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quarta-feira, dezembro 26, 2012

GOVERNO DILMA e DILMA ROUSSEFF [In:] O QUE DIZ O TARÔ? ('sic')



Dilma na segunda metade do mandato



Autor(es): Elio Gaspari
O Globo - 26/12/2012

Na próxima semana a douto­ra Dilma entrará na segun­da metade de seu mandato, e são poucas as pessoas dispostas a dar a volta no quarteirão para aporrinhá-la. Ela deve esse êxito a algumas qualidades pessoais e a dois patronos: Lula e Fernando Hen­rique Cardoso, com seus dezesseis anos de estabilidade democrática e econômica. 
Um restabeleceu o valor da moeda, o outro batalhou para re­duzir as desigualdades sociais. Sem FHC não haveria Lula e, graças aos dois, o país pode se dar ao luxo de ter uma governante que chega cedo ao trabalho, toca o barco e não se vê obrigada a dar a impressão de que precisa salvar o país. 
Parece pouco, mas em quase meio século todos os presidentes foram obrigados a dar es­sa impressão. Uns pretendiam salvá- lo dos perigos da democracia, outros da ruína econômica.
As circunstâncias (percebidas por Lula) deram-lhe a oportunidade. 
Seu desempenho comprovou a efi­cácia da ideia, e Dilma vestiu o papel com a naturalidade com que veste seu medonho casaquinho de renda branca. 
Afastou-se da rotina do Con­gresso, deixando-o deslizar para um papel perigosamente banal. Man­tendo-se longe das tensões provoca­das pelo contencioso dos clepto-companheiros ela foi um fator relevante no engrandecimento do Judi­ciário. 
Colocou na surdina a diplo­macia de atabaques que herdou. Meteu-se numa estudantada com o Paraguai, mas saiu dela exercitando o silêncio. Resta saber como justifi­cará uma eventual quebra da ordem constitucional na muy amiga y companera Venezuela.
Há algo de impessoal na doutora. Afora os destemperos que afligem seus ministros, não se deu ao folclore. Resta a imagem da gerentona, que é tudo o que um país precisa. Seus pibinhos, associados à incerteza criada na gerência das concessões de petró­leo, energia e transportes mostram que ela terá os próximos dois anos para confirmar a expectativa. Por en­quanto, nas áreas de saúde e educa­ção produziu mais do mesmo, um mesmo de baixa qualidade.

Se a doutora Dilma for avaliada pe­lo que prometeu, os dois primeiros anos de governo foram apenas médi­os. Para quem ofereceu seis mil cre­ches até 2014 e entregou apenas sete, nem médio foi, mas atire a primeira pedra quem acreditou nessa parolagem da campanha. Dois governos que prometeram realizar dois exames anuais do Enem até hoje não cumpri­ram a meta
Em vez de discutir o fra­casso, saiu-se com uma nova oferen­da: o Enem por computador. 
Para uma ex-ministra de Minas e Energia, é uma humilhação governar um país onde o presidente do Operador Naci­onal de Sistemas diz que Pindorama tem que aprender a conviver com apagões.
Fica a impressão de que há no Pla­nalto uma gerentona apertando os botões de uma máquina que não fun­ciona. E não adianta dar bronca, por­que se acessos de fúria ajudassem os presidentes, o general João Batista Fi­gueiredo teria sido um campeão. Co­mo diria o ministro Aldo Rabelo, quem fazia o certo era o marechal Floriano Peixoto, com seu cigarrinho de palha no canto da boca e o revólver no coldre. Foi a alma de Floriano quem deu à doutora a maior vitória de seus primeiros dois anos: o enqua­dramento da banca e a queda dos ju­ros.
Seu êxito é simples: pela primeira vez, em décadas, há poucas pessoas no Brasil querendo que a presidente se dane.
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