No fim do ano passado, o Brookings Institute, respeitado think-tank (instituição sem fins lucrativos cujo objetivo é debater e formular ideias) americano lançou um livro para analisar o atual momento do Brasil. Brazil As An Economic Superpower? Understanding Brazil"s Changing Role In The Global Economy (Brasil Superpotência? Entendendo o Papel de Mudança do Brasil na Economia Global, em tradução livre) foi coordenado pelo diretor para América Latina do Instituto, Mauricio Cárdenas.
O colombiano, que já foi ministro do Desenvolvimento Econômico e dos Transportes de seu país, conversou ontem com o Estado sobre a posição do Brasil no mundo e seus desafios. Ele esteve em São Paulo para participar de um evento da Votorantim Metais.
O Brasil tem elementos para ser uma superpotência?
Sim, mas é preciso qualificar esta resposta. Depende do que considerarmos como superpotência. Se pensamos na importância dos setores agrícola e energético e na biodiversidade, ninguém questiona que se trata de uma superpotência. Mas isso não é o que normalmente se associa a uma superpotência. Superpotência é um país que tem influência global - na agenda política, na agenda cultural e na agenda econômica. Também se associa superpotência à área militar e, em alguns casos, ao fato de ter armas nucleares. Em certo sentido, o Brasil está na estrada para se converter em superpotência, mas não chegou lá.
Os analistas internos são muito mais críticos com o Brasil do que os externos. Por quê?
É mais fácil conquistar mérito no exterior do que no próprio país. A percepção internacional, por definição, costuma ser pintada com brocha. A percepção interna é algo que se faz com mais detalhes. Sempre é mais importante ouvir esse "pincel", essa letra fina, que é a análise interna. Essa avaliação próxima mostra a dualidade do Brasil. Há um lado moderno, representado pelas multinacionais brasileiras, etc. - que é ajudado pela imagem pessoal de Lula. De outro lado, há a realidade que chamo de "Brasil latino-americano", que tem uma série de problemas comuns à região. Entre eles, a informalidade, a qualidade da educação, etc. O Brasil moderno só prevalecerá se os temas internos forem resolvidos.
Qual parte vai prevalecer?
Depende da política. Nada está ganho. O País teve 16 anos de governos muito competentes, que o transformaram. Agora é preciso construir sobre isso. Como construirá e se vai construir dependerá das opções que os brasileiros farão politicamente.
Os principais candidatos à presidência estão em bom caminho?
Não conheço detalhes das propostas. Mas creio que o Brasil requer continuidade em certos aspectos, mas mudanças em outros. Uma delas é no relacionamento comercial com o resto do mundo. O Brasil é um país relativamente protecionista, mas, cada vez mais, seu crescimento vai depender de remover obstáculos nos mercados internacionais, notadamente na Europa e nos EUA. O Brasil precisa disso para dar impulso grande à agricultura e para poder ser competitivo com suas manufaturas. Se não fizer isso, vai perder mercados agrícolas no mundo e manufatureiros para a China. Diferentemente da China, para o Brasil, é indispensável que as manufaturas possam entrar nos EUA em condições atrativas. Do contrário, o Brasil terá mercado doméstico forte e exportações essencialmente de commodities. Não é uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo.
O Brasil corre o risco de desindustrialização?
Sim, e já a está vivendo. O Brasil está se desindustrializando e se "commoditizando". Se compararmos os Brics, China e Índia estão se industrializando, enquanto o Brasil está se desindustrializando. Qual é o modelo? A China e a Índia produzem as manufaturas para os mercados globais e o Brasil produz as matérias-primas. Pode-se ter uma estratégia bem- sucedida como produtor de commodities, como a Noruega e o Chile. Mas, para uma economia tão grande como o Brasil, provavelmente seria melhor ter um sistema de desenvolvimento muito mais balanceado.
Como sair dessa armadilha?
É preciso compensar a perda de competitividade decorrente do real valorizado com (1) investimentos em infraestrutura e (2) acesso preferencial a os mercados de EUA e Europa.
Como vê as propostas de mexer na taxa de câmbio?
O Brasil não deve mexer nos fundamentos econômicos.
Qual é o risco de ser o "queridinho" dos mercados?
Com os mercados, é sempre importante ter reservas. Assim como se apaixonam, se desapaixonam rapidamente.
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