Diretores da empresa descartam recontratações e afirmam que corte de 4,2 mil pessoas será mantido O governo não conseguiu reverter as 4,2 mil demissões anunciadas pela Embraer na semana passada. Ontem, diretores da empresa disseram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o corte será mantido devido à redução de 30% na demanda por aviões até 2012, nos mercados interno e externo, e à perspectiva de queda na receita — a previsão para este ano caiu de US$ 6,5 bilhões para US$ 5,5 bilhões. Lula, que marcou a conversa para cobrar explicações, considerou a justificativa “lógica”, segundo relato de um ministro, mas fez questão de ressaltar que não concordava com o fechamento dos postos de trabalho. O presidente insiste na tese de que as empresas ganharam muito dinheiro nos últimos anos. Por isso, teriam reserva em caixa para blindar os trabalhadores dos efeitos nefastos da crise ao menos por um período.
O presidente da Embraer, Frederico Curado, no entanto, culpa o desaquecimento do mercado internacional pelas dispensas. Os países desenvolvidos, de acordo com ele, respondem por mais de 90% da demanda da companhia. “Só poderíamos voltar atrás se houvesse uma retomada das encomendas, o que não está previsto a curtíssimo prazo”. A previsão é que a empresa leve de dois a três anos para recuperar as encomendas, o que descarta a possibilidade de reverter as demissões por férias coletivas, informou Curado. O empresário, no entanto, descartou que sejam feitas novas dispensas.
Além de discordar das demissões, Lula deixou clara a sua insatisfação com o fato de não ter sido avisado previamente da medida. Presente à reunião, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também reclamou do que chamou de “fato consumado”. O Palácio do Planalto queria ter tido a oportunidade de aparecer em público como mediador de uma tentativa de acordo entre a Embraer e os empregados. Se isso ocorresse, mesmo que o acerto não fosse selado, o governo poderia usar o episódio como prova de seu empenho para preservar e estimular o emprego. “Quando a Embraer precisa do governo, bate às portas do Planalto”, disse um ministro, referindo-se a linhas de financiamento e programas de expansão para novos mercados. “Quando lida com uma dificuldade que estourará no colo dos trabalhadores, não procura o governo.”
Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, declarou que Lula não sabia de antemão das demissões, anunciadas na última quinta-feira. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência entoou o mesmo discurso. Em conversa com o Correio, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, admitiu que numa reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), na segunda-feira da semana passada, um líder sindical alertou os presentes para a “perspectiva de demissões na Embraer”. Também ouviram o aviso, dado em meio a um turbilhão de outras informações, os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e do Banco Central, Henrique Meirelles. Coutinho e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participaram da reunião de ontem na qual o governo reafirmou não ter sido informado previamente dos cortes na empresa. Só poderíamos voltar atrás se houvesse uma retomada das encomendas. O que não está previsto a curtíssimo prazo | Frederico Curado, presidente da Embraer |
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