No atrito de ministros com Carlos Minc, do Meio Ambiente, se exibe estilo paternal e protelatório do presidente Lula
NUMA TIRADA característica, o presidente Lula tratou de minimizar os atritos que, durante sua viagem à América Central, voltaram a indispor o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com outros integrantes do governo e com lideranças ruralistas. "Toda vez que o pai sai de casa", explicou o presidente, "a meninada faz mais algazarra do que deveria". Adiantou que logo seriam superadas as divergências entre Carlos Minc e diversos colegas seus de ministério -como, por exemplo, Reinhold Stephanes, da Agricultura, Alfredo Nascimento, dos Transportes, e a "mãe do PAC", Dilma Rousseff. Seria o caso de dizer, em tom jocoso, que o ministro há de se sentir um bocado órfão, com efeito, se tem de lidar com um "pai" como Lula e uma "mãe" como Dilma Rousseff. É que tiradas retóricas e meias-medidas não ocultam o fato de que a proteção ao ambiente está longe de constar entre as prioridades do governo. Sem dúvida, a importância do agronegócio e da mineração na geração de emprego e divisas para o país, assim como a urgente necessidade de investimento em transportes e energia, constituem dados objetivos da atual conjuntura. Embora seja possível conciliá-los com uma estratégia ambiental efetiva, a tarefa está longe de ser simples, e não será resolvida por meio do crônico pendor presidencial para a acomodação política e para o improviso. A "algazarra" a que Lula se refere não começou, de resto, com a sua viagem aos países centro-americanos. As vocalizações do ministro Carlos Minc já vinham alcançando registros de grande estridência antes da ausência de Lula no cenário doméstico. Repete-se, em outro estilo, a situação contraditória que marcou a passagem de Marina Silva pela pasta do Meio Ambiente. No plano internacional, e para acalentar alguns setores da opinião interna, convém ao governo Lula ostentar em seus quadros um nome claramente identificado com a causa ambiental -desde que isso não represente empecilho aos interesses de nenhum outro setor. A lógica de Lula é evitar conflitos e manter as aparências, seguindo o batido figurino varguista que faz o presidente sobrevoar os conflitos da sociedade em pose paternal e protelatória -coisa que sua metáfora sobre a "algazarra da meninada" exemplifica com clareza. Soma-se a isso o confronto entre a ideia ultrapassada de desenvolvimento a qualquer preço e uma atitude doutrinária exacerbada, militante mesmo, presente em alguns escalões inferiores da administração, a qual tende a boicotar por princípio qualquer projeto de infraestrutura importante para o país. É o bastante para que a "algazarra" continue, dentro ou fora do governo. Não diminuirá com as admoestações de Lula, mas sim com ações resolutas de Estado, à altura de uma sociedade contraditória e madura o suficiente para dispensar a tutela paternalista e a rebeldia midiática de quem quer que seja. |
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