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quinta-feira, julho 11, 2013

TEMPO DE PLANTAR, TEMPO DE COLHER

‘Ninguém sabe hoje quem apoiará Dilma em 2014’, diz Rui Falcão

Para presidente nacional do PT, protestos organizados nesta quinta pelas centrais são 'senso de oportunidade' e não terão como foco governo do PT

11 de julho de 2013 | 2h 13

Pedro Venceslau - O Estado de S.Paulo
Presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão (SP) tem dividido sua agenda em diversas frentes. Ao mesmo tempo em que negocia com líderes de partidos aliados a montagem de palanques para a campanha de 2014, prepara o terreno para renovar seu mandato no comando do partido e rema contra a maré para emplacar o plebiscito sobre a reforma política, que o Congresso já enterrou. 
Em entrevista ao Estado, ele minimiza a queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas e os consequentes abalos na base aliada, mas reconhece que o governo precisa se comunicar melhor com o Congresso e os movimentos sociais.
Veja também:
Para Falcão, ninguém no PT cogita o 'Volta, Lula' - André Dusek/AE
André Dusek/AE
Para Falcão, ninguém no PT cogita o 'Volta, Lula'
Esperava tanta resistência no Congresso ao projeto do plebiscito sobre a reforma política?É uma tradição na política brasileira fazer acordos por cima e transições negociadas. O plebiscito significa a entrada do povo em cena. Sempre defendemos no PT a participação popular. Dilma tomou essa iniciativa por perceber que não sai reforma do Congresso.
Para a reforma política, nós propomos financiamento público exclusivo, paridade de gênero com lista democraticamente formulada. Pode ser fechada ou lista mista. E maior participação da população, além de assembleia constituinte (para fazer a reforma).
A oposição alega que o financiamento público beneficiaria a presidente Dilma Rousseff.Ninguém sabe como seria o financiamento público. Ninguém discutiu o sistema ou se haveria um teto. Poderia haver um porcentual maior distribuído entre todos e outro menor proporcionalmente. Não há definição de quem ficaria com mais e com menos. Como eles mesmos (oposição) estão dizendo, com as manifestações e a queda de Dilma nas pesquisas pode haver outro quadro partidário. Ninguém sabe hoje quem apoiará Dilma em 2014.
O acirramento da crise na base aliada pode prejudicar a montagem de palanques para 2014?Não haverá nenhuma abalo. A presidenta assumiu a iniciativa política nas manifestações. Ela já dialogava permanentemente com os partidos e agora está fazendo isso mais amplamente. Reuniu todos os presidentes (partidários) da base e tem agendado reuniões com lideranças para tomar decisões. Haverá uma recuperação (da popularidade) nos próximos meses. A base aliada está unida.
Mas alguns partidos aliados já reavaliam sua posição.É natural em um governo de coalizão que os partidos tenham reivindicações mais amplas, dependendo da conjuntura. É isso que está acontecendo neste momento. Estamos nos aproximando de uma reforma ministerial natural. Alguns ministros sairão para se candidatar. Nesse período, a disputa por espaço se acentua. Mas isso não tem relação com a queda de popularidade. Todos os políticos foram atingidos. Pelo que vi nas pesquisas, quem saiu da Dilma migrou para o voto branco, nulo ou ficou indeciso. Não houve ganho expressivo para nenhum dos que se apresentam candidatos.
O deputado Paulinho, presidente da Força Sindical, disse que pode pedir o 'Fora Dilma' no "Dia Nacional de Lutas" (hoje). Não vou comentar isso.
Mas o sr. teme que setores do movimento sindical aproveitem a queda da presidente nas pesquisas para atacar o governo?As centrais sindicais já tinham bandeiras como a redução da jornada de trabalho, o fim do fator previdenciário e a aceleração da reforma agrária. Como houve um clima favorável, eles convocaram o ato do dia 11. Acho que é senso de oportunidade do momento.
Qual é a avaliação do PT sobre a queda de Dilma nas pesquisas e os efeitos das manifestações para o governo? Existem dezenas de explicações para as manifestações. Estamos recolhendo na Fundação Perseu Abramo todo tipo de entrevista e ensaio para fazermos uma análise interna desse fenômeno com mais calma e fora do impacto. Nas pesquisas todos perderam. Ela (Dilma) ficou com a cotação positiva, apesar da queda abrupta. Além disso, não houve nenhuma demanda sobre salário ou emprego. Pediram melhoria de serviços públicos. O PT continua sendo o partido preferido e Lula isoladamente ganha de todos os outros juntos.
Há no PT um movimento defendendo a volta de Lula em 2014? Lula foi acusado de ter antecipado a campanha porque na comemoração dos dez anos do PT disse que a Dilma era a candidata. Na verdade, naquele momento ele estava reafirmando para dentro do PT que não tem nenhuma pretensão de ser candidato. Não tem ninguém no PT hoje cogitando o "Volta, Lula". Isso seria abreviar o final do governo dela.
Os candidatos à presidência do PT criticam a interlocução do governo com o Congresso e movimentos sociais. O sr. concorda? 
A comunicação do PT e do governo precisa ser melhorada. Eu vi nossa bancada insistindo com a presidenta que é preciso melhorar a interlocução com o Congresso. Isso é unânime. Ela disse que estava cuidando disso e que a bancada precisa ter posição de mais destaque.
As correntes petistas de oposição ao campo majoritário acreditam que as manifestações podem mudar a correlação interna de forças no PED (Processo de Eleições Diretas). 
As mobilizações de rua produziram dois resultados. Ficou nítido para o conjunto do PT que é preciso se aproximar mais dos movimentos sociais. Essa é uma ideia que a gente já vinha desenvolvendo. Além disso, toda vez que acontece mobilização social, as eleições no PT ficam mais quentes e participativas. Isso dará mais representatividade para a próxima direção. Mas não me arrisco a dizer que ganha ou perde. Não costumo antecipar resultado eleitoral porque respeito muito a militância do PT.
O deputado federal Paulo Teixeira, que disputará com o sr. a presidência nacional do PT, defende que se oxigene o partido. O sr. concorda com ele? 
Apoio tudo que for feito nessa direção.
Depois de dez anos no poder, o PT se distanciou de suas bases?Não sei se dez anos é tanto tempo assim. É um tempo pequeno para dar outro rumo para o Brasil. No movimento social, ou você faz a luta institucional ou faz a luta social. Um partido com vocação de poder como o PT precisa articular as duas formas de luta. É uma equação difícil de resolver para todos os partidos.
O partido entrou em uma zona de conforto com o poder?Acho que sim. Houve muita conquista nesse período. Fiz várias reuniões com os sem-terra e a CUT. Tenho procurado, desde que assumi ficar mais próximo dos movimentos sociais.
Pela primeira vez, o PED exige cotas de negros, índios, jovens e mulheres. Está difícil montar a chapa?Estamos fazendo um grande esforço para cumprir as cotas. O PT é o primeiro partido que eu conheço que instituiu a paridade de gênero em sua direção. Em alguns estados do Sul, especialmente em Santa Catarina, onde a presença de negros é praticamente nula, teremos que adaptar.

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