Deve-se a Lula a decisão da ministra Dilma Rousseff de não mais falar sobre o dossiê que vazou do Planalto com gastos da gestão FHC. Em conversa privada com a chefe da Casa Civil, ocorrida há quatro dias, o presidente recomendou o silêncio.
Tenta evitar que se aprofunde o desgaste de uma auxiliar que trata como alternativa sucessória para 2010. No final de semana, Lula avaliara com outros integrantes de sua equipe a entrevista coletiva que Dilma concedera na sexta-feira (4). A ministra fora ao encontro dos repórteres nas pegadas da edição da Folha que trouxe a reprodução de planilhas eletrônicas saídas dos computadores da Casa Civil.
Restou no Planalto a impressão de que Dilma não se saiu bem. Lula atribui parte do infortúnio da ministra à má vontade da mídia. Ele bate duro. Diz que a imprensa “construiu” uma “tese”: de que o Planalto montou um dossiê. E não dará o braço a torcer. Ainda que reste comprovado que o que há é um mero “banco de dados”, versão sustentada por Dilma. Na última terça-feira, a ministra deixou evidenciado que vai seguir à risca o conselho do chefe. Questionada, de novo, sobre o dossiê, ela saiu pela
tangente: "Eu não vou dar essa entrevista. Enquanto ela [a Polícia Federal] estiver investigando, eu não falo." Arma-se para a próxima semana um teste de fogo para Dilma. Operadores políticos do Planalto negociam a ida da ministra à Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Convocada graças a um cochilo dos aliados do governo, ela não tem como fugir do embate. Vai ao Legislativo, em tese, para falar sobre o PAC. Mas será crivada de perguntas sobre o dossiê, das quais tucanos e ‘demos’ não abrem mão. Romero Jucá (PMDB-RR), líder de Lula no Senado, diz que não vai permitir que o objetivo da sessão seja desvirtuado. Alega que o requerimento que convocou a ministra menciona exclusivamente o PAC. E diz que é sobre isso que ela vai falar. Nada mais. A sessão será concorrida. Há no regimento dispositivos que permitem aos governistas bloquear indagações que fujam do script.
A oposição, porém, acha que o eventual silêncio da ministra será ainda mais devastador para a imagem dela do que a produção de respostas sobre o dossiê. Avalia-se que, falando, Dilma não dirá nada além do que já disse. Calando, como que passará um atestado de insegurança. Daí a decisão de fustigar a ministra. Mesmo entre os aliados do Planalto, a estratégia de montar em torno da ministra um círculo de proteção é vista com reservas. “Ora, se ela não tiver condições de enfrentar meia dúzia de perguntas da oposição, como poderá se apresentar depois como candidata à presidência?”, pondera o líder de um dos partido que integram o consórcio governista. A suposta fragilidade de Dilma é, precisamente, o que desejam realçar os senadores do PSDB e do DEM.
Escrito por Josias de Souza. Folha Online, 1004.
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