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quarta-feira, dezembro 26, 2012
2014: PRESIDENCIÁVEIS (O ano em que faremos contato)
Os riscos que Dilma corre para se reeleger
Rosângela Bittar |
Valor Econômico - 26/12/2012 |
A dois anos de uma eleição o que importa, em matéria de declaração de intenção de voto revelada em pesquisas e índices de popularidade é a situação do "incumbente". É o que dizem os especialistas. Ou seja, vale a situação daquele que está no cargo, com a responsabilidade da tarefa e é candidato à reeleição. Esse é quem precisa estar bem. Se a situação se apresenta instável, a derrocada se avizinha e dá oportunidade para ultrapassagens extemporâneas na disputa.
Portanto, a levar em conta essa perspectiva, as duas últimas pesquisas, do Ibope e do Datafolha, divulgadas na semana passada, registraram que a presidente Dilma Rousseff é mesmo quem está em melhor situação para 2014. Enquanto todos os outros se embolam em um segundo lugar variado, mesmo que um tenha 19%, outro 14%, outro 7%. A esta altura, a diferença entre esses níveis do patamar inferior não tem grande importância.
Quem está mais confortável no cenário é, também, quem enfrenta riscos. Resta avaliar a solidez da popularidade de Dilma e os riscos de sangria na sua hoje excelente situação.
A presidente está bem hoje mas corre contra o relógio;
A economia continua sendo, aqui e no mundo, o principal flanco. Se a economia não deslanchar, se não aparecerem os resultados concretos da política que tem o objetivo de estimular investimentos, se o setor privado não superar a crise de desconfiança, surgem os fantasmas de qualquer campanha eleitoral: o desemprego e a queda de renda. Vê-se, sobretudo nesse fim de ano, um esforço brutal de comunicação da presidente com o empresariado, com os investidores, com a sociedade, para transmitir segurança, confiança, regulação e medidas que delineiem um quadro mais favorável aos negócios.
Mas há outros.
O cipoal de escândalos de corrupção não atingiu o ex-presidente Lula como não tem atingido a presidente Dilma, cuja popularidade só cresce, mas depois do julgamento do mensalão e seus desdobramentos a impermeabilidade aos focos de irregularidades no governo pode mudar.
No primeiro ano de governo, quando demitiu vários ministros com poucos meses no cargo por causa de denúncias de corrupção, a presidente viu elevar-se seu índice de aceitação, passou a receber elogios públicos de artistas e analistas que lhe atribuíram sucesso com a autoria da faxina governamental.
Porém, segundo avaliações feitas a posteriori, sobretudo depois que se multiplicaram os escândalos de corrupção também no segundo ano de governo, a interpretação de que seus índices de popularidade tinham crescido por causa do combate à corrupção pareceu precipitada. Naquele momento, cortejada até pela oposição por haver se diferenciado do ex-presidente, ela poderia simplesmente estar, ainda, sucedendo a popularidade do seu padrinho político e inventor.
A equação corrupção-governo Lula, com as novas investigações que têm sido pedidas após o julgamento do mensalão, e as novas operações de combate deflagradas pela polícia federal, deixando o ex-presidente tão a descoberto quanto aflito para demonstrar força e liderança que suplantem o desfavor, formam um segmento de forte risco para os planos de Dilma. Que pode perder, nesse caso, onde ganhou no início, permitindo que se desfaça a ideia, cristalizada no início do governo, de que não é igual ao seu antecessor no que toca à mistura do interesse público com o privado. Aqui a presidente terá que caminhar em corda bamba, com atenção onde pisa para chegar ao fim da linha com a imagem preservada.
O eleitorado cansou de mostrar, ao longo de todo o ano de 2012, inclusive depois de iniciado o julgamento do mensalão com o reconhecimento de que houve corrupção, houve dinheiro público envolvido no crime e o governo participou, que não se deixa mobilizar por esse assunto. Gosta de saber que a impunidade não é mais um mal inexorável mas não fica remoendo a desgraça eleitoralmente. Não liga muito para corrupção, mostram as pesquisas, fato sempre enfatizado por analistas que produzem trabalhos para o governo e para o PT. A incongruência desse eleitorado - corrupção pode, punição também - pode também resultar em risco eleitoral. Não se sabe para que lado evoluirá.
Um terceiro risco a destacar é o da gestão do governo nas áreas consideradas essenciais pela população de classe média e mais pobre que precisa dos serviços públicos. A presidente tem falado muito em educação, mas nada em saúde. Mesmo se conseguir deslanchar obras, conquistar os investimentos privados, passar incólume pelas denúncias contra seu padrinho político, de cujo governo foi braço direito, ainda terá sobressaltos se viver mais uma campanha de cenas terríveis em hospitais públicos e privados. A saúde não aconteceu e não há sinais de medidas que a levem a bons resultados em dois anos. O flanco da saúde é também de um risco imenso, e esse, ao contrário da sempre reclamada providência de governo na área de segurança, não dá para empurrar para os governos estaduais e municipais.
Por enquanto, Dilma tem resistido a tudo, é uma governante que tem a simpatia da população e sabe que é preciso manter o clima o tempo todo. Isso é mais importante, no momento, que as intenções de votos nos adversários. Que também não deixaram de ser surpreendentes.
O fato de o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal e relator do mensalão, julgamento que puniu políticos, banqueiros e funcionários do governo, ter recebido 9% ou 10% das intenções de voto, sem ser político e jamais haver se candidatado a cargos eletivos, tem um significado. Como também tem indicação de rumo o que as pesquisas mostram sobre o governador Eduardo Campos (PSB) e o senador Aécio Neves (PSDB), possíveis candidatos. Na mesma faixa de popularidade do jamais político Joaquim, eles são pouco conhecidos para o tanto que já se expuseram e precisam procurar crescer. A mesma falta de nitidez acomete a candidatura Marina Silva (sem partido). Ela tem mais intenção de votos que seus prováveis adversários mas claramente uma lembrança da campanha anterior. De lá para cá a ex-senadora perdeu o partido, ficou sem mandato e passou os últimos dois anos em esporádicas conferências pelo circuito universitário.
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