Crise na relação com Cabral reduz presença de Dilma no Rio
Após pressão do governador sobre royalties, presidente diminuiu viagens ao estado
Paulo Celso Pereira
Cássio Bruno
BRASÍLIA e RIO
A manifestação do governador Sérgio Cabral durante o jantar do PMDB na semana passada dizendo que não apoiará a reeleição da presidente Dilma Rousseff caso o PT tenha candidato ao governo do Rio foi apenas o mais recente sinal de desgaste da relação entre os dois.
Um levantamento do GLOBO nas viagens da presidente ao Estado do Rio mostra que há uma inequívoca mudança na relação. Nos primeiros 20 meses de seu governo (entre janeiro de 2011 e agosto de 2012), a presidente fez 21 viagens ao Rio, média de mais de uma por mês. Já nos últimos nove meses (de setembro de 2012 até hoje), foram apenas três, todas neste ano: uma para visitar vítimas de deslizamentos na Serra, outra para o jogo-teste do Maracanã e apenas uma para inauguração de equipamentos públicos: uma fábrica, um hospital e o Museu de Arte do Rio (MAR).
O desaparecimento da presidente a partir do segundo semestre do ano passado coincide com a primeira crise pública na relação com Cabral.
Foi a partir de outubro, com a retomada da discussão da redistribuição dos royalties do pré-sal, que a relação começou a degringolar.
Cabral concedeu entrevistas afirmando que a presidente tinha o compromisso de vetar as alterações que poderiam inviabilizar financeiramente o estado. A presidente sentiu-se emparedada e não gostou. Tanto que manifestou a interlocutores, na ocasião, que considerou um erro a posição do governador de não buscar um acordo com os representantes de outros estados.
Agora, na antecipação da disputa eleitoral de 2014, Cabral volta a utilizar a pressão pública para tentar garantir o apoio da presidente à candidatura de Luiz Fernando Pezão. De acordo com interlocutores da presidente, ela estaria muito incomodada com essa postura.
A mudança na relação é evidente. O primeiro grande ato de campanha de Dilma à Presidência, em julho de 2010, foi exatamente no Rio. Em uma sexta-feira chuvosa, ela foi recebida por Sérgio Cabral, pelo vice Pezão e pelo então candidato ao Senado Lindbergh Farias - hoje pré-candidato ao governo contra Pezão -, em um comício na Cinelândia. A presidente encerrou o segundo turno da eleição com 4,9 milhões de votos no estado, 1,7 milhão a mais que o tucano José Serra.
Nos dois primeiros anos de seu governo, Dilma manteve a relação amistosa. Participou de eventos para três anúncios ou inauguração de obras habitacionais, inaugurou hospitais, clínicas, escolas, visitou o comando de pacificação do Complexo do Alemão, esteve em cerimônias de batismo de plataforma e navio e até no ato de início da construção de submarinos. Além disso, passou quatro dias na cidade para a conferência sobre clima Rio+20.
Em vários desses eventos, Dilma era acompanhada pelo governador e pelo vice Pezão. Curiosamente, apesar da crise com Cabral, Dilma vem deixando claro a interlocutores que a ótima relação com Pezão permanece inalterada.
Questionada sobre o que teria provocado a redução nas viagens ao estado, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República afirmou apenas que "as viagens da presidenta são programadas de modo a conciliar as disponibilidades de sua agenda com ações de política pública que justifiquem sua presença, tais como inaugurações, lançamentos, vistorias, etc.".
Aécio minimiza possível aliança
Ontem, o presidente do PSDB e pré-candidato a presidente, Aécio Neves (MG), disse que tem boas relações com o peemedebista, mas que ainda é cedo para falar em alianças:
- Eu tenho uma relação pessoal com o Sérgio. E em determinados momentos soubemos respeitar as condições políticas de cada um. Não me movo hoje por uma aliança específica no Rio. Para o Rio de Janeiro, o PSDB está construindo um projeto próprio que espero que a população receba muito bem - disse Aécio.
A aproximação entre Cabral e o PSDB do senador Aécio Neves vem ganhando força depois do agravamento da crise com o PT nos últimos meses. Diante da resistência dos petistas em abrir mão da candidatura de Lindbergh à sucessão estadual, o governador do Rio e sua tropa de choque têm se alinhado com os tucanos fluminenses. O presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, por exemplo, já conversou com o presidente regional do PSDB, Luiz Paulo Corrêa da Rocha. O vice-governador Luiz Fernando Pezão se encontrou com o deputado federal tucano Otavio Leite pelo menos duas vezes. Até o prefeito Eduardo Paes, do PMDB, se reuniu com Luiz Paulo e Otavio Leite.
- Pelas conversas, ao que tudo indica, são grandes as chances de haver uma ruptura na aliança PT e PMDB no Rio. Consequentemente, é possível, sim, que se consolide um palanque entre o PSDB e o PMDB - afirmou um dirigente tucano.
Para aliados de Cabral, o governador se precipitou ao antecipar a disputa eleitoral com o PT. Segundo eles, é possível que, dentro do PMDB nacional, Cabral reme sozinho na direção de Aécio, ficando isolado. Além disso, na avaliação dos aliados, a pressão que Cabral está fazendo sobre Dilma para que os petistas apoiem Pezão estremeceu a relação entre a presidente e o governador.
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