Petistas aguardam 'tapinhas nas costas' de Dilma
Por Raymundo Costa | De Brasília
Embora sem confirmação oficial do Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff informou ao PT que irá à reunião do diretório nacional do partido, marcada para amanhã, em Brasília. Esta seria a primeira visita de Dilma à sede do PT em Brasília, e deve servir como marco de uma nova relação entre uma presidente sob pressão e seu partido. Pelo menos é o que o PT espera. O contrário significa a ampliação do movimento pela volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A agenda da reunião do PT prevê a "avaliação de conjuntura", guarda-chuva que abriga desde a situação do casal Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) no governo (devido a críticas de Bernardo a bandeiras do partido), ao papel exato que o ministro Aloizio Mercadante (Educação) passou a exercer no governo, passando pela atual política indigenista. Mas o PT trabalha para evitar que as discussões mais ácidas ocorram na presença de Dilma.
Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, a crítica faz parte mas não é a "tônica" das reuniões do diretório nacional. "Não vamos ficar fazendo cobranças a ela", disse. "Sua presença é um sinal de prestígio para o PT".
O que assusta o PT é a velocidade da erosão da avaliação positiva do governo, que em pouco mais de um mês caiu de 54,2% para 31,3%, segundo a última pesquisa feita para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) pela empresa MDA Pesquisa. O governo Lula, em seu pior momento, chegou a 35,8, em setembro de 2005, segundo pesquisa encomendada pela mesma CNT, na sequência em pleno escândalo do mensalão.
À época, Lula reordenou o governo, convocou os movimentos sociais para defender seu mandato e viajou ele próprio pelo país fazendo a defesa de seu mandato. A reclamação dos petistas agora é que a volta da inflação e falta de vontade da presidente para negociar com o Congresso criaram um clima negativo para o governo, mas, "em sua teimosia", ela não muda nada.
Lula, segundo líderes do PT, já sugeriu a Dilma a redução do ministério e a mudança da equipe econômica. Nos últimos dias passou a ressaltar que Dilma, como presidente da República, tem muito mais informações que ele para basear suas decisões. Em encontros com líderes partidários, o ex-presidente disse que já deu a Dilma sua opinião sobre o que acha que deve ser feito. Agora, depende dela.
O ex-presidente, que tem segurando o queremismo e as manifestações mais críticas do PT ao governo, nos últimos dias emitiu sinais entendidos no partido como uma liberação para um ativismo maior da sigla. Em artigo para a edição eletrônica do New York Times, por exemplo, Lula escreveu que o PT precisa "renovar-se profundamente, recuperando seu vínculo cotidiano com os movimentos sociais".
Dirigentes e líderes do PT afirmam que ou a presidente faz as reformas necessárias para o governo retomar a iniciativa política ou começará a perder apoios, no partido e de outros integrantes da base aliada.
Nem o PT, nem a CUT nem os movimentos sociais pretendem "afundar" junto com Dilma, contou ao Valor um interlocutor tanto de Lula quanto da atual direção partidária.
A entrada em cena de Mercadante como o novo "cara" do governo também causa incômodos não só no PT como em toda a base aliada, especialmente o PMDB do Senado: Mercadante foi um dos principais defensores da cassação dos mandatos dos senadores Renan Calheiros e José Sarney, dois dos principais mandas-chuvas do Congresso.
Já na estreia em seu papel de novo homem forte do governo, na reunião com governadores e prefeitos de capitais em que Dilma propôs constituinte exclusiva e plebiscito, o ministro saiu falando de todos os assuntos, quando o combinado era que cada um falasse sobre sua pasta. De uma tacada só passou por cima de Ideli, Gleisi e Alexandre Padilha, da Saúde, responsável pelo programa Mais Médicos.
Dias atrás, Dilma se acertou com a cúpula do Congresso e o vice-presidente Michel Temer sobre a votação de vetos. No dia seguinte, Mercadante deu declarações segundo as quais o Congresso pagaria o preço, se não soubesse ler o que as ruas dizem. Só confirmou o que suspeitavam os aliados: o que o governo quer é jogar a crise no colo do Congresso, transferir responsabilidades.
Petistas próximos tanto de Lula como de Dilma avaliam que a presidente tem condições de reverter a situação, assim como Lula fez em 2005. As manifestações teriam revelado uma grande rejeição à classe política, mas a presidente sempre teve sua imagem dissociada dos políticos tradicionais. O desafio maior seria manter a inflação sob controle até a eleição, o que não é fácil de fazer sem efeitos colaterais.
Interlocutores de Lula e da cúpula do PT dizem que Dilma precisa mesmo ir à reunião do diretório nacional do partido, neste sábado, e "distribuir muitos tapinhas nas costas".
adicionada no sistema em: 19/07/2013 12:34 |
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