Nem o Fome Zero escapa das quadrilhas no Brasil
Operação no DF e em três estados prende 11 suspeitos de desviar dinheiro do programa de combate à miséria no país. Em Brasília, PF ouviu dirigente da Conab.
Além da Previdência e da Fazenda, empresas do esquema que roubou dinheiro de fundos de pensão tinham ligações nos ministérios da Defesa e da Agricultura.
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Quadrilha atuava em mais dois ministérios
Duas empresas usadas pela organização criminosa apontada pela Polícia Federal (PF) como suspeita de ter lavado dinheiro e desviado cerca de R$ 300 milhões de entidades previdenciárias públicas receberam recursos do governo federal.
A TNG Peças e Serviços Mecânicos e a ABM Informática foram contempladas com R$ 831 mil pelo Ministério da Defesa, via Comando do Exército. Outra quantia, R$ 990,85, ainda foi paga pelo Ministério da Agricultura à companhia de informática, que teria prestado serviços de recuperação de peças em nove monitores. Procurados no fim da tarde de ontem pela reportagem, os órgãos não conseguiram responder, em tempo hábil, se os serviços foram realmente executados e se as contas estavam corretas.
De acordo com a Operação Miquéias da PF, a empresa de peças mecânicas apresentou movimentação incompatível com o faturamento anual declarado de R$ 232 mil. Nos autos, a corporação explicou que os recursos são provenientes de serviços de mecânica e de revisão para as Forças Armadas.
Porém, os agentes afirmam que "a informação não condiz com a movimentação, visto que é em espécie". Além disso, a entidade apresenta "grande quantidade de cheques devolvidos". No total, a TNG, que resistiu em prestar esclarecimentos bancários às autoridades, girou quase R$ 1,9 milhão entre abril e julho de 2010.
Já a ABM Informática apresenta movimentação de recursos incompatível com o patrimônio. Segundo o inquérito policial, ela teria repassado R$ 323,1 mil a outras entidades, que faziam parte do esquema. As investigações da PF, com base em documentos do Banco Central, mostram que as contas da empresa "não demonstram ser resultado de atividades ou negócios normais, visto que utilizadas para recebimento ou pagamento de quantias significativas sem indicação clara de finalidade".
"Amigo"
Em decorrências das apurações, mais um servidor público perdeu o cargo. Ontem, o assessor Rogério Arcanjo, apontado pela PF como contato do esquema fraudulento, foi afastado pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF). O parlamentar disse que tomou conhecimento do caso pela imprensa. "Tão logo fui informado, chamei o servidor para dar explicações, e garantiu não ter envolvimento com o caso (...). Mesmo assim, decidi exonerá-lo, recomendando-o que se coloque à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos possíveis", afirmou, em nota, Fonseca.
A apuração da PF revela ainda que o ex-deputado federal Benedito de Carvalho Sá, mais conhecido como B.Sá, é citado pelos integrantes da quadrilha, em interceptações telefônicas, como facilitador de contatos, principalmente no Piauí, estado de origem dele. Ex-prefeito de Oeiras, hoje, ele ocupa um cargo no escritório de representação do governo daquele estado no Distrito Federal.
Gravações, por exemplo, mostram uma conversa entre Alline Teixeira Olivier, advogada e empresária apontada como lobista do grupo, e Luciane Lauzimar Hoepers, uma das aliciadoras de prefeitos, conversando de suposto dinheiro para B. Sá. Ao Correio, ele negou envolvimento no esquema, apesar de se considerar "amigo" do procurador da Fazenda Nacional Manoel Brandão, apontado como lobista do esquema. "Não tenho nada a ver com isso. Não conheço essas senhoras que citam o meu nome e nunca tive contato. Fui surpreendido sobre como essa coisa chegou até mim", afirmou.
Em depoimento à PF, Luciane admitiu que oferecia propina a prefeitos para que aceitassem investir dinheiro em fundos e pensão de servidores municipais em títulos de alto risco. Pelo menos 20 pessoas foram presas na Operação Miquéias, desbaratada na última quinta-feira em oito estados e no Distrito Federal. Entre elas, o doleiro Fayed Antoine Traboulsi e o ex-policial civil Marcelo Toledo Watson, considerados pela PF chefes do grupo (veja quadro). A dupla é acusada de ter influência em várias esferas do poder. Com eles, a polícia apreendeu vários veículos de luxo, entre Ferrari, Lamborghini e iate.
O advogado de Toledo, Raul Livino, disse que ainda estuda o processo para decidir se vai pedir o habeas corpus em favor do cliente. A reportagem não conseguiu contato com o defensor de Fayed, Celso Braga Lemos.
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Contador se apresenta à PF
Na tarde da última segunda-feira, o contador Luiz Romildo de Melo se entregou à PF. Ele aparece como contador de diversas empresas de fachada ligadas a Carlos Marzola, cujas contas bancárias seriam usadas na lavagem de dinheiro da quadrilha. As empresas de Luiz declararam como sede o mesmo endereço onde funciona o escritório de contabilidade dele. O suspeito também foi alvo da Operação Infiltrados, da PF. Na época, foi apreendido um caderno, no qual constavam a contabilidade de Fayed Traboulsi e mencionava outros investigados com a movimentação financeira da organização criminosa. Nele, teriam ainda várias anotações sobre as cédulas de lavagem de dinheiro gerenciadas por Fayed. Após prestar depoimento, Luiz acabou liberado.
adicionada no sistema em: 25/09/2013 04:46 |
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