Centrais poupam Lula e fazem atos pró-governo no Dia do Trabalho. Com a adesão do PDT à coalizão governista, Força segue a CUT e evita críticas à administração do presidente.
Apesar de o Dia do Trabalho ter se tornado palco histórico de reivindicações e críticas ao governo, as comemorações do 1º de Maio deste ano selaram o namoro entre movimento sindical e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As festas das duas maiores centrais, CUT e Força Sindical, em São Paulo, tiveram ares de ato pró-governo.
A CUT, tradicionalmente alinhada a Lula, aproveitou a ocasião para destacar a importância de um “trabalhador” ter chegado ao Palácio do Planalto. Já a Força, que costumava se encarregar de críticas mais duras, demonstrou que a adesão do PDT à coalizão governista afetou sua relação com a administração federal. O próprio ministro do Trabalho, Carlos Lupi, hoje é um pedetista. Os primeiros sinais de que as festas deixariam ataques em segundo plano apareceram há alguns dias, com a confirmação de que os ministros Lupi e Luiz Marinho (Previdência), além do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), compareceriam aos dois eventos.
Marinho cancelou na última hora, mas os outros dois cumpriram a promessa de comparecer. O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, não chegou nem perto de repetir os ataques feitos a Lula no ano passado, quando disse que o presidente estava “no mundo da lua”. Dessa vez, ele elogiou a recuperação do salário mínimo e agradeceu o veto do presidente à Emenda 3 do projeto que cria a Super-Receita.Entre as críticas, ele condenou a política econômica e o reajuste de 3,3% a aposentados, além da intenção do governo de contemplar servidores com reajuste anual de 1,5%. Mas, ao final, Paulinho disse ter a certeza de que Lula irá “olhar para os trabalhadores neste momento”. “Quando você tem espaço de negociação, não precisa xingar ninguém”, disse, ao ser questionado sobre o tom ameno do discurso.O ministro Carlos Lupi minimizou a mudança no tom da festa da Força. “A gente às vezes está no mundo da lua e depois vem para o mundo real”, disse, sobre as falas de Paulinho no ano passado. Na festa da CUT, ele adotou a ironia ao ser questionado se a festa estaria virando chapa-branca. “Este é um governo que, ao contrário do passado, ouve as centrais o tempo todo. E a placa do meu carro não é branca, é amarela como a de todo mundo”, afirmou, errando a cor cinza usual das placas. Tanto na Força quanto na CUT, as críticas envolvendo a Emenda 3 se destinavam ao Congresso. Sobrou ainda para o governador José Serra (PSDB), atacado pela demissão de sindicalistas que na semana passada protestaram contra a regra. “Quero pedir uma grande vaia ao governo Serra pela demissão dos sindicalistas do Metrô”, disse o presidente da CUT paulista, Edílson de Paula. Tanto Paulinho quanto o presidente nacional da CUT, Arthur Henrique da Silva, insistiram que sabem reconhecer acertos do governo federal, mas não deixam de criticar quando necessário. Ainda assim, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) apontou uma “acomodação” das centrais no governo Lula. “Está faltando avermelhar o 1º de Maio, ele está amarelando”, disse. A tese foi levantada pelo secretário do Trabalho paulista, Guilherme Afif Domingos. “Temos de ter uma pitadinha, não de oposição, mas de senso crítico.”
Clarissa Olivei O Estadão.
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