O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), travaram uma disputa de programas ontem, durante a
inauguração da fábrica de máquinas agrícolas da Case New Holland, em Sorocaba.
Diante da cúpula mundial do grupo Fiat, detentor da marca, o presidente e a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à sucessão, apontaram projetos do governo federal - como o Programa de Aceleração Econômica (PAC), o Mais Alimentos, que financia tratores para a agricultura familiar, e o Minha Casa Minha Vida, de financiamento de casas (veja texto na página A8) - como responsáveis por evitar que a crise internacional provocasse maiores estragos no País.
Serra, por sua vez, invocou investimentos em programas habitacionais, na geração de empregos e na formação profissionalizante, o que teria contribuído para a decisão da Case de retornar para São Paulo - uma unidade menor foi fechada há dez anos.
O tucano destacou que o governo estadual contribuiu para a superação dos efeitos da crise. "São Paulo conseguiu manter o nível de investimento em 2009, que foi o mais elevado da nossa história."
No primeiro evento em que Serra e Dilma se encontraram depois que a ministra assumiu a pré-candidatura - e depois de seu crescimento na pesquisa do instituto Datafolha -, foi Lula quem se portou como candidato. No interior da fábrica, abraçou os funcionários e foi ovacionado. Fez questão de examinar peças e apanhar um bico de solda, mostrando sua familiaridade com processos industriais. Depois, subiu numa colheitadeira, ao lado do presidente mundial da Fiat, Sérgio Marchionne. Serra repetiu o gesto em seguida, mas sozinho.
Nos discursos, o presidente e o governador procuraram assumir a "paternidade" da fábrica, que custou R$ 1 bilhão e vai gerar 6 mil empregos diretos e indiretos. Dilma disse que o programa de financiamento de tratores do governo Lula "não deixou que a crise nos abatesse e beneficiou de uma forma especial São Paulo".
Lula comparou a inauguração da indústria ao nascimento de uma criança e, de forma indireta, defendeu a continuidade de sua administração. "Se não dermos sequência ao que vem acontecendo no Brasil para ela vender mais, da mesma forma que abriu, ela fecha as portas."
Depois de dizer que a arte de governar é fazer o óbvio, o presidente destacou que o País vive um momento ímpar e fez coro a Dilma, que atribuiu o sucesso da economia ao consumo de 190 milhões de brasileiros. Ele alfinetou governos anteriores por "não agir com simplicidade" e disse que, depois de muitas décadas perdidas, o Brasil tem a oportunidade de se transformar na quinta economia mundial. "A diretoria do grupo Fiat compreendeu que a economia e a política do Brasil são sérias e que, se nas outras crises o Brasil tinha quebrado, agora estava mais sólido para enfrentar."
Usando um tom mais político do que em outras ocasiões - e destacando que viveu a infância em uma vila operária de São Paulo -, Serra disse que a contribuição do governo estadual para o investimento do grupo Fiat foi decisiva. "Incluímos (a empresa) no programa Pró-Veículos, que utiliza os créditos acumulados de ICMS." Já foram usados R$ 47 milhões, mas, no total, segundo ele, serão R$ 117 milhões. "É um incentivo direto", pontuou. Segundo ele, a empresa se beneficiou do Pró-Trator, programa estadual que está financiando tratores para 4 mil produtores agrícolas.
Mais tarde, ao discursar para uma platéia de administradores do Banco do Brasil, Lula deu mostras de que não teme o potencial eleitoral de Serra. Ao citar a negociação comandada pelo BB para comprar o banco paulista Nossa Caixa, em 2009, disse que é um exemplo de que não se deixa levar pela "mesquinharia política".
"Muita gente não queria que comprássemos. Por que o Lula vai comprar a Nossa Caixa em um ano que antecede as eleições? Vai colocar R$ 6 bilhões na mão de um possível candidato a presidente da República? De uma pessoa que vai disputar a eleição?", provocou. "Não vamos truncar as possibilidades do Banco do Brasil por mesquinharia política."
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