Brasil e Paraguai rejeitam ultimato de Chávez.O ultimato do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao Congresso do Brasil e do Paraguai para que aprovem a entrada de seu país ao Mercosul foi rejeitado nesta terça-feira (3) pelos dois Legislativos, sendo chamado de "agressão" e disputa pela liderança regional. O chefe de Estado venezuelano afirmou que só vai esperar até setembro. "Não esperaremos mais porque não há razão política nem moral para os Congressos do Brasil e do Paraguai não aprovarem nossa entrada. Se não aprovarem, nos retiraremos até que as condições mudem", ameaçou. Em Brasília, ao saber do anúncio de Chávez, o senador Sergio Zambiassi (PTB-RS), membro da Comissão de Relações Exteriores do Senado e do Parlamento do Mercosul, afirmou que o Congresso "não aceita prazos". "O Congresso brasileiro tem seus próprios ritos e não responde a comandos externos", disse Zambiassi. Segundo o senador, "assim como o Brasil não impõe prazos aos outros países, não aceitará nenhum prazo determinado pelos irmãos do Mercosul". A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que "ninguém vai estabelecer prazos para nenhum país". "Ninguém estabelece prazo para nós nem nós estabelecemos prazo para ninguém", declarou a jornalistas. Já o presidente da Comissão das Relações Exteriores do Senado, Heráclito Fortes (PFL-PI), afirmou que "o Congresso brasileiro decidirá soberanamente (o ingresso da Venezuela no bloco sul-americano) quando julgar oportuno". Ele também disse que o ultimato de Chávez é uma invenção "para desviar a atenção da crise interna venezuelana". No Paraguai, o presidente do Congresso, Miguel Abdón Saguier, chamou de "agressão gratuita" as expressões do líder venezuelano. "O presidente Chávez nos agride gratuitamente. Vamos estudar bem este tema", disse Saguier. Com relação ao prazo de três meses, Saguier explicou que o Poder Executivo ainda não remeteu o pedido de ratificação ao Senado. O chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, já tinha comentado durante a cúpula do Mercosul, em Assunção, que o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, está "analisando o melhor momento" para mandar o projeto de ratificação ao Congresso, onde a oposição tem maioria. O presidente do Congresso paraguaio disse que seu país entrou na polêmica por acaso. "O confronto de fundo é entre Brasil e Venezuela, por um problema de liderança", analisou. O presidente do Parlamento do Mercosul, o uruguaio Roberto Conde, disse que iniciará consultas com os legisladores de todos os países do bloco sobre o ultimato. "Vamos discutir o caso. O Parlamento não só voltará a se reunir em 6 de agosto, mas haverá uma reunião da mesa dia 16 de julho. Antes disso discutiremos o tema", disse Conde. Conde, deputado da coalizão de esquerda Frente Ampla, pretende "tirar a carga ideológica do debate". Para ele, é preciso "trabalhar para resolver um tema complicado, mas com prudência". O deputado oposicionista do Partido Nacional do Uruguai Pablo Ituarralde disse "não estar surpreso" pelo ultimato de Chávez. "Quem se integra a um bloco tem que aceitar as regras do jogo", acrescentou. Em 4 de julho de 2006, Chávez assinou um documento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governantes da Argentina, Néstor Kirchner; do Paraguai, Nicanor Duarte; e do Uruguai, Tabaré Vázquez. O acordo de Caracas previa a entrada da Venezuela no Mercosul. Mas, 12 meses depois, o processo de plena incorporação da Venezuela ao bloco regional, já ratificado pelas câmaras da Argentina e Uruguai, permanece estagnado. "Não estamos desesperados para entrar no Mercosul, ainda mais por sentirmos que ali não há muita vontade de mudança", queixou-se Chávez. Ele responsabiliza setores da direita no Brasil e em outros países sul-americanos de tentar de impedir a entrada da Venezuela no Mercosul. E diz que estão "utilizando" o caso "RCTV" para justificar outras posições. Parlamentares brasileiros criticaram a decisão do Governo de Chávez de não renovar a concessão da rede "Radio Caracas Televisión" ("RCTV"), que saiu do ar em 27 de maio. Chávez chamou o Congresso brasileiro de "papagaio" porque, segundo ele, repete as palavras de ordem dos Estados Unidos. Na semana passada, o presidente Chávez foi à Rússia, enquanto os líderes do Mercosul se reuniam no Paraguai. Na cúpula, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, sugeriu que o presidente venezuelano pedisse desculpas pelas acusações ao Congresso. Hoje, Chávez considerou "impertinentes" as declarações de Amorim. "A Venezuela não tem nada que pedir desculpas. É o Congresso do Brasil que deve se desculpar por se imiscuir nos assuntos internos da Venezuela", afirmou. G1, AFE.
_______________________
(*)
Nenhum comentário:
Postar um comentário