Escassez na Venezuela chega às igrejas: faltam vinho e hóstias para as missas
Produtos básicos também somem de farmácias e mercados
Caracas
A crise de abastecimento de produtos na Venezuela não poupa nem a Igreja Católica.
Depois da escassez de papel higiênico, que levou o governo a importar 50 milhões de rolos e provocou uma corrida aos supermercados, faltam vinho e hóstias para a celebração de missas.
A Comissão de Liturgia da Conferência Episcopal da Venezuela publicou um comunicado no qual afirma que seu fornecedor já não pode garantir a produção e a distribuição dos produtos por falta de insumos. O estoque de vinho só duraria mais dois meses. Sem expectativa de resolver o problema, a Igreja, a exemplo de muitos venezuelanos impacientes com as prateleiras vazias, espera por um milagre.
O problema piorou nas últimas semanas, com a falta de divisas para importar vinhos de outros países. A Conferência Episcopal defende o uso da bebida em seu estado "mais puro e natural possível" e, na falta de produto nacional, sugeriu no comunicado a adoção temporária de marcas argentinas e chilenas, consideradas mais baratas que as vindas de França, Espanha ou Itália.
- Sua falta é iminente - afirmou Macky Arenas, diretora do "Reporte Católico Laico". - E faltará trigo para as hóstias. Esse é um problema maior.
impasse político
A ameaça de escassez de vinho e hóstias para a Igreja Católica reflete apenas parte de um grave problema de abastecimento. Enquanto o governo importava os rolos de papel higiênico, há poucas semanas, navios traziam da Nicarágua 15 mil toneladas de açúcar e outros insumos. As filas intermináveis em supermercados da capital e do interior do país em busca de farinha, carne e café tornaram-se frequentes. E, além dos alimentos, faltam remédios em hospitais e farmácias.
À crise de abastecimento soma-se a crise política formada após as eleições presidenciais de 14 de abril, que deram vitória a Nicolás Maduro por menos de dois pontos de vantagem sobre o rival, Henrique Capriles.
A oposição alega fraude e ainda espera a resposta do Tribunal Supremo de Justiça sobre um pedido de impugnação da votação. E, recentemente, passou a criticar a suposta censura que estaria ocorrendo na Globovisión, que era o único canal de TV independente do país.
Capriles acusa a nova direção da emissora, que assumiu há poucas semanas, de ceder à pressão do governo chavista e proibir a transmissão ao vivo de seus discursos. Na esteira das mudanças editoriais no canal, vários funcionários foram despedidos ou pediram demissão de seus cargos - entre os mais recentes, Kico Bautista, demitido no final de semana após exibir um ato político do opositor.
As mudanças não se limitam à Globovisión: ontem, o canal Venezolana de Televisión (VTV), estatal, confirmou o fim do programa "La Hojilla", apresentado pelo jornalista Mario Silva, conhecido simpatizante do chavismo.
A saída foi anunciada oito dias depois da divulgação de uma suposta conversa gravada de Silva com Aramis Palacios, um funcionário do serviço cubano de inteligência. No áudio, o jornalista revelaria a existência de uma rede de corrupção dentro do atual governo - o que, por razões óbvias, teria desagradado ao alto escalão chavista.
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