson disse que o tumor foi resultado da enorme pressão desde que ele denunciou o mensalão, em 2005: "Eu somatizei (a doença)".

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