Em visita de Ahmadinejad, brasileiro diz apoiar produção de urânio para fins pacíficos e faz cobranças ao iraniano
Durante a visita de seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o direito de o Irã ter um programa nuclear. "O que temos defendido há muito tempo é que o Irã possa produzir urânio para desenvolvimento de energia", afirmou Lula.
Ahmadinejad culpou a "propaganda" das potências ocidentais pelo impasse nas negociações sobre a possibilidade de o Irã enriquecer urânio em outro país e afirmou que essa proposta de acordo nuclear partiu dele.
No encontro, Lula repetiu cobranças da comunidade internacional ao iraniano. "Repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo", disse o brasileiro, que também defendeu a existência de um Estado israelense e outro palestino, à qual Ahmadinejad se opõe.
O presidente do Irã, que chamou Lula de ""bom amigo", evitou polemizar, mas foi mais incisivo em visita ao Congresso, onde atacou o Conselho de Segurança das Nações Unidas e organismos como o FMI. A visita provocou protestos em Brasília e outras cidades. Brasileiro defende a solução de dois Estados para a questão israelo-palestina
Iraniano diz no Congresso Nacional que defende um assento permanente para os brasileiros no Conselho de Segurança da ONU Sergio Lima/Folha Imagem | | Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e Lula conversam durante entrevista coletiva no Palácio do Itamaraty, em Brasília SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o direito de o Irã desenvolver seu programa nuclear, mas aproveitou ontem a presença de Mahmoud Ahmadinejad no Brasil para transmitir ao colega cobranças quase unânimes da comunidade diplomática. Sob os olhares atentos da imprensa mundial, Lula recorreu à linguagem diplomática para deixar claro que o Brasil, embora busque as melhores relações possíveis com o Irã, tem ressalvas em relação a algumas posições do presidente iraniano. "A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade. Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha de nossos cidadãos e cidadãs com a mesma veemência com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo", disse Lula. A declaração mescla críticas veladas à atuação interna do regime iraniano, acusado de oprimir liberdades individuais e de ferir direitos humanos, e às posições do Irã no Oriente Médio, onde apoia grupos considerados terroristas pelo Ocidente. Lula também ecoou em público pedido feito na sexta-feira em Salvador pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, para que intercedesse junto a Ahmadinejad pelo fim do apoio iraniano ao grupo palestino Hamas, rival de Abbas. O líder da ANP argumentou que as divisões palestinas acabam servindo aos interesses de Israel e dificultam a criação de um Estado palestino, tese que foi endossada ontem por Lula. Ele também deixou claro que repudia a hostilidade aberta de Ahmadinejad a Israel, manifestada reiteradas vezes. "Defendemos o direito do povo palestino a um Estado viável e a uma vida digna, ao lado de um Estado de Israel seguro e soberano", disse Lula, que confirmou que visitará o Irã até maio do ano que vem. Em sua fala, Ahmadinejad, que se referiu três vezes a Lula como "bom amigo", evitou polêmicas. Mais tarde, porém, o iraniano foi mais enfático. Longe de Lula, durante visita ao Congresso Nacional, Ahmadinejad criticou o Conselho de Segurança da ONU (CS) e organismos internacionais, como o Banco Mundial e o FMI. Após ouvir palavras pedindo paz de deputados e senadores, disse que todos esses órgãos falharam em suas missões. "A estrutura principal do CS é contra a paz porque é baseada na discriminação. Por que alguns países têm direitos de veto? Basta olhar para os conflitos no mundo nesses 60 anos e teremos a intervenção destes países, que nunca foram julgados. Foram mortas milhares de pessoas, e os autores destes males no mundo têm direito a imunidade", disse sem citar os titulares do veto: EUA, China, Rússia, França e Reino Unido. Ahmadinejad ainda defendeu que o Brasil passe a integrar de forma permanente o CS e enfatizou que os palestinos não foram responsáveis pelas mortes da Segunda Guerra.
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