Mudando de tom: BC alerta para PIB menor em 2014
Num texto pouco usual, o Banco Central divulgou a ata do Copom alertando para os riscos do dólar alto sobre a inflação e admitindo que o crescimento da economia pode ser afetado em 2014.
BC muda o tom, e ata do Copom indica crescimento mais fraco
Autoridade monetária cita forte pressão do dólar na inflação
BRASÍLIA
Num tom acima do usual, o Banco Central reformulou sua comunicação, ao divulgar ontem a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O BC alertou para riscos identificados pelos especialistas há algum tempo e indicou mais alta dos juros. Admitiu que passou a trabalhar com números que descartam a maquiagem da política fiscal, afirmou que o dólar alto tem pressionado fortemente a inflação e ainda avisou: se não houver uma recuperação "tempestiva" da cadente confiança de empresários e consumidores, a recuperação do crescimento pode ser contida não apenas neste ano, mas também em 2014.
Se as expectativas não voltarem a subir, podem comprometer a retomada dos investimentos e até a alta do consumo das famílias, completou a autoridade monetária.
No documento, o BC começou a dar sinais de que as perspectivas para a expansão da atividade não são mais as mesmas. Disse que o consumo do brasileiro deve se apresentar "relativamente" robusto. O termo é novo. Citou as "boas perspectivas" para os investimentos e não mais a "intensificação" deles. E excluiu a parte em que previa a "recuperação" da produção industrial.
"O comitê nota que a velocidade de materialização desses ganhos esperados pode ser contida caso não ocorra reversão tempestiva do declínio que ora se registra na confiança de firmas e famílias", diz o BC na ata.
nova alta de juros
Analistas do mercado avaliaram que o BC adotou um tom bastante duro. Com isso, a ata do Copom pavimentou a aposta de ao menos mais um aumento de meio ponto percentual na taxa básica de juros Selic na próxima reunião do colegiado, em agosto. Na semana passada, o BC aumentou os juros básicos de 8% para 8,5% ao ano. A dúvida agora é se esse ritmo se manterá nos próximos encontros do Copom.
- Está claro que o BC não quer apostar nos riscos que são muitos e vai atacar a inflação, ou seja, vai subir ainda mais os juros - prevê o economista-chefe da INVX Global, Eduardo Velho, que trabalha com uma alta até a Selic chegar a 9,75% ao ano.
Na ata, o Copom desta vez eliminou a parte do texto em que dizia que ocorreram mudanças estruturais significativas na economia brasileira, as quais determinavam uma menor taxa de juros neutra, ou seja, dos juros de equilíbrio da economia. E ainda afirmou que, se os juros e o câmbio ficassem no patamar de antes da reunião, a inflação para o ano que vem aumentaria.
- Não sei se o Copom se mostrou mais preocupado com a inflação do que antes - afirmou o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman. - Apenas a preocupação com o impacto do dólar ficou mais forte.
manobra fiscal fora da conta
A cúpula do BC avalia que a alta do dólar tem impacto na inflação de curto prazo. No entanto, avaliou que os movimentos de câmbio no Brasil refletem perspectivas de transição dos mercados financeiros internacionais na direção da normalidade, em termos de liquidez e taxa de juros.
Da última reunião para a da semana passada, o BC anunciou que passou a usar em suas contas o conceito de "superávit primário estrutural". O número é ajustado pelo momento econômico que o país vive e desconta, por exemplo, receitas e despesas extraordinárias. Ou seja, é uma medida que tira parte das manobras feitas pela equipe econômica para inflar a política fiscal.
adicionada no sistema em: 19/07/2013 04:37 |
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