...
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2012/07/05/em-solenidade-oficial-maluf-beija-mao-de-dilma/
Convertido pelo PT em herói da resistência na cidadela paulistana,
Paulo Maluf levou ao seu álbum particular uma fotografia com aparência
de troféu. Duas semanas depois de posar ao lado de Lula, o neoalidado
cavou uma nova imagem insólita.
Deu-se ne
sta quarta-feira (4), em ato oficial realizado no Planalto.
Convocada pelo cerimonial da Presidência para que Dilma Rousseff
anunciasse com pompa um plano para a safra da agricultura familiar, a solenidade tropeçou nas circunstâncias.
Além de adensar a platéia, Maluf achegou-se à anfitriã depois de
apaudir-lhe o discurso. Reverenciou-a à moda dos antigos fidalgos,
pespegando-lhe um beijo na mão. Por mal dos pecados, os fotógrafos
eternizaram a coreografia.
Em tempos de Comissão da Verdade, a imagem desce à crônica dos dias
que correm como símbolo dos novos tempos: o apoiador da ditadura militar
e a torturada reunidos em carinhosa confraternização!
No caso de Lula, a aproximação com Maluf materializou apenas uma
incoerência. Uma evidência de que já não há culpados no Brasil, apenas
cúmplices. No caso de Dilma, a metamorfose é mais profunda.
Maluf era prefeito de São Paulo quando a Oban (Operação Bandeirante)
deu seus primeiros passos na cidade. Sob estímulos do comando do 2o
Exército um major chamado Waldyr Coelho azeitou, em 1969, a engrenagem
que recebia e interrogava, sob suplícios, os suspeitos de atividades
terroristas.
Num dos volumes em que dissecou esse período da história (A Ditadura
Escancarada, Cia. das Letras), o repórter Elio Gaspari conta que “o
major Coelho fazia tempo pensava em transferir o seu porão para outra
sede, onde tivesse mais segurança e, sobretudo, discrição.”
Reportando-se às ‘Memórias de um soldado’, obra do general Ernani Ayrosa da Silva, que assumira as rédeas do 2o
Exército em maio de 1968, Gaspari relata que a burocracia de Brasília
dera sinal verde ao empreendimento do major Coelho –“desde que ele
conseguisse equipar o quartel sem pedir dinheiro à caixa” do Ministério
do Exército.
A cereja desse pedaço do bolo servido no livro de Gaspari vem no
seguinte trecho: “O prefeito da cidade, Paulo Maluf, asfaltou a área do
quartel, trocou-lhe a rede elétrica e iluminou-o com lâmpadas de
mercúrio. O governador Roberto de Abreu Sodré cedeu-lhe espaço numa
delegacia na esquina das ruas Tomás Carvalhal e Tutóia, a cinco minutos
do QG do Ibirapuera, para que nela fosse instalada a Oban.”
Quer dizer: na tarde seca de uma Brasília inacreditável, uma Dilma
impensável teve a mão beijada por um Maluf que, insuperável na sua
capacidade de reposicionar-se em cena, ajudara a asfaltar e iluminar um
dente da engrenagem repressora que moeria a ex-guerrilheira que hoje
despacha no Planalto e seus companheiros de armas.
---
Nenhum comentário:
Postar um comentário