Empresários avaliam opções a Dilma
A insatisfação do empresariado com o cenário macroeconômico tende a abrir espaço para o avanço das campanhas de adversários da presidente Dilma Rousseff em 2014. Pesquisas com presidentes de 97 das 200 maiores empresas do país feitas pelo Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos revelaram um aumento de 33% para 69% entre os entrevistados que apontaram o cenário econômico como maior entrave à competitividade. Dilma perde para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na preferência deles. Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), teve 11% de "votos" na última enquete.
Grandes empresários preferem Aécio, mas acham que Dilma leva
Por Marli Olmos, Marcos de Moura e Souza e Murillo Camarotto | De São Paulo, Belo Horizonte e do Recife
A insatisfação do empresariado com o cenário macroeconômico tende a abrir espaço para o avanço das campanhas de adversários da presidente Dilma Rousseff na eleição de 2014. Pesquisas com presidentes de 97 das 200 maiores empresas privadas do país, realizada pelo Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), revelaram um súbito aumento de preocupação com essa questão e uma diminuição na preferência por Dilma, na mesma velocidade.
Entre a primeira abordagem, em agosto, e a mais recente, em abril, o percentual dos entrevistados que apontaram o cenário econômico como maior entrave à competitividade saltou de 33% para 69%. Dilma perde para o senador Aécio Neves (PSDB) na preferência dos executivos, embora a maioria aponte a petista como vencedora. Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), escondido em meio a outros prováveis candidatos na pesquisa de oito meses atrás, ganhou, sozinho, 11% das preferências na última enquete.
A maioria dos executivos que comandam grandes companhias no país prefere Aécio Neves. O percentual dos entrevistados que disseram votar no tucano cresceu de 56% em agosto para 66% no mês passado. A percepção dos dirigentes das maiores companhias privadas do país é, no entanto, de que suas posições estão muito distantes do que pensa a maioria dos eleitores. Nas duas abordagens, mais de 60% dos entrevistados apontaram Dilma como a provável eleita no pleito de 2014. Nas respostas colhidas há um mês, o total dos que acreditam que Dilma será reeleita chegou a 68%.
Embora nenhum dos entrevistados seja identificado, a pesquisa da ABRH envolve dirigentes que são referência na comunidade empresarial. A grande maioria dos grupos que eles representam tem atividade espalhada por todo o território nacional, há várias multinacionais e muitas exportadoras de peso.
O fórum de presidentes é um evento fechado ao público que a ABRH realiza anualmente em São Paulo. Elaborada pela vice-presidente da associação, Elaine Saad, junto com os coordenadores Betania Tanure, Luiz Carlos Cabrera e Vicky Block, a pesquisa é feita durante o evento. Trata-se de uma forma que os organizadores encontraram para detectar os temas que mais preocupam os representantes das empresas. Com esses dados em mãos, a equipe define o formato e as prioridades das discussões do encontro no ano seguinte.
Em pesquisa, 68% dos altos executivos do país preveem que Dilma será reeleita, mas só 12% votariam nela hoje.
Esse encontro de executivos é provavelmente um dos únicos que, de fato, reúne somente presidentes de empresas. "O convite é pessoal e intransferível", diz Betania Tanure. Geralmente, as questões são feitas no meio da reunião e o resultado, apurado de forma eletrônica, aparece em telão imediatamente. Mas este ano, a equipe inovou. Decidiu repetir em abril o questionário distribuído aos presidentes na reunião do último fórum. E enviou as mesmas perguntas aos que haviam participado do evento em agosto. "Quisemos atualizar as opiniões para aperfeiçoar o programa do próximo encontro", diz Betania, também consultora da BTA.
Embora Aécio Neves seja o candidato no qual os empresários ouvidos pela ABRH dizem querer votar, as chances de o tucano vencer caíram entre as duas últimas pesquisas. Por outro lado, a visibilidade da candidatura do governador Eduardo Campos aumentou.
Em agosto, à pergunta "em relação à próxima eleição para presidente quem é seu preferido?", Campos aparecia numa resposta que o unia à ex-ministra Marina Silva e "outros", com total de 19%. Naquela abordagem, apenas 4% achavam que ele ou qualquer outro candidato poderiam ser eleitos. O quadro mudou há um mês. Campos ganhou sozinho a preferência de 11% dos entrevistados e Marina ficou com 6%. Mas à questão "quem deve ser eleito", apenas 3% apontaram o nome do governador pernambucano.
Em relação às preocupações dos representantes setor produtivo, o visível aumento da preocupação com o cenário macroeconômico provavelmente deve ter guiado os organizadores da ABRH a escolher Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, como palestrante do próximo fórum, a 13ª edição do evento, em agosto.
Apesar das incertezas com a macroeconomia, a infraestrutura foi a campeã, em ambas as pesquisas, na questão sobre os entraves que a empresa do entrevistado enfrenta para acelerar a competitividade. Os problemas com estradas, portos e logística em geral foram citados por 70% dos executivos que estavam no fórum de agosto e repetida por 71% dos que responderam ao questionário enviado em abril.
Por outro lado, o empresariado demonstra estar hoje menos angustiado com custos tributários do que há oito meses. Na pesquisa de agosto essa questão apareceu com tanto destaque quanto os problemas logísticos. Total de 71% dos entrevistados apontaram custos com impostos como um dos três maiores entraves para acelerar a competitividade. Já na sondagem de abril, apenas 26% das respostas indicaram a questão tributária entre as maiores preocupações.
O Valor ouviu vários homens de negócios e do setor financeiro que atuam em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco. Todos, representantes de grupos que são referência e a maioria com atuação nacional, falaram sob a condição de não ter seus nomes e os de suas empresas divulgados. Alguns pediram que tampouco os setores em que atuam fossem mencionados, sob a alegação de que seus comentários sobre política poderiam não ser adequados aos negócios.
Embora grande parte dos representantes de vários setores se mostre satisfeita com recentes programas governamentais, incentivos fiscais e outras medidas que beneficiaram as empresas nas três últimas gestões do Partido dos Trabalhadores, homens que comandam empresas líderes em seus setores começam a prestar atenção em indicações do que eventuais plataformas de Aécio Neves e Eduardo Campos podem conter. A insatisfação com o atual cenário macroeconômico pode, portanto, ser uma brecha para esses opositores elaborarem a estratégia de suas campanhas.
As mudanças nos impostos, destaca um alto executivo em São Paulo, não devem ser em alíquotas, mas na estrutura. O ponto principal, para esse dirigente, que representa uma grande empresa que atua no Brasil e exterior, é que eventual reforma "não empobreça os Estados". Em sua opinião, o que muitos chamam de guerra fiscal é distribuição de renda. "Se os impostos não fossem diferentes, não haveria fábricas no Nordeste", diz. Embora sem candidato definido, esse executivo já sabe, porém, o que busca nas plataformas políticas: investimentos em infraestrutura e reforma tributária.
Concentrados nas bases de origem dos opositores mais fortes - Minas Gerais e Pernambuco - movimentos silenciosos indicam que a campanha de Dilma Rousseff já enfrenta uma discreta concorrência. Em Minas, vários dos executivos ouvidos pelo Valor conhecem Aécio pessoalmente e alguns têm relações próximas com ele; outros o conhecem como figura central do Estado desde o início dos anos 2000. Aécio foi governador por dois mandatos antes de eleito senador.
Os líderes empresariais de Minas têm em Aécio a imagem de alguém pragmático, de um gestor sem manchas de corrupção no currículo e com experiência no Legislativo e no Executivo. Por outro lado, entusiastas da candidatura do tucano se referem ao fato de Aécio não ter dito que realmente quer o Planalto. "Para ser candidato, ele precisa se posicionar rapidamente", diz um líder empresarial.
A um ano e cinco meses do primeiro turno da eleição presidencial, os empresários demonstram dificuldade para captar um discurso de Aécio para 2014. Ao ser perguntado se já identifica nas declarações do representante do PSDB alguma ideia capaz de empolgar eleitores, um deles - que se diz fã do senador - afirma: "Não vi nada ainda que possa sensibilizar o eleitorado, a não ser críticas ao governo". Outro executivo de uma empresa com atuação nacional, acrescenta: "Acho que ele ainda está sem discurso de candidato".
Problemas de infraestrutura preocupam 71% dos líderes das maiores empresas do país.
Para alguns conterrâneos do senador mineiro, a imagem pessoal que ele projeta de boêmio, frequentador de endereços e rodas elegantes poderá atrapalhá-lo numa disputa por eleitores nos rincões do Brasil. "Ele pode parecer a muitos como alguém que não quer abrir mão da vida que tem no Rio, de curtir a noite. Não vejo essa vida muito condizente com a de um presidente", diz um dos poucos que demonstrou mais resistência ao tucano.
Apesar disso, Aécio, nas palavras de um dos entrevistados, conseguiu se converter numa liderança em Minas como há décadas não se via. Sua tradição familiar na política - desde jovem ele aparecia ao lado do avô, Tancredo Neves -, seu carisma e jovialidade empolgam muitos empresários. A avaliação corrente é que o tucano não terá nenhuma dificuldade em atrair doadores de campanha no Estado, ainda que Dilma Rousseff confirme o favoritismo nas pesquisas e que o tucano use a eleição de 2014 como passagem para a de 2018.
Já em Pernambuco, Eduardo Campos trabalha para ser o candidato oficial do empresariado, posto tradicionalmente ocupado pelo PSDB. Para isso, ele aposta no modelo de gestão pernambucano como seu cartão de visitas. O candidato do PSB tem intensificado esforços na aproximação com o setor financeiro. À medida que a pré-candidatura presidencial começou a ganhar corpo, Eduardo Campos visitou banqueiros como Lázaro Brandão (Bradesco) e Roberto Setúbal (Itaú) e foi visitado por André Esteves e Pérsio Arida (BTG Pactual).
Para um banqueiro de Pernambuco, Eduardo Campos e Aécio Neves disputam o apoio empresarial para a corrida ao Planalto com as mesmas bandeiras: eficiência do setor público e revisão do pacto federativo. O histórico político e as idades também são parecidos. O que fará a diferença, a seu ver, é a vontade de ser presidente. "Eduardo quer muito e o querer é fundamental; é um diferencial que ele tem", diz.
O governador de Pernambuco tenta caprichar no discurso que pode atrair o empresariado e o setor financeiro. Desde que passou a considerar a hipótese de concorrer ao Planalto, expressões como metas, monitoramento, meritocracia e resultado - que soam como música aos ouvidos do empresariado - foram incorporadas ao discurso cotidiano de Campos e dos principais membros de sua equipe. Campos também tem repetido com certa frequência que "o Brasil pode fazer mais e melhor", slogan semelhante ao adotado em 2010 pelo então presidenciável José Serra ("O Brasil pode mais").
Os bilionários investimentos públicos e privados direcionados a Pernambuco - muitos dos quais incentivados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - também lhe deram a oportunidade de aprofundar os laços com altos executivos. "Ele parece ter uma proposta diferenciada e tem seguido essa linha do político/gestor. Tem se articulado e pode acabar sendo o candidato da classe empresarial", diz o presidente de uma multinacional.
Um dos principais colaboradores para a elaboração do modelo de gestão de Pernambuco, baseado na perseguição de metas, é o empresário Jorge Gerdau. Apesar de sua proximidade com a presidente Dilma Rousseff, Gerdau é visto no Recife como um dos principais trunfos de Campos no meio empresarial. Grandes empreendedores nordestinos, como Ivens Dias Branco (M.Dias Branco), também são considerados aliados.
Além de outros representantes do setor financeiro, como os casos de Marcial Portela (ex-Santander) e José Olympio (Credit Suisse), foram também procurados pelo governador os comandantes de gigantes como Odebrecht, Cosan e Vicunha Têxtil. A possibilidade de a candidatura de Campos se materializar tem despertado a curiosidade dos empresários sobre suas eventuais ações como presidente.
Em meio às dúvidas sobre o rumo da política monetária, Campos disse em abril que a elevação da taxa básica de juros não seria nenhum desastre. Enquanto correligionários à esquerda espernearam, representantes do setor financeiro cochicharam elogios.
Ao Valor, um banqueiro disse que a declaração do governador é "óbvia" e apenas reforça seu compromisso inequívoco com a soberania do mercado. "Não dá para querer se impor ao mercado. Nenhum governante pode ter hoje a ilusão de que pode dirigir a política de juros. Campos demonstrou que, para ele, está claro que querer dirigir o mercado transcende a ser de direita ou de esquerda", diz.
Em geral, o povo pernambucano também defende o papel do Estado como indutor dos investimentos privados, porém com maior clareza nas regras e possibilidade de lucros. Também é grande entusiasta das concessões, das parcerias público-privadas e de um ministro da Fazenda discreto. "Como um bom juiz de futebol, quanto menos aparecer, melhor é o desempenho", diz um interlocutor privilegiado de Campos.
Em 2002, o empresário Eugênio Staub, da Gradiente, surpreendeu o mercado ao anunciar seu apoio à candidatura Lula. Apesar da simpatia declarada nos bastidores, nenhum empresário ainda manifestou publicamente apoio ao projeto de Campos. O único fato concreto, aliás, foi a perda de José Batista Júnior, do frigorífico JBS, que trocou o PSB pelo PMDB e pode disputar o governo de Goiás. (Colaborou Luciana Seabra, de São Paulo)
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