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quinta-feira, junho 05, 2008

PAULINHO/BNDES: O ''GURI'' NO "GRAMPO"

Grampo da PF desmente Paulinho

Na tarde de 9 de maio, durante entrevista coletiva que concedeu na sede da ONG Meu Guri, presidida por sua mulher, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, alegou desconhecer Marcos Vieira Mantovani, proprietário da Progus Consultoria. Mantovani é acusado pela Procuradoria da República de agir como consultor da suposta quadrilha desarticulada pela Polícia Federal, durante a Operação Santa Tereza.
Um grampo telefônico da PF, contudo, desmente o parlamentar. Nele, Paulinho marca uma reunião com o então conselheiro do BNDES Ricardo Tosto, no escritório de Mantovani. A gravação, realizada no dia 3 de março, teve início às 13h33 e tem 4 minutos e 35 segundos de duração. Paulinho fala com Tosto a respeito de uma reunião com o presidente de um banco - possivelmente o BNDES, afirma a PF. Em seguida, debate questões políticas, entre elas a sucessão à Prefeitura de São Paulo. No fim, o deputado encerra a conversa com um pedido: "Qualquer coisa nos reunimos onde? Lá no... escritório do Mantovani?" Tosto concorda: "É, Mantovani... é... sei lá..." Paulinho então dá a localização aproximada do escritório: "É lá na Paulista lá, perto da Paulista." O ponto de referência citado pelo parlamentar condiz com o endereço real da sede da Progus de Mantovani. O escritório fica na Alameda Santos, paralela à Avenida Paulista. Coincidentemente, ali foram encontrados cheques endereçados a "PA" e "RT" - Paulinho e Tosto, segundo Mantovani - referentes à liberação de financiamentos do BNDES à Prefeitura de Praia Grande e às Lojas Marisa. De acordo com os federais, cada um deles recebeu R$ 18.397,50 pela operação da prefeitura e R$ 82.162,93 pela verba destinada à rede varejista. Havia também planilhas que confirmariam a partilha, com as iniciais "PA" e "RT". Paulinho declarou desconhecer Mantovani durante uma entrevista coletiva em que falou abertamente sobre sua relação com os réus da Operação Santa Tereza. A conferência foi convocada por ele próprio para rebater suspeitas que a PF lançou sobre a Meu Guri, presidida por sua mulher, Elza de Fátima Pereira. Na ocasião, o parlamentar buscava esclarecer o depósito de R$ 37.500 na conta da entidade, realizado pelo lobista João Pedro de Moura, seu amigo e ex-assessor, hoje réu da Operação Santa Tereza. Para a PF, o depósito seria uma maneira de lavar dinheiro relacionado às operações do BNDES angariadas por Moura. Além disso, Paulinho argumentou pela legalidade do financiamento de R$ 1,328 milhão do banco estatal concedido à entidade no mesmo período em que Moura fazia parte de seu conselho. No entanto, ao ser indagado se conhecia ou não Mantovani, Paulinho respondeu taxativamente: "Não." A gravação mostra ainda que há inconsistências no depoimento de Mantovani à Justiça Federal, realizado no dia 27 de maio. O consultor, que admitiu que "PA" era Paulinho e "RT" Ricardo Tosto, afirmou estar arrependido de utilizar as siglas para efetuar pagamentos porque seriam "pessoas que não têm absolutamente nada a ver com isso". Segundo ele, os cheques foram entregues nas mãos de João Pedro de Moura. "O João Pedro levou para colocar em projetos que eles têm ou ONGs que ele tem", declarou.Para a PF, outras escutas indicam que Paulinho mantinha contatos com réus da operação.
DEFESA
O advogado de Paulinho, Antônio Rosella, estava na entrevista coletiva sobre o episódio da Meu Guri, em que o parlamentar afirmou desconhecer Mantovani, mas disse não se recordar da declaração do deputado. "Não lembro disso, e também não conheço essa grampolândia", disse, referindo-se à interceptação da conversa entre seu cliente e Tosto. "Não posso comentar. O que você quer que eu diga?"Carlos Kauffmann, defensor de Mantovani, afirmou que "o empresário não conhece Paulinho e a reunião não existiu". Ele repudiou a estratégia da acusação de tentar dobrar os réus com delação premiada. "Mantovani explicou à Justiça item por item, é a mais pura expressão da inocência dele. Mantovani não recebeu do BNDES. Mesmo com todas as buscas e os grampos, não conseguiram provar nada. Agora querem o quê?"José Roberto Batochio, que defende Tosto, afirma que a reunião "nunca aconteceu". Ontem, ele entregou à Justiça Federal a lista de testemunhas de defesa de Tosto - entre as quais três diretores do BNDES que aprovaram os empréstimos sob investigação. "Queremos que esses técnicos digam se em algum momento Tosto fez algum pedido ou interferiu nos procedimentos do banco", desafiou Batochio. Também foram relacionados o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias (governo Fernando Henrique), o embaixador Flecha de Lima, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto (governo Médici) e o desembargador Álvaro Lazzarini.
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TRECHOS DO DIÁLOGO
Tosto: "Por isso até que eu acho que, agora, depois dessaligação, é pra falar pro ministro que você vai fazer uma visita institucional pro presidente do banco"
Paulinho: "É"
Tosto: "Aí você tem uma demonstração e tal. E tem uma coisa que tá andando que inclusive eu vou falar com você amanhã e é muito interessante. Então liga pro ministro e fala: Olha, falei com o Tosto e... e nós vamos fazer uma visita institucional pro presidente?"
Paulinho: "É legal, acho que é bom isso"
(...)
Tosto: "Eu acho isso superbom. Aqui em São Paulo ou no Rio. Aí amanhã o Edu vai pra Brasília, vai te procurar pra falar um negócio"
Paulinho: "Tá bom. Outra coisa que eu ia te falar é o seguinte: pra todos os efeitos eu tou reunido com você agora, tá?
(...)
Paulinho: "Beleza. Qualquer coisa nos reunimos aonde? Lá no...escritório do Mantovani"
Tosto: "É, Mantovani... é... sei lá..."
Paulinho: "É lá na Paulista lá, perto da Paulista"
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Roberto Almeida. Estadão, 0506.

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