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terça-feira, novembro 24, 2009
BRASIL/IRÃ: PROTOCOLOS
SOB PROTESTOS, BRASIL DECLARA APOIO AO IRÃ
DESCONFORTO NO CONGRESSO | ||||||||
Autor(es): Daniela Lima | ||||||||
Correio Braziliense - 24/11/2009 | ||||||||
Recepção fria marca rápida passagem pela sede do Legislativo. Líder atrai críticas de parlamentares e deixa Sarney esperando
No Salão Verde da Câmara dos Deputados, às vésperas de completar 88 anos, o polonês Ben Abraham, sobrevivente dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, também protestava contra o que chamou de “visita lastimável”. “Como um país como o Brasil pode receber um homem que minimiza os danos provocados pelos nazistas e o Holocausto? Ele me ofende. Eu vi a fumaça preta das chaminés dos campos de concentração e senti o cheiro de carne queimada nas minhas narinas”, disse Ben, que está no Brasil desde 1955.
A dificuldade de Ahmadinejad em cumprir a agenda aumentou o clima de tensão. Sua chegada estava prevista para as 15h30. Depois, 16h. Ele chegou às 18h, escoltado por uma comitiva maior do que a que o aguardava. O presidente José Sarney chegou a questionar se o líder iraniano ainda apareceria. Ficou 15 minutos de pé, na porta do Congresso, à espera de que ele chegasse. Foi obrigado a entrar e aguardar mais 20 minutos, sentado. Ahmadinejad ficou menos de uma hora no Congresso Nacional. Em discurso ao lado de Sarney e Temer, evitou polemizar. Não falou dos judeus, mas disse que o povo palestino não poderia pagar pelo que foi feito durante a Segunda Guerra. “Para se ter uma relação de paz, é preciso primeiro conhecer as falhas dessas relações. Sessenta milhões de pessoas morreram na Segunda Guerra Mundial. Um país não pode ser culpado pelo erro de outros. A história não pode parar.” O iraniano falou sobre o fomento das relações comerciais entre o Brasil e o Irã. “Podemos nos ajudar muito nas áreas de energia, tecnologia, transporte e turismo.” Ahmadinejad disse ainda que o povo brasileiro é “amável e pacífico”. O único senador que minimizou o impacto da visita surpreendeu ao falar em favor de Ahmadinejad. Defensor dos direitos humanos, Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que o diálogo é importante para as relações exteriores. “Para o Brasil é importante desenvolver relações com os mais diversos países, ainda que com governos que não estejam na nossa predileção”, disse.
Dia de protesto na Esplanada
Por outro lado, grupos gritavam constantemente a expressão “aqui não”. Para eles, a vinda de Ahmadinejad representa uma ameaça à democracia brasileira. “Um governo que mata mulheres e persegue minorias étnicas não deve se tornar um aliado do Brasil”, comentou o estudante Peterson Vargas, 21 anos. Iradj Eghrari, 53 anos, filho de iranianos, denunciou a perseguição à etnia Bahai, à qual pertence. “Jovens bahais sequer podem frequentar a universidade (no Irã), é inadmissível o governo continuar perseguindo meu povo assim.” O iraniano Shabedduz Bezshkzad, 65 anos, no Brasil desde os 33 anos, contou que saiu de seu país por perseguições político-religiosas. “Eu também sou da etnia Bahai, minha casa foi invadida, eu apanhei de agentes do governo, tive de fugir para continuar vivo”, contou.
No fim da manhã, um grupo de idosos sobreviventes do holocausto se juntou aos manifestantes. O polonês Bem Abraham, 89 anos, ironizou a polêmica afirmação de Ahmadinejad, que questionou a existência do massacre de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. “Eu passei cinco anos e meio em campos de concentração nazistas. Se o presidente do Irã acha que isso não aconteceu, eu vou contar para ele o que passei em Auschwitz”, afirmou. Os protestos continuaram à tarde. Um grupo de pessoas em cima de um trio elétrico gritava ao microfone: “Não desejamos a violação dos direitos humanos. Não queremos aqui alguém que não respeita os direitos humanos”. Faixas traziam mensagens contra o governo iraniano. “No Irã apedrejam as mulheres. Aqui, não! No Brasil, não!”, dizia uma delas. O estudante de ciência política Mateus Lôbo segurava um sapato, lembrando o gesto do jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi, que atirou o calçado contra o ex-presidente Geoge W. Bush no ano passado. “Não vou jogar o sapato. É só para provocar”, garantiu. “O encontro do Lula com ele é a decadência da política externa brasileira”, avaliou. ----------- |
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