A presidente Dilma garante que o governo vai virar o jogo do sistema produtivo, hoje perdedor. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aposta em que, até o fim do ano, o PIB do Brasil voltará à velocidade de 4% a 5% ao ano apenas em consequência do impulso proporcionado pelos sucessivos pacotes de incentivo, turbinados pela redução dos juros e pela desvalorização cambial, ambas da ordem de 20%.
Será? Como os motores da indústria e do resto da economia continuam a girar em falso, conforme ficou reforçado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio, divulgado ontem (veja o Confira); como já há sinais de superendividamento em segmentos importantes do consumo; e como a economia global seguirá por muito tempo afundada na crise; não há elementos suficientes para acompanhar a aposta do governo.
Mas não sejamos ranzinzas. Vamos acreditar em que a presidente Dilma e o ministro Mantega têm muito mais elementos para prever melhor e para apostar na melhor opção. Isso posto, aceitemos que a projeção deles está correta e que, antes do final do ano, os indicadores apontarão para cima. Aí caberia a pergunta seguinte: esse crescimento mais vigoroso será sustentável ou tudo não passará de mais um medíocre voo de galinha?
Infelizmente, ainda não há razões para sustentar a hipótese de retomada forte. Por enquanto, o risco maior é o que foi denunciado na terça-feira pelo presidente do Goldman Sachs Asset Management, Jim O'Neill, de que os Brics possam perder o B do acróstico.
É o próprio ministro Mantega que vem sustentando que a paralisia do sistema produtivo do Brasil se deve ao agravamento da crise externa - que tem tudo para perdurar por mais alguns anos. Ela estaria amarrando os investimentos do setor privado. Ora, se o panorama econômico atual persistirá - como adverte o governo -, sua ação sobre o sistema produtivo brasileiro também.
Aos poucos vai sendo formado o consenso de que o bloqueio não está propriamente no desempenho da economia global, mas nos cada vez mais insuportáveis custos estruturais: imposto demais, energia cara demais, burocracia, infraestrutura deficiente, etc.
Isso já era assim antes e, no entanto, não foi até recentemente obstáculo suficiente para estancar o setor produtivo. Verdade. Só que é aí que entra a crise global, que baixou os preços do produto concorrente. Afora isso, em todo o mundo os governos seguem distribuindo incentivos. Os cofres estão sendo franqueados para distribuir às empresas subsídios, crédito farto e barato. E o desemprego concorre para reduzir o custo da mão de obra. Ou seja, ainda que venha respondendo com políticas protecionistas, o governo Dilma não consegue fazer o suficiente para incrementar a capacidade de competição da indústria brasileira. O setor têxtil, por exemplo, bem que vem conseguindo arrancar do governo medidas que contenham em alguma coisa a entrada do produto importado. Mas não consegue exportar nem para os sócios do Mercosul, até porque o governo vem tolerando as travas comerciais da Argentina.
Um depois do outro, analistas pedem do governo reformas estruturais. Mas a resposta obtida é essa política de puxadinhos feita de improvisações e distribuições de cala-bocas. Sem estratégia, não há voo de longo alcance.
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