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sexta-feira, outubro 05, 2012

PIB, PREÇOS E INFLAÇÃO



Incerteza, heurística e o PIB nominal


Autor(es): Mônica Baumgarten
O Estado de S. Paulo - 05/10/2012
 


Incerteza. Tente defini-la com exatidão. Difícil, não? Se conseguíssemos exprimir o conceito com precisão, não seria incerteza. Tratar-se-ia de risco. Risco não é incerteza.
Experimente responder às seguintes perguntas. Qual é a chance de nevar no Rio de Janeiro em outubro de 2013? Como estará a economia mundial daqui a um ano? No primeiro caso, é fácil dizer que a probabilidade se aproxima de zero, o risco é baixo. Já no segundo, se a resposta que lhe veio à mente foi "não faço a menor ideia", isso é incerteza.
A tomada de decisão sob incerteza é complicada. No entanto, fazemos isso todo dia, orientando-nos por regras simples que nos protegem da ignorância sobre o ambiente que nos cerca. Pensem, por exemplo, no trânsito de uma grande cidade. A quantidade de carros nas ruas durante os momentos fora dos horários de pico é imprevisível. Para reduzirmos as chances de ficarmos presos num engarrafamento angustiante, muitas vezes seguimos rotas mais longas até o destino, caso imaginemos que o trajeto acabe sendo mais rápido. Isso é um exemplo de heurística: uma regra de bolso que nos auxilia em situações de total ignorância.
Curiosamente, embora a tomada de decisão sob incerteza seja algo corriqueiro, os economistas não estão acostumados a fazê-la. A maior parte do arcabouço teórico usado pela profissão pressupõe que os gestores de política econômica tomem decisões baseadas em riscos calculados e calculáveis. Quando o Banco Central (BC) brasileiro diz que o "balanço de riscos é neutro", ao explicar suas decisões de política monetária, como fez recentemente no Relatório de Inflação, ele está se referindo aos modelos em que os riscos para a atividade e para a inflação são mensuráveis, permitindo uma sintonia fina da política monetária. Os modelos que fundamentam os regimes de metas de inflação são sofisticados, exigem grande quantidade de informação e pressupõem uma enorme capacidade de mapear os riscos da economia. Eles não são resistentes à incerteza.
O mundo de hoje está cercado de incertezas. O que ocorrerá com a economia americana? Qual será o desenlace da crise europeia? A China será mesmo capaz de alcançar o pouso suave que muitos imaginam? Como os desarranjos monetários globais influenciarão os rumos da economia mundial nos próximos anos? Não temos respostas para nada disso. Tampouco somos capazes de atribuir probabilidades aos possíveis caminhos que porventura consigamos imaginar. Isso significa que os princípios de tomada de decisão que caracterizam os regimes de metas inflacionárias não se adaptam bem à realidade atual.
Como substituí-los? Substituí-los pelo quê? Um candidato é uma meta para a expansão do PIB nominal. O PIB nominal é um conceito simples. Trata-se da soma de todos os gastos da economia num determinado período. Numa regra de PIB nominal, basta que o BC calibre os juros para alcançar um determinado objetivo para o dispêndio nominal, uma expansão de 5%, por exemplo, como fez o Reino Unido em 2009. Essa regra é mais bruta, menos sofisticada do que as metas de inflação. No entanto, ela é mais robusta à ignorância aguda que acomete os bancos centrais. Não é necessário que saibam mapear os efeitos de seus instrumentos de política sobre o crescimento, o desemprego e a estabilidade de preços. Basta que sustentem um determinado nível de dispêndio, de preferência do setor privado. Diante da escuridão que envolve o Fed, o Banco Central Europeu e, também, o BC brasileiro, a meta de PIB nominal parece ser uma heurística razoável.
No nosso caso, o risco de ter uma meta de PIB nominal para a política monetária seria de gerarmos mais inflação do que crescimento - a expansão do PIB nominal é a soma dos dois. Mas isso já ocorre desde o ano passado. E uma forma de evitar uma inflação descontrolada seria estabelecer um teto para a alta de preços, digamos de 5,5% ou de 6%, acima do qual o BC se comprometeria a agir. Antes que se diga que a ideia é um absurdo, cabe a pergunta: não é isso, na prática, o que o BC já está fazendo? Não seria melhor que o fizesse às claras?

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