A oposição acredita que o aumento no preço dos combustíveis é um bom tema para tentar desgastar o governo e tem razão. Tanto é que o PT já está pedindo à Fazenda que ajude a montar o antídoto
Pronto. A oposição reclama que não tem discurso? Acaba de ganhar um, o preço dos combustíveis. Políticos oposicionistas atentos ao noticiário durante a Páscoa perceberam: os jornais se revezaram em mostrar que a situação nesse campo se deteriorou. No interior de São Paulo e em Brasília, o preço do litro de gasolina superou a marca dos R$ 3. E não adianta o consumidor fugir para o álcool, uma vez que o preço também está nas alturas. Ou seja, o sujeito que comprou seu carro flex com IPI reduzido nos últimos anos agora vai gastar toda a economia daqueles tempos para abastecer o automóvel.
O pano de fundo de toda essa história dá para a oposição fazer um carnaval. Mostra, por exemplo, que o governo ao estimular a indústria automobilística para sair da crise não se preocupou com o essencial: abastecer esses carros. Basta ver que, os dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), reproduzidos ontem em O Estado de S.Paulo, apontam um aumento de 8,8% na produção de gasolina. Ocorre que o consumo subiu duas vezes mais, 17,4%.
O governo põe a culpa na entressafra do etanol, que elevou o preço do produto e fez os consumidores de carros flex migrarem para a gasolina. E aí, com a crise no Oriente Médio e o aumento do consumo, os preços subiram. Mas a oposição acha — e com razão — que o governo tem sua parcela de culpa nessa situação. No mínimo, faltou planejamento. E agora todos os consumidores vão pagar essa conta.
Se fosse apenas o custo de abastecer o próprio carro ainda vá lá. Mas, sempre é bom lembrar que, nos tempos de hiperinflação, sempre que o governo anunciava um aumento no preço dos combustíveis, os demais preços seguiam no mesmo teleférico morro acima. Isso porque o custo do transporte das mercadorias ficava mais elevado e o empresariado descontava no bolso do consumidor.
A situação do Brasil não mudou de 30 anos para cá no que se refere a custo de transporte de mercadorias. Continuamos transportando muito mais por rodovias do que por ferrovias. Embora todos os partidos tenham falado em ampliar o número de ferrovias e reduzir o de caminhões movidos a derivados de petróleo, isso não ocorreu. Tudo bem que hoje não existe hiperinflação. Mas a inflação preocupava as autoridades antes da gasolina ultrapassar a barreira dos R$ 3. E há quem diga que esse ingrediente coloca as preocupações com a economia numa oitava acima. E, como se não bastasse os preços elevados, ainda corre o risco de faltar gasolina. “Apagão”, comentavam especialistas ouvidos pela imprensa no fim de semana, deixando do jeito que a oposição gosta.
E por falar em oposição,
os deputados colocam mais um ingrediente político para trabalhar nesse tema: Energia é o assunto da presidente Dilma Rousseff. Ela saiu do Ministério de Minas e Energia para a Casa Civil, onde planejava todo o governo. Na campanha presidencial, seu nome foi vendido como “excelência em planejamento e metas”. E a situação dos preços dos combustíveis mostra que, nessa área, o planejamento falhou.
A partir dessa semana, os oposicionistas vão monitorar os preços no supermercados. Se sentirem que começou a subir muito, será mais um ponto a ser explorado. Eles acham que esse aumento da gasolina pode ser o início de um processo para desvendar à população, o que sempre consideraram incompetência e falta de cuidado do governo. Pelo visto, a Páscoa deixou a oposição com esperanças renovadas. Só não se sabe até quando.
E por falar em esperanças,
o PT sabe do teor explosivo que esse assunto tem diante da opinião pública. Essa questão de preço dos combustíveis afeta a todos, sem distinção. Do mais pobre, que acaba pagando a lotação ou o ônibus mais caro, e a tal classe média que todos almejam conquistar. Por isso, para a reunião do diretório do partido, nesta sexta-feira em Brasília, está programada uma palestra do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para explicar e traçar o cenário econômico a partir das novas premissas. Os petistas esperam, no mínimo, conseguir um discurso para rebater as acusações da oposição. Afinal, se a oposição obrigar o governo a beber gasolina, os petistas querem estar preparados para tomar um antídoto.
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