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quarta-feira, dezembro 26, 2012

EU NÃO ACREDITO NO MAIA (ou, Perdeu, playboy!)



Nosso Maia e a profecia

Autor(es): Zuenir Ventura
O Globo - 26/12/2012

Sobrevivi ao fim do mundo, ao Natal com todos os excessos e agora estou prepa­rando o fígado para sobreviver ao fim do ano. Enquanto isso, gostaria de ver a ca­ra dos que acreditaram na tal profecia maia, que dava o dia 21 como o do encerramento de nossa passagem por este vale de lágrimas. É impressionante a credulidade das pessoas, a facilidade com que acreditam em qualquer te­oria, principalmente se vem envolta num halo místico: milenarismo, adventismo, sebastianismo e até comunismo. Não adianta mostrar que todas as profecias apocalípticas fracassaram — do milenarismo, que previa a volta de Cristo no ano 1000, até o Bug do Milênio, que anunciava o caos eletrônico, passando pela ameaça do co­meta Halley em 1910. Esses crentes estão por toda parte. Na China, cerca de mil foram presos acusados de difundir o boato alarmista. A polí­cia de Pequim teve que divulgar um comunica­do de involuntário humor, avisando que "o fim do mundo é um rumor" Nos EUA, a Nasa preci­sou reunir cientistas para desmentir na inter­net a enxurrada de cartas de pessoas em pâni­co. Algumas das mensagens falavam em suicí­dio. Um casal queria matar os filhos para que eles não presenciassem o apocalipse, ou seja, que morressem para não ver a morte. Pode?
Na Noruega, um homem fabricou um bote salva-vidas para enfrentar o dilúvio universal. Na França, fanáticos acorreram para um pico de 1.200 metros dè altitude, na comuna de Bugarach, porque alí, segundo a profecia, seriam poupados da tragédia planetária. Para o templo maia Gran Jaguar, na Guatemala, acorre­ram multidões de estrangeiros. Na Argentina, um usuário anônimo de uma página no Face- book escreveu: "Convidamos a todos os cren­tes, seres e guerreiros de luz a um suicídio espi­ritual em massa no morro Uritorco, em Córdoba." O convite acrescentava: "Abandonemos a nossa carne impura e transportemos nosso es­pírito através do portal interdimensional às 21h12 minutos de 21/12/12 e dessa forma seja­mos o exército de luz que salvará a humanida­de." Se não era uma brincadeira, a iniciativa não teve muito sucesso: o "suicídio mágico" es­perava 15 mil seguidores e só teve cerca de 150.
O mais engraçado é que, mesmo desmorali­zado, o fim do mundo virou uma metáfora para expressar situações ou atitudes absurdas. Nada mais fim do mundo, por exemplo, do que o pre­sidente da Câmara dos Deputados — de sobre­nome sugestivo — desafiar o STF em defesa de colegas condenados, ameaçando um apocalip­se institucional, que por enquanto foi evita­do.

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