Pedro Venceslau, Ricardo Chapola e Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo
Temendo que o "Dia Nacional de Lutas" — protestos em todo o País marcados para esta quinta-feira, 11, organizados por centrais sindicais e organizações de classe —, se transformasse em um grande ato contra a presidente Dilma Rousseff, a CUT, que é ligada ao PT, convocou uma reunião de emergência ontem para pressionar a Força Sindical a poupar o governo federal.
Em troca, propôs que a defesa do plebiscito para a reforma política, uma bandeira do PT e do governo, também ficasse fora do palanque unificado, que vai reunir dirigentes das centrais na Avenida Paulista hoje.
O acordo foi fechado e chancelado por todas as centrais. Sem ele, a manifestação corria sério risco de se transformar em um cabo de guerra entre sindicalistas.
O governo temia críticas ácidas a Dilma. "No carro de som, onde estarão os presidentes das centrais, e nas faixas conjuntas não entrarão o ‘Fora, Dilma’, o ‘Fica, Dilma’ ou a reforma política. O centro da pauta é a questão trabalhista. Mas os militantes cutistas levarão cartazes em defesa da reforma política, da taxação das grandes fortunas e da reforma tributária", resumiu Vagner Freitas, presidente da CUT.
Para preservar a presidente Dilma, a CUT vai focar as críticas no Congresso.
A UNE, que é dirigida pelo governista PCdoB, também levantará bandeiras governistas e poupará a presidente.
"Não é a CUT que está levando a pauta da Dilma, é a Dilma que está levando a pauta da CUT", diz Vagner Freitas.
"Não existe manifestação contra o governo. Ela é a favor dos trabalhadores", enfatizou Arthur Henrique, ex-presidente da CUT.
Apesar do acordo, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse que os militantes da entidade protestarão contra a presidente nas ruas. "Nossas palavras serão duras contra o governo Dilma, por falta de atendimento às questões trabalhistas que até hoje ela não atendeu e não quis saber delas." Ainda segundo o dirigente, o foco da central também será a inflação e a política econômica, calcanhar de Aquiles do governo.
No começo da semana, Paulinho disse que a Força levantaria a bandeira "Fora, Dilma" se a presidente tentasse "enxertar" o tema do plebiscito pela reforma política durante as manifestações de hoje.
Questionado pelo Estado se a Força se posicionaria sobre o plebiscito nos atos de hoje, Paulinho interrompeu: "Nem fala em plebiscito para a gente. É assunto enterrado".
Visão petista. A Executiva Nacional do PT aprovou, na última quinta, resolução na qual convoca seus militantes a assumirem "decididamente" a defesa da reforma política e de reivindicações trabalhistas nos protestos hoje. A ideia é fazer ali a propaganda do plebiscito.
Presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah afirma que não vai levantar a bandeira "Fora, Dilma", defendida pela Força Sindical, nem se alinhar com a defesa do plebiscito, apoiada pelo PT e a Central Única dos Trabalhadores. Mas pondera: "A UGT vai levantar a bandeira ‘Se Liga, Dilma’, para que ela nos escute e atenda às reivindicações".
A decisão levou a uma mudança na estratégia da UGT ontem. Originalmente, estava previsto que a central iniciaria suas manifestações na Rua 25 de Março e de lá seguiria para a Avenida Paulista. Ficou decidido que as manifestações da UGT serão encerradas na Praça da República, para se distanciar da CUT.
Além da manifestação central na Paulista, a Força realizará atos isolados em vários pontos da cidade. A CUT realizará um evento em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Radicais. Embora critique o financiamento das campanhas eleitorais, o presidente nacional do PSTU, José Maria de Almeida, também dirigente da rede sindical Conlutas, reforça que a greve de hoje não será em apoio às propostas do governo Dilma de reforma política nem ao plebiscito proposto pelo PT. A greve, diz ele, é para "cobrar do governo Dilma o atendimento às reivindicações dos trabalhadores", o que inclui a redução da jornada de trabalho para 40 horas, fim do fator previdenciário, reforma agrária e pautas como fim dos leilões do petróleo e melhorias no transporte (com redução de preço), na saúde e na educação.
"A situação que nos encontramos não é fruto da falta de recursos para atender às reivindicações dos trabalhadores. O problema é que o governo aplica um modelo econômico que beneficia bancos, grandes empreiteiras e o agronegócio, que depois financiam campanhas."
José Maria reafirmou que não está defendendo o "Fora, Dilma" nem a demissão de nenhum ministro. "Estamos propondo mudança do modelo econômico. Se o governo não mudá-lo, o próximo passo é uma greve geral. Se o governo ainda não mudar, aí essa luta vai virar para sair o governo também", disse.
O presidente do PSTU disse ainda que militantes do PT não serão hostilizados. "O PT, se aparecer, até será bem-vindo", disse. / COLABOROU BRUNO RIBEIRO
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