Argentina debate cofre dos Kirchners
Jornalista diz que casa de Cristina tem caixa-forte e tumba de Néstor parece suspeita; governo protesta.
Ariel Palacios
Correspondente Buenos Aires
Ter um cofre em casa nunca foi crime na Argentina, mas a polarização entre defensores e detratores do governo de Cristina Kirchner fez com que a existência de uma caixa-forte na casa dos Kirchners em Rio Gallegos virasse tema central no noticiário político do país.
Durante anos, a hipotética existência de um cofre "escondido" em alguma das residências do casal Néstor e Cristina Kirchner na Patagônia não passou de um mito urbano. No domingo à noite, o jornalista Jorge Lanata apresentou em seu programa de TV Jornalismo para todos uma série de depoimentos que confirmam a existência de uma caixa-forte, com medidas de 2,85 metros por 0,97 metro, no subsolo da mansão da família Kirchner no vilarejo de El Calafate, no extremo sul da Argentina, perto da fronteira chilena.
Lanata denunciou o vínculo entre os Kirchners e o empresário Lázaro Báez, sócio do casal presidencial em vários empreendimentos imobiliários. Báez está sendo investigado por lavagem de dinheiro.
Lanata exibiu planos de arquitetura da casa dos Kirchners e o depoimento do próprio arquiteto, Antonio Canas, que construiu essa área em 2002, quando Néstor despontava como candidato presidencial.
Há uma semana, Miriam Quiroga, secretária particular de Néstor por 11 anos, hoje rompida com o kirchnerismo, falou sobre o recebimento de "pesadas sacolas de dinheiro" na sala do então presidente na Casa Rosada.
As sacolas com dinheiro e lingotes de ouro, segundo Miriam - eram entregues a Néstor por empresários e na sequência levadas para Santa Cruz. Para os críticos do governo, a existência de uma caixa-forte na casa dos Kirchners daria força a essas denúncias.
Quiroga foi convocada pelo juiz Julián Ercolini para prestar depoimento sobre as sacolas nesta semana. Denúncias semelhantes da deputada opositora Elisa Carrió foram consideradas infundadas pela Justiça.
Durante o programa, Eduardo Arnold, ex-vice-governador de Néstor Kirchner na Província de Santa Cruz - afastado do kirchnerismo desde 2006 -, relatou como Cristina, em 2001, durante a construção da casa, mostrou-lhe a área onde seria instalado o quarto da caixa-forte. "Com total naturalidade, Cristina me disse que era para colocar as caixas de segurança. Mas é estranho tanto espaço para guardar coisas de valor", relatou.
Mausoléu. Para o antigo aliado dos Kirchners, até mesmo o mausoléu construído para Néstor no cemitério de Rio Gallegos desperta suspeita. "Ora, por que é que o mausoléu conta com tal nível de segurança?" No programa, Lanata questionou tantas câmeras de segurança no prédio fúnebre. Segundo ele, as imagens são monitoradas de um escritório de Buenos Aires. Lanata ironizou: "é preciso vigiar um morto desse jeito?"
Ontem, o subsecretário da presidência da República, Gustavo López, protestou contra as especulações: "É uma total falta de respeito! A coisa chegou a extremos insustentáveis. É falta de respeito contra uma pessoa que foi um presidente que mudou a história da Argentina e agora não pode se defender. É uma baixeza".
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