Dilma injeta R$ 18 bi para turbinar Minha Casa
Governo nega uso do FGTS, mas não detalha qual verba usará; analista vê risco de mais inflação
Jorge William
BRASÍLIA
No momento em que sua popularidade está em queda, a inflação é uma ameaça e as articulações políticas para a eleição do ano que vem estão bem adiantadas, a presidente Dilma Rousseff anunciou ontem o programa Minha Casa Melhor, de alcance popular, apostando em seus efeitos positivos para a economia.
O programa consiste em jogar no mercado uma linha de crédito de R$ 18,7 bilhões destinada a todos os beneficiários do Minha Casa Minha Vida, para a compra parcelada em até cinco anos de móveis e eletrodomésticos, com juros abaixo das taxas cobradas pelo mercado.
O Tesouro Nacional terá que fazer aportes na Caixa Econômica Federal, que vai operar o novo programa. Até 2014, poderão ser atendidas 3,75 milhões de famílias, incluindo quem já recebeu as chaves e as que receberão. O governo negou que serão usados recursos do FGTS, mas o Tesouro não explicou de onde virão os recursos.
No discurso, Dilma disse que o novo programa dará dignidade e conforto às famílias sem crédito, destacando que as mulheres poderão trocar o tanquinho, que usa "energia braçal", pela máquina de lavar automática.
E ressalvou que o Minha Casa Minha Vida, que está sendo turbinado, tem efeitos positivos na economia - o que é contestado por analistas de mercado e técnicos do próprio governo, diante do baixo crescimento e inflação em alta.
- É um programa que tem uma base e um condutor que é a geração de emprego, a geração de renda, mas sobretudo, a geração de dignidade para todos aqueles que olham o crescimento do país não somente baseado na quantidade de cimento que entregamos, nem só na quantidade de aço, nem só na quantidade de produtos que produzimos, mas na quantidade de benefícios, de melhoria que somos capazes de dar para nossa população - afirmou a presidente.
- Essa injeção de recursos vai fazer girar a engrenagem da economia, gerando emprego e desenvolvimento. Este programa é muito mais que uma linha de financiamento, é uma linha do governo - disse o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro.
Mas para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Picchetti, o programa vai na contramão da tentativa do Banco Central de controlar a inflação, com aumento da taxa de juros, porque estimula o consumo.
- Esse programa me parece mais uma tentativa de agradar um segmento carente da população. Mas, no longo prazo, prejudica o controle da inflação e todas as classes de consumidores - disse Picchetti.
Divididos, técnicos da equipe econômica do governo avaliam internamente que não é esse o tipo de ação que a economia está precisando pedindo neste momento.
- O nosso problema não é oferta, é de infraestrutura e falta de mão de obra qualificada - disse uma fonte, defendendo que é hora de reforçar o tripé da política econômica: meta de inflação, ajuste fiscal e câmbio flutuante.
13 mil lojas credenciadas
No evento no Palácio do Planalto, Dilma frisou que a inflação e as contas públicas estão sob controle. Presente ao evento, que contou com representantes do setor de móveis e eletrodomésticos, a vice-presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, Luiza Helena Trajano, referiu-se à necessidade de se anunciar fatos positivos:
- Agenda negativa atrapalha todo o mundo, não só o governo, mas todas as pessoas - disse a empresária.
O ministro das Cidades negou que o Minha Casa Melhor usará dinheiro do FGTS, dizendo que a fonte de recursos para bancar o programa virá do Tesouro. No caixa do Tesouro estão depositados cerca de R$ 4 bilhões do FGTS referentes à multa adicional de 10% recolhida pelos empregadores nas demissões sem justa causa. O governo também não tem repassado ao FGTS a contrapartida da União (18%) na concessão de subsídios para o Minha Casa Minha.
Ao ser perguntado por que o Tesouro não está fazendo repasses ao FGTS dessas receitas, ele recomendou que a pergunta fosse direcionada ao Ministério da Fazenda. O Tesouro não respondeu aos questionamentos sobre o FGTS. Informou apenas que fará aporte de R$ 8 bilhões na Caixa, por meio de medida provisória.
O governo tabelou os produtos que poderão ser adquiridos com o Minha Vida Melhor: um guarda-roupa terá o teto de R$ 380; o sofá, de R$ 375; TV Digital, R$ 1.400; fogão, R$ 599; e computador, R$ 1.150. Os produtos somente poderão ser comprados nas quase 13 mil lojas credenciadas pela Caixa.
- É mais um programa populista e demagógico, aliado à suspeita de que é mais uma garfada no FGTS do trabalhador e não pode ser usado pelo governo como se fosse dele - criticou o líder do PSDB no Senado, Aloyzio Nunes Ferreira (SP)
- Depois de comprometer os recursos do FGTS com o Minha Casa Minha Vida, utiliza de forma ainda mais crescente os fundos do FGTS com esse novo programa - emendou o senador Álvaro Dias.
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