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sexta-feira, maio 17, 2013

MP 595. PERCO O EMPREGO MAS NÃO PERCO UMA PIADA...

17/05/2013
Um milagre de 41 horas


Enquanto caciques comemoravam o esforço parlamentar para votar MP, servidores se divertiam com piadas sobre raro momento de trabalho

JOÃO VALADARES


No cafezinho da Câmara, na tarde de ontem, dois servidores da Casa conversavam animadamente sobre o que chamavam de “verdadeiro milagre do século”. Numa mesa de canto, falavam muito, riam e faziam piada da jornada histórica de mais de 41 horas a que os parlamentares foram submetidos durante duas sessões para aprovar a MP dos Portos.

O mais velho, após olhar desconfiado para os lados e se certificar de que não havia nenhum deputado por perto, dizia, em tom de ironia, que o parlamento brasileiro se tornaria exemplo mundial após a televisão exibir uma cena rara: deputados trabalhando sem parar. “Pensei que não fosse viver para ver isso. O problema é se inventarem uma PEC para ganharem hora extra.” O interlocutor respondeu de pronto: “Soube que os hospitais de Brasília precisaram de reforço. Metade dos parlamentares foi internada com estafa. A doença grave se chama trabalho”, divertia-se.
A sessão que varou a madrugada, mote para a diversão dos dois amigos, foi a mesma que encheu os deputados de orgulho. Não por terem aprovado a MP dos Portos ontem. Muito mais pela cena rara, aquela mesma a que os servidores se referiam, veiculada para todo o Brasil. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), instalou até um banner com o logotipo da Câmara para conceder entrevista. Daqueles em que os jogadores, após uma partida de futebol, se posicionam para falar em frente às câmeras. 


Cansado, após cumprir a missão, Alves não perdeu tempo. “A partir de hoje, o povo brasileiro, que assistiu a esse debate recorde na história do parlamento, vai poder se orgulhar mais desta Casa”, afirmou Henrique Eduardo Alves. 


O presidente da Casa suou para conseguir aprovar a matéria. A votação de todas as emendas só foi concluída às 2h17. O alívio durou pouco tempo. O drama começou a ser desenhado quando restava apenas a votação do texto final. 


Era votar e correr para o abraço mas, quando a nova sessão foi aberta, não havia mais quórum. Muitos deixaram o plenário no momento em que os destaques foram votados. Outros dormiam na liderança, após serem flagrados por fotógrafos roncando confortavelmente no sofá do cafezinho. 


Para votar a redação final, era necessária a presença de, no mínimo, 257 deputados. Faltavam mais de 60


De barriga cheia, depois de comerem a galinhada feita por funcionárias do deputado Fábio Ramalho (PV-MG) e assistir à eliminação do Corinthians na Libertadores, muitos sumiram. A derrota do governo se desenhava. Desesperados, governistas procuravam os correligionários. Foi um festival de ligações de celular. Todos ao mesmo tempo ligando para os colegas. Parlamentares da oposição, mesmo caindo de sono, já comemoravam.


Mobilização
Diante da derrota que se construía, Henrique Eduardo Alves declarou que, se em 30 minutos o quórum não fosse atingido, a sessão seria encerrada. Vários deputados da oposição registraram a presença para demonstrar a derrota do governo e também não levarem falta numa sessão considerada histórica. Os minutos se passaram e nada de quórum. Alves então mudou a estratégia e avisou que esperaria o tempo que fosse necessário. Uma nova operação de resgate foi montada. Deputados foram acordados por colegas em casa. A mobilização ocorreu entre as 2h20 e as 7h20. 


“Teve gente que foi pego em restaurante e em festas. Um grupo chegou com cheiro de bebida alcoólica”, relata um parlamentar. 


E, aos poucos, a tática de trazer os deputados pelo braço foi obtendo sucesso. Mesmo a contragosto, os congressistas voltaram e encheram o plenário novamente. Um deles chegou a entrar no local sem gravata. Por volta das 8h, a sessão atingiu o quórum e, com 353 deputados, a MP dos Portos foi aprovada às 9h43.

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