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terça-feira, novembro 24, 2009

PT/PROCESSO DE ELEIÇÃO DIRETA: O QUE MUDOU?

O PED e o torto reencontro do PT com sua história

Valor Econômico - 24/11/2009

O Processo de Eleição Direta (PED) do PT, realizado no domingo, escolheu os dirigentes que estarão à frente do partido na disputa por um terceiro mandato na Presidência da República, a primeira eleição presidencial dos últimos 20 anos que não é disputada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se a ausência de Lula na disputa presidencial é um dado novo para o partido - um fato imposto pela proibição constitucional de mais de uma reeleição para o cargo -, a restauração do status quo partidário anterior a 2005, quando o escândalo do mensalão derrubou as lideranças consolidadas do partido, anda a passos largos.

Pela porta de entrada da chapa da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), de José Eduardo Dutra - candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiado por três grupos que, somados, correspondem ao antigo Campo Majoritário de José Dirceu - devem retornar à direção do partido o ex-ministro da Casa Civil; José Genoíno, outro ex-presidente da legenda; e os deputados José Mentor e João Paulo Cunha. Todos são paulistas. Segundo as regras do PED, as chapas ao Diretório Nacional terão dirigentes em número proporcional aos votos obtidos - foram votados separadamente o presidente e os membros do Diretório. Uma vez constituído o órgão diretivo do partido, ele escolherá os integrantes da Executiva Nacional, também seguindo o critério da proporcionalidade dos votos. As chapas mais votadas ocupam, pela ordem, os cargos mais importantes da Executiva, como aconteceu em 2007, quando o segundo colocado no PED, o deputado José Eduardo Cardozo, ficou com o segundo cargo em importância, a secretaria-geral.

A CNB caminha para ser a mais votada, tanto na disputa pela Presidência como na do Diretório. Deverá caber a ela, portanto, maior representação no Diretório e na Executiva. Essa é a reentrada triunfante dos ex-dirigentes na máquina partidária. Dutra não esconde que o partido conta com eles para organizar as eleições de 2010 - quando entra em cena a ministra Dilma Rousseff, escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a sua sucessão ao Palácio do Planalto -, em especial com o ex-ministro José Dirceu. "Como presidente do PT, ele [Dirceu] conduziu o processo de eleição do presidente Lula com autoridade. É claro que não podemos abrir mão dessa experiência nesse processo da Dilma", declarou Dutra. A declaração, feita no final do processo eleitoral interno, tinha preferencialmente o público interno do partido como alvo. Isso quer dizer que não apenas as direções se preparam para reintegrar as pessoas que jogaram o partido na sua mais grave crise devido a métodos pouco ortodoxos adotados para captação de fundos eleitorais, como isso parece ser desejável para as centenas de milhares de militantes que foram às urnas e que apoiaram majoritariamente o CNB.

As direções e as bases partidárias fazem um claro movimento no sentido de reinterpretar a história do mensalão, que deixaria o status de grande erro a não ser repetido no futuro para figurar na galeria das graves injustiças cometidas contra o partido. Lula deu o mote no início do mês, quando, em entrevista à Rede TV!, disse que, na época, teria recebido um alerta de que a oposição preparava um processo de impeachment. O episódio do mensalão, disse ele, seria uma armação para apeá-lo do poder. Em Brasília, quando compareceu à votação do PED, a ministra Dilma também minimizou o episódio. "Até agora nós não temos nenhuma dessas pessoas julgadas ou condenadas em definitivo, então, acho normal que elas exerçam os seus direitos políticos", afirmou.

A guinada de todo um partido em direção à negação de sua própria história - ou a reconstrução dela, de forma a minimizar graves erros do passado - refletiu-se também na maior chapa de oposição. Cardozo, que deve ser pelo segundo PED o segundo colocado na disputa, evitou claramente o confronto. Ele foi candidato em 2007 do grupo, apoiado pelo ministro Tarso Genro, que defendia a "refundação" de um partido que teve seus alicerces abalados por questões éticas. E disse acreditar que o partido fez a sua parte para o futuro, ao aprovar um Código de Ética que punirá com rigor futuros deslizes. Apenas os futuros.


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